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Me apaixonei por uma mulher. E agora?

Saiu no site REVISTA COSMOPOLITAN:

 

Veja publicação original: Me apaixonei por uma mulher. E agora?

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Por Gabriela Kimura

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Tudo bem, ué. As mulheres estão se libertando de padrões sociais e conhecendo cada vez mais sua própria sexualidade

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Nós já nos conhecíamos havia um tempo, por causa de amigas em comum. Já sabia que ela, que gosta de mulheres, me achava gatinha e eu só achava curioso, ainda que interessante, mas na época namorava um cara e nunca tinha beijado mulheres na vida. Anos depois, terminei o namoro e resolvi aproveitar o momento da solteirice para ficar com a pessoa que mais me interessava: eu mesma. Nessas de fazer uma viagem de autoconhecimento, acabei me perguntando: “Por que não ficar com mulheres?” De vez em quando, fico me questionando se gostava mesmo dos meninos ou só seguia o jogo da heteronormatividade, porque todas as amigas também faziam isso – e ninguém quer ficar de fora do jogo, né?

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Então, foi só juntar o fato de saber que tinha um interesse mútuo com uma noite de migas solteiras que tudo fez sentido bem rapidinho. Hoje tenho uma namorada incrível, parceira e companheira nesse mundão-de-meu-Deus. E foi paixão no primeiro beijo real oficial: tão inesperado quanto óbvio. Sempre faço piada com aquela coisa de “era hétero até ontem”, porque, antes dela, nunca tinha sequer pensado sobre o assunto. Uns podem chamar de sexualidade fluida, outros de revolução sexual feminina do século 21. Fato é que as mulheres estão entendendo cada vez mais o próprio corpo, buscando seus prazeres e se permitindo sentir um desejo que, muitas vezes, pode ter ficado reprimido por muito tempo. Até demais!

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Se você também está nesse momento de descoberta e autorreflexão, nunca esteve com ninguém do mesmo gênero ou gostaria de fazer isso, mas não sabe como, este texto é para você. Pode começar numa brincadeirinha “inocente”, numa amizade intensa ou até mesmo numa baita noitada. Como isso desperta pode ser bem diferente para cada pessoa: mas a gente sabe que nada é tão simples quanto parece.

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Pense bem: será que, se a sociedade não fosse baseada no patriarcado e exigisse a reprodução como forma de “garantir a sobrevivência”, estaríamos todas nós com quem estamos? Olharíamos para homens e mulheres da mesma forma, como pessoas interessantes por natureza e que podem ou não ser objeto do nosso desejo (e amor, claro)?

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A descoberta delas

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Nos Estados Unidos, apenas 7% das mulheres adultas se identificam como lésbicas ou bissexuais, de acordo com a pesquisa sobre sexualidade feita pela Universidade de Indiana em 2014 com 5 mil adultos. Por outro lado, quando se trata de ter tido algum tipo de relação sexual com pessoas do mesmo gênero, o número vai para 12%. E esses percentuais são maiores entre as mulheres de 20 a 29 anos. Por aqui, a pesquisa Mosaico 2.0, de 2016, mostra números próximos. Encabeçado pela psiquiatra Camila Abdo, da Universidade de São Paulo, o levantamento, realizado em sete capitais brasileiras com pessoas de 18 a 70 anos, mostra que 6% das mulheres se declararam homossexuais e 4% bissexuais.

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Esses dados nos dão uma mostra, mas não definem o comportamento sexual geral, pois muita gente não se coloca em nenhum lugar. O pesquisador Alfred Kinsey – autor de um dos mais famosos estudos sobre sexualidade, os Estudos Kinsey (de 1948 e 1953) – afirmou, há 70 anos, que algumas pessoas são héteros, outras gays e uma boa parcela da população cai no espectro entre as duas coisas. “Pense que existe uma régua milimetricamente delimitada, que vai de A a Z, sobre a sexualidade. As pessoas se encontram em diferentes pontos dessa linha, tanto nos extremos (hétero e homo) quanto no meio. E não é que exista um ponto de retrocesso ou avanço em nenhum lugar dela”, diz a psicóloga Miriam Izabel de Souza, de São Paulo.

