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Fiamma Zarife, big boss do Twitter, fala sobre autossabotagem, angústia e sentir-se intimidada

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original: Fiamma Zarife, big boss do Twitter, fala sobre autossabotagem, angústia e sentir-se intimidada

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Sim, altíssimas executivas são tão humanas quanto eu e você. Elas falham, sentem-se inseguras, intimidadas. Mas altíssimas executivas dignas da nomenclatura falam a respeito. E sabem que isso só as torna mais interessantes. Por isso, uma salva de palmas a Fiamma Zarife, diretora geral do Twitter. Num papo franco com Mônica Salgado, ela humaniza o sucesso como você nunca viu

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Por Mônica Salgado

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“Melhor pedir perdão que permissão.” Uau, frase de efeito para levar para a vida. Cautelosa, Fiamma me explica que, quando a colocou em prática, numa das empresas pelas quais passou, tinha a bênção do então presidente. “Fiz muita coisa inovadora pensando assim. Ousar é preciso, mas tem que ser um risco controlado”, explica, acrescentando que, nos casos de multinacionais, quando se está longe da matriz “é necessário fugir um pouquinho dos guidelines para se adaptar ao mercado local”.

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Hum, fugir dos guidelines talvez seja uma marca registrada da executiva? Pode bem ser. Aos 47 anos, a paulistana de origens árabe e italiana é formada em publicidade e propaganda, com pós em marketing, Fiamma já foi vice-presidente de conteúdo e serviços da Samsung na América Latina e passou por Claro, Oi e Petrobras Distribuidora, entre outras companhias. Bem-sucedida? Dã, obviamente! Mas a fim de compartilhar as vezes em que não se sentiu tão digna assim deste sucesso? Opa, isso é para poucas. Fugir dos guidelines, neste relato, significa fugir dos clichês de perfeição do que se convencionou chamar de sucesso. Com vocês, Fiamma Zarife.

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“Me sabotei assim que descobri estar grávida”

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Impressionante como a autossabotagem acomete muito mais as mulheres. Não apenas vejo isso acontecer ao meu redor. Vivi isso. Quando engravidei da minha filha, hoje com 15 anos, tive a maior cautela para contar a todos. Isso porque dez semanas antes havia perdido um bebê. E tinha contado pra Deus e o mundo. No fim, foi mais difícil gerenciar a frustração alheia do que a minha própria. Então, decidi esperar pelos três meses… mas o plano não saiu como desejado. Estava respeitando esse prazo quando, sem aviso prévio, meu chefe reuniu a equipe e anunciou minha promoção.

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Atônita, fui à sala dele e disse: “Estou grávida. Fique à vontade para rever sua decisão”. Ele olhou bem pra mim: “Volte para o seu lugar porque ainda temos oito meses…”. E foi um dos períodos mais produtivos da minha carreira. Saí de licença numa sexta, e ela nasceu domingo. As pessoas me falavam: “Sabe que você terá que diminuir o ritmo, né?”. Isso me angustiava. Por quê? Amo meu trabalho. Não quero abrir mão de nada. Quero TUDO. E escolhi ser uma mãe workaholic. Até agora, está dando tudo certo.

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“Ninguém me contou que a licença maternidade seria tão angustiante. E que eu sentiria falta do trabalho”

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Vou resumir o sentimento: é como se você estivesse num ônibus em alta velocidade e de repente ele freia bruscamente e você é atirada para fora – sendo o ônibus uma metáfora da vida. Olhava para as pessoas na rua e pensava se algum dia andaria livremente de novo. É um mix de sentimentos. Você quer viver a maternidade, mas não se desconectar da vida lá fora. Na época, grandes mudanças aconteciam na empresa, um novo chefe havia chegado. Eu mandei até email para ele me apresentando, explicando porque estava fora. Como se precisasse… pode?

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A verdade é que comecei a curtir de verdade no terceiro mês da licença. Tirei quatro e optei por usufruir dos 30 dias de férias mais tarde. Não aguentava mais ficar em casa.

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Mas… quando você volta, percebe que está tudo lá, nada mudou de fato. Foi tudo tão intenso para mim que demorei sete anos para ter meu segundo filho, hoje com oito. A experiência é tão diferente! Tem uma previsibilidade, você sabe o que te espera. Fora que eu estava muito mais estabilizada emocional e profissionalmente.

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Mônica Salgado e Fiamma Zarife (Foto: Arquivo pessoal)

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“Tive muito medo de fracassar quando fui chamada para o cargo de diretora geral aqui do Twitter. E tentei me sabotar de novo”

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Simplesmente não me sentia preparada. Inclusive, existem pesquisas que mostram que as mulheres precisam se sentir 100% preparadas para assumir cargos, enquanto os homens os aceitam sentindo-se 60% prontos. Hoje, percebo que, uma vez no cargo, você vai compondo, perseguindo os 100%.

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Atenção: fazia apenas um ano e meio que estava na empresa. Entrei em 2015, como head de agência, responsável pelo relacionamento com  as agências de publicidade. Meu chefe, Guilherme Ribenboin, um dia me chamou na sala para dizer que estava indo para o Twitter de Nova York. Falei: “Puxa, que demais, parabéns! E quem é a pessoa que assumirá seu cargo aqui?”. Ele respondeu: “Você!”. No ato, aleguei que a pessoa não era eu, que havia ali gente muito mais merecedora, com mais tempo de casa. Cheguei a levantar uma lista de nomes para ele.

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Guilherme me lembrou das qualidades que eu tinha. Palavras dele: postura, liderança, musculatura corporativa. Seria, segundo ele, a guardiã da cultura do Twitter no Brasil, uma conectora entre as áreas – características importantes para o esquema matricial em que operamos. Existem 12 áreas aqui que não se reportam a mim, e sim à matriz. Sob minha coordenação, tenho a área de vendas.

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Enfim, depois de uma entrevista com o COO global, assumi como diretora geral no início de 2017.

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“Fiquei intimidada na entrevista com o COO global do Twitter”

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Sem dúvida, a entrevista mais difícil que já tive. Tinha que passar pelo crivo dele para ser de fato efetivada. Anthony Noto, então COO (chief operating officer), é um homem bastante sério. Tenho profundo respeito pela história dele. Ok, admito, ele inspira um pouco de medo. Me preparei muito para o encontro. Estudei balanço, tudo o que você imaginar sobre o Twitter. Mas sabe quando você estuda para uma prova e não sabe o que vai cair? Era assim que me sentia. Não tinha ideia do que ele perguntaria.

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Durante o papo, eu estava sentada, e ele em pé, me olhando de cima. Isso não ajudou em nada. Além disso, Anthony é de difícil leitura. Eu não sabia se estava agradando. Foi então que ele me fez uma pergunta curiosa: “Quem ficaria chateado se você assumisse o cargo?”. Eu respondi: “Acho que todo mundo ficaria feliz”. ele gostou. Tenho a sensação de que essa resposta definiu meu futuro. E o resto