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Jovem reconstrói vida em SP após fugir da violência na República Democrática do Congo

Saiu no site ONU BRASIL

 

Veja publicação original: Jovem reconstrói vida em SP após fugir da violência na República Democrática do Congo

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Relato da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) detalha a rotina de Lucia, de 20 anos, obrigada a deixar a República Democrática do Congo três anos atrás com sua família devido a perseguições. Hoje, a jovem vive no Capão Redondo, bairro periférico da capital paulista, onde tenta reconstruir sua vida.

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Aos 17 anos, Lúcia levava uma vida segura em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDC). Sua rotina se resumia a caminhar de casa para a escola e vice-versa. Aos domingos, ia para a igreja. Naquela época, essa realidade parecia inabalável.

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Seu pai, formado em Finanças, trabalhava como funcionário público, e sua mãe, formada em Relações Públicas, também atuava na área. A vida da família era como a de muitas outras de classe média na RDC, e a pobreza aparentava ser algo distante.

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Hoje, a situação humanitária na RDC é uma das mais complexas e desafiadoras do mundo. São múltiplos conflitos que afetam várias partes de seu vasto território. Mais de 4,5 milhões pessoas estão deslocadas dentro do próprio país e não podem voltar para casa por conta da violência.

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Lucia, hoje aos 20 anos, admite ter saído do país sem entender exatamente o que acontecia. Fugindo de ameaças de morte e perseguição política, seus pais decidiram que a única alternativa era fugir com a roupa do corpo, em busca de segurança. Na época, ela era nova demais para entender a decisão.

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“Quando cheguei aqui, não acreditava que um dia iria falar português. No início, eu ainda estava em choque, não conseguia aceitar a situação. Tive que deixar tudo na minha casa.”

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Para entender sua própria história, Lucia foi, aos poucos, juntando fragmentos de memórias. Lembrou que, em uma noite, ao voltar da igreja, a família foi perseguida. A casa assaltada e revirada motivou a contratação de seguranças.

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Em seguida, a família recebeu ameaças por telefone e teve que passar três semanas na casa de uma tia. Logo depois, em vez da escola, as crianças foram levadas para o aeroporto. “Nós crianças não éramos envolvidos nos assuntos dos adultos”, declarou Lucia.

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Ela descobriu posteriormente que seu pai havia tentado levar a família para a França ou para a Bélgica. As tentativas de visto foram frustradas. Foi então que decidiram viajar ao Brasil. O pai já conhecia o país e sabia que havia uma política favorável de visto humanitário.

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No entanto, ao chegarem ao país, não conseguiram emprego. A vida foi muito difícil por pelo menos dois anos. “Quando chegamos, o sonho virou pesadelo. Quando você sai de um país, deixa sua vida boa, acha que vai ser mais feliz, vai encontrar coisas melhores. Por mais de um ano, dependíamos da ajuda das pessoas para comer e nos vestir. Nos ajudaram muito. Mas, um dia, a ajuda acabou”.

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Hoje, Lucia mora com a família no térreo de uma casa de três quartos no Capão Redondo, sudoeste da capital paulista. No fogão, a mãe mistura farinha de mandioca e de milho para preparar o tradicional “fufu”, versão congolesa do nosso angu.

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O cheiro de folha de mandioca refogada toma conta da casa. A mãe compra as folhas, trazidas por outras famílias congolesas, no Braz, centro de São Paulo. Não existe nada como o gosto de casa. “Meu pai sente muita falta. Ele ainda tem a esperança de um dia poder voltar”, declarou Lucia.

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Na sala, ele assiste a um canal de notícias da RDC online, e o francês dos jornalistas ecoa para a vizinhança. É difícil desapegar de velhos costumes. Isso também ficou evidente quando Lucia e sua irmã começaram a trabalhar para sustentar a família. Na RDC, culturalmente, é papel do homem prover o sustento da casa. Na maioria das vezes, as mulheres não têm voz.

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“No início, meu pai não aceitou essa situação, ficou doente, e minha mãe não falava muito, apenas tentava nos motivar. Isso me determinou a arrumar um emprego. Se todos estavam no chão, eu tinha que fazer alguma coisa. Ficamos quase dois anos nessa situação.”

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Encontrar emprego não foi fácil. A situação da família sensibilizou parceiros da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). Lucia e sua irmã foram convidadas a participar do “Empoderando Refugiadas”, projeto de empregabilidade apoiado pela agência das Nações Unidas. Isso mudou a vida de toda a família.

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“Eu não tinha esperança, mas resolveram nos ajudar. Ficavam com pena da gente, nove pessoas em uma casa e ninguém trabalhava. Não desisti. Me encaminharam para um curso de atendimento e depois fui contratada. Minha irmã também.”

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Lucia trabalha agora como caixa em uma loja de departamento. Ela é formada em Recursos Humanos e faz uma pós-graduação em Psicologia Organizacional. Para sustentar a família, enfrenta uma jornada cansativa de trabalho e aulas. São três conduções apenas para chegar ao trabalho.

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“Hoje em dia, tudo mudou. Sou mais madura e tento fazer o melhor para a minha família. Quero que meus pais vejam que eles não perderam nada. Meu pai gastou tudo o que tinha para virmos para o Brasil.”

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Apesar de terem chegado ao país em 2015, os nove integrantes da família ainda aguardam receber do governo federal o status de refugiados. Com ele, as irmãs poderiam acessar a universidade com mais facilidade, por meio de vagas destinadas a essa população. A expectativa é de que não terão tanta dificuldade em encontrar emprego, para finalmente seguir em frente com suas vidas.

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“Estou realizando meu sonho aqui. Não acredito que eu realizaria lá. Minha vida lá já estava planejada pelos meus pais”, disse Lucia.

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No Brasil, o ACNUR apoia cursos de português, serviços de revalidação de diploma, de documentação e abrigo por meio de parceiros locais. A agência da ONU atua para que as famílias se integrem e tenham a chance de viver em melhores condições.

 

 

 

 

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