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Como uma gestão “feminina” pode mudar companhias

Saiu no site VALOR

 

Veja publicação original:  Como uma gestão “feminina” pode mudar companhias

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Por Isabel Berwick

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Depois que Deborah Hargreaves começou a conversar com grupos de mulheres para seu novo relatório sobre o que seria uma corporação “feminina” e o que as mulheres mudariam no local de trabalho se pudessem, ela constatou que algo havia mudado no seu próprio ponto de vista. “Quanto mais eu pensava nisso, e conversava com as pessoas a respeito, mais bizarra a coisa parecia.”

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Hargreaves, uma ex-jornalista veterana do “Financial Times” e do “Guardian”, além de fundadora do High Pay Centre, um centro de estudos que monitora a remuneração executiva, ganhou uma bolsa da Friends Provident Foundation para passar um ano compilando seu estudo. Suas constatações oferecem um manifesto pela mudança com dez recomendações sobre como uma abordagem à vida profissional orientada para as mulheres pode criar empresas melhores para o futuro – e em troca tornar a economia mais justa para todos.

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No decorrer de suas conversas com mais de 150 mulheres em uma variedade de situações de trabalho no Reino Unido, ela percebeu o quanto grande parte das empresas são estranhas e divergem da vida moderna. “Toda a experiência das mulheres no local de trabalho é completamente bizarra de uma maneira que precisamos nos desculpar para cuidar dos nossos filhos e fingir que estamos totalmente engajadas no trabalho 100% do tempo. “Certamente deveríamos reconhecer: estamos cuidando de outra geração ou cuidando de pessoas vulneráveis de nossa própria geração?”

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“Arranjar desculpas” é algo que muitas mães reconhecem. Mentir sobre uma consulta médica para participar de eventos escolares; acobertar uma doença de um filho alegando que você mesma está doente; remover as fotografias dos filhos da mesa porque um diretor proibiu isso. Essas são situações pelas quais muitas mulheres já passaram e representam apenas alguns dos poucos ultrajes e artifícios usados para manter a cabeça fora d’água e parecer “profissional” no local de trabalho.

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Deborah Hargreaves espera que seu estudo venha a ajudar a promover uma mudança radical de atitudes. A principal conclusão de “Women at Work: Designing a Company Fit for the Future” é que as empresas precisam reconhecer as responsabilidades domésticas das mulheres. Como coloca o relatório: “A organização colocaria os cuidados com os filhos, parentes e pais em seu centro”.

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Outra grande recomendação inclui um foco na semana de quatro dias de trabalho, horários flexíveis, home office e trabalho compartilhado – para homens e mulheres, em todos os níveis das empresas.

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Hargreaves entrevistou profissionais inovadores que compartilham o trabalho, incluindo um grupo de três pessoas que dividem a mesma função, um casal que faz o mesmo e duas mulheres experientes que continuaram a compartilhar o trabalho mesmo depois de mudar de empresa. “Minha visão é que todos os tipos de trabalho podem ser feitos em período parcial e de forma compartilhada”, afirma Hargreaves. “Você precisa pensar de maneira criativa – tirar algumas coisas [da descrição das funções]. Todos os trabalhos poderiam ser feitos de maneiras diferentes.”

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Sua explicação do por que as mulheres ainda se sentem culpadas por ter responsabilidades domésticas está enraizada na estrutura do local de trabalho: “O trabalho sempre foi um território dos homens, um lugar completamente separado para onde eles vão, quase para fugir da família – e as mulheres chegaram ao local de trabalho mas não houve um movimento para nos acomodar. É certo que somos reconhecidas, mas porque não avançar mais nisso?”.

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Ela diz que todos precisam exigir mais e não se envergonhar de ter uma vida e responsabilidades fora do trabalho. “Acho que os cuidados domésticos vêm em primeiro lugar. Partindo disso, você pode virar as coisas de ponta cabeça e olhar para elas de outra maneira. Uma vez que você tenha feito isso, essa nova visão se torna normal.”

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Embora haja evidências de que muitos pais querem hoje assumir uma participação maior nos cuidados domésticos, e isso deverá ajudar a acelerar a compreensão do trabalho flexível e outros desafios, a realidade é que o fardo – da prestação de cuidados a pais idosos, inclusive – recai sobre as mulheres, com danos consequentes às suas carreiras e o fenômeno da marginalização das mães que trabalham e têm filhos.

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Hargreaves acredita, porém, que nada realmente mudará enquanto não houver uma “massa crítica” de mulheres comandando empresas. “As mulheres no topo são hoje uma minoria e se enquadraram nas normas masculinas. Elas podem tentar fazer as coisas de maneiras diferentes, mas são reprovadas pelos homens, não conseguem ser bem-sucedidas ou precisam recuar. Aquelas com quem conversei para este relatório estão fazendo muita coisa para ajudar outras mulheres a alcançar posições mais graduadas. Acho que de certo modo temos que ser mais corajosas em nosso desenvolvimento e no avanço de nossas agendas. Não apenas pensar ‘bem, tenho um pouco de flexibilidade’, mas que precisamos oferecer isso para todos.”

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Há muita coisa que as mulheres podem fazer para efetuar mudanças, seja individualmente ou mobilizando grupos. Mudanças estruturais no local de trabalho são necessárias.

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E embora seja altamente improvável que um número significativo de empresas tradicionais venha de repente a mudar suas prioridades para trabalhar em torno da vida doméstica de seus funcionários, algumas outras ideias – como, por exemplo, a nomeação de números iguais de homens e mulheres no nível administrativo, e uma estratégia ética e sustentável para os negócios – estão em sintonia com os novos tempos.

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“A corporação honesta, com um propósito e um senso de missão, poderá se tornar a voz da razão novamente. Os millennials se importam muito mais com o propósito e a sustentabilidade, e eles estão se tornando cada vez mais uma voz no setor corporativo. Espero que isso possa ajudar a mudar as coisas.”

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Tratar as pessoas de maneira justa funciona. Conforme diz Hargreaves: “Isso não é apenas uma agenda utópica, é bom senso – a vai ajudar homens e mulheres”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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