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Certas descobertas

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Se a gente for parar para pensar, a própria masturbação feminina ainda é um grande tabu. E nem mesmo o sexo passa ileso: a penetração não é, nem de longe, o único jeito de isso acontecer. “A prática sexual é algo diferente da orientação: a gente costuma relacionar prazer a orientação, mas elas ocorrem de forma independente”, afirma Bruna. “Essa fantasia de que para uma relação acontecer precisa ter penetração é construída. É, na verdade, quando tem duas pessoas envolvidas numa relação que provoca prazer.”

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Talvez a revolução sexual feminina venha acompanhada de algumas outras cositas más, como a descoberta do próprio corpo, do prazer e do desejo, livre de julgamentos. “Muitas mulheres não conseguem chegar ao orgasmo em relações héteros, percebendo que o prazer existe também em outras possibilidades”, diz Bruna Falleiros. E não é que a insatisfação sexual com homens leve à procura por mulheres, não. Diferentemente disso, práticas sexuais com outra mulher podem te levar a entender sobre o prazer, o orgasmo e até mesmo mudar a percepção sobre sexo. “Relacionamentos a dois são a maior fonte de autocrescimento, em que os confrontos, a amorosidade e o contato físico são mais frequentes. Quando a parceria vem, isso é um encontro com a gente mesma. E esse é um processo inconsciente que, no caminho, a gente vai descobrindo”, diz Miriam de Souza, que também é autora do livro sobre questões de desenvolvimento humano Migalhas, Farelos e Quirelas: A Profundidade do Pouco (Scortecci).

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Respeito acima de tudo

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Pode parecer clichê, mas o que nós, mulheres que amam outras mulheres, queremos é respeito. Você pode fazer suas descobertas, envolver-se sexualmente com alguém (ou com várias pessoas ao mesmo tempo) e, mesmo assim, não machucar a outra. É muito comum ouvir a frase (super–homofóbica) de que “isso é apenas uma fase”, mas é pior ainda sentir na pele que a mulher lésbica (ou bissexual) é um objeto de fetiche e descartável. “A maior dificuldade é lidar com o próprio preconceito e o da sociedade. Há muito a questão da invisibilidade lésbica: é como se elas não existissem. São muito fetichizadas, especialmente pelos homens”, fala Bruna.

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Se você sente atração por mulheres, mas nunca teve relacionamentos afetivos com elas, não seja sacana e deixe sempre claro que está ou não em busca de uma relação. O jeito mais fácil é aceitar que também tem preconceito: afinal, reconhecer é o primeiro passo para a mudança. “É um movimento de compreender – e é claro que as paixões arrebatadoras podem te levar a um relacionamento no qual nunca pensou antes – e um jeito de se conhecer também”, afirma Bruna. “Passar por esse processo com o mínimo de julgamento sobre, dando um passo de cada vez.”

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Se vocês quiserem contar sobre seu relacionamento, então é preciso seguir com calma e confiança seus sentimentos. “É preciso se respeitar nesse processo, bem como no casal uma precisa respeitar o processo da outra. Analisar e, se houver sofrimento, buscar ajuda para passar por isso também. Cada um tem seu tempo; conforme a pessoa der os passos e for acolhida, vai seguindo”, afirma a especialista Bruna Falleiros. “Quando alguém vive uma relação homoafetiva e nunca tinha pensado sobre isso, tem uma surpresa, mas sabe que é verdadeiro o que sente. Internamente, é preciso se preparar para também aceitar isso com naturalidade”, diz Miriam. Há quem diga que, se as pessoas héteros nunca tiveram que assumir nada, nós também não, necessariamente, precisamos. Basta sermos.

 

 

 

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