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Paulistanos defendem lei dura e direitos de mulheres e negros, diz pesquisa

Saiu no site FOLHA DE S.PAULO

 

Veja publicação original:  Paulistanos defendem lei dura e direitos de mulheres e negros, diz pesquisa

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Estudo da USP mostra que há consensos entre grupos de orientações ideológicas diversas

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Por Thiago Amancio

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O país está rachado, a cizânia das eleições veio para ficar e não dá mais nem para fazer um almoço de domingo em casa de vó sem que dois primos se engalfinhem. Certo?

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Sim. Mas um estudo da Universidade de São Paulo mostra que ainda há certos consensos na sociedade, ao menos na capital paulista.

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Pesquisa do Monitor do Debate Político no Meio Digital mostra que, em geral, os paulistanos são contra a discriminação racial, a favor da liberdade da mulher, favoráveis ao respeito aos grupos LGBTs e defensores de punições mais severas a criminosos.

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Os pesquisadores ouviram 1.144 pessoas com perfil representativo dos habitantes da cidade em 28 de setembro. Submeteu a eles um questionário com 22 perguntas que ilustram, nas palavras dos autores, “as posições progressista e conservadora sobre as questões mais relevantes do debate público dos últimos 25 anos em torno das chamadas ‘guerras culturais’” (aquelas que dizem respeito a valores comportamentais, éticos e morais).

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Com as respostas, a pesquisa constatou que a população paulistana se divide em três grandes grupos, de acordo com critérios ideológicos: os progressistas, identificados à esquerda, são mais jovens, brancos e ricos; os conservadores religiosos, com posições antiaborto e favoráveis ao aumento da punição a criminosos, são majoritariamente cristãos, mais pobres e mais negros.

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O terceiro grupo recebeu o nome de punitivistas laicos, com um perfil mais diluído, que, embora defenda leis mais severas contra criminosos, é liberal em temas como o direito ao aborto.

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Antagônicos em algumas questões, os grupos têm altas taxas de concordância em determinados temas como direitos das mulheres (exceto aborto), respeito aos homossexuais e rejeição ao porte de armas, mostra a pesquisa.

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Ao todo, 98% dos progressistas, 96% dos punitivistas laicos e 84% dos conservadores religiosos concordam com a frase “A mulher deve ter o direito de usar roupa curta sem ser incomodada”.

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Também há consenso, embora em menor nível, que cantar uma mulher na rua é ofensivo, que não se deve criticar mulheres que fazem sexo com muitas pessoas e que o lugar da mulher não é necessariamente em casa, cuidando da família.

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Para o professor Pablo Ortellado, coordenador do estudo, “a questão das mulheres está surpreendentemente bem assentada”, diz. Para ele, “o que mais chama atenção é ver que São Paulo não é muito conservador” quando se olha o quadro geral.

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Embora haja uma opinião majoritária em favor da liberdade feminina, a discussão do aborto divide esses grupos. Enquanto 78% dos classificados como progressistas e 71% dos punitivistas laicos concordam que a mulher deve ter direito a interromper uma gravidez, o índice cai para 19% entre os conservadores religiosos.

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E, se 74% desse último grupo afirma que o aborto é errado em qualquer ocasião (mesmo em casos decorrentes de estupro e risco de morte para a mãe, permitidos pela lei brasileira), a taxa entre progressistas e laicos é de 5% e 6% respectivamente.

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Os três grupos também concordam que pessoas negras ainda sofrem de preconceito e que a polícia é mais violenta com essa população. Já quando se fala em cotas para inserir negro na universidade, a divisão emerge, com a maior parte dos punitivistas laicos se opondo à medida.

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E há nuances de opinião dentro de um mesmo grupo. Se, por um lado, os grupos concordam que a escola deve ensinar a respeitar pessoas gays (com 81% de aprovação entre conservadores religiosos), por outro, discordam que dois homens devem poder se beijar na rua sem serem importunados (só 27% dos religiosos dizem pensar assim).

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“É uma ideia de que as pessoas até têm um direito, mas não devem abusar”, resume Ortellado.

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Para Ortellado, os consensos em grupos tão heterogêneos reforçam a hipótese de historiadores de que, na verdade, não há uma ascensão do conservadorismo, como se tem repetido nos últimos anos, mas um movimento reativo de conservadores que têm perdido espaço e que, justamente por isso, têm feito mais barulho, em redes sociais, na imprensa e em espaços públicos.

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Esse barulho foi chamado de “guerra cultural”: a ideia de que conservadores devem ocupar os espaços de produção de cultura e conhecimento (como universidades, mídia e artes), que seriam, na visão deles, dominados pela esquerda. O expediente é usado nos Estados Unidos desde os anos 1980 (e hoje por figuras como Steve Bannon) e, cada vez mais, também no Brasil (liderado por Olavo de Carvalho).

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A pesquisa da USP identificou que essas “guerras” (ou seja, centrar o debate em temas como drogas, punição a criminosos e feminismo) dividiram a população nos três grupos identificados.

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Os pesquisadores ressaltam, no entanto, que foi avaliada apenas a concordância às frases expostas, não o comportamento dos entrevistados —ou seja, pode haver, por exemplo, pessoas racistas que evitam expor opiniões racistas.

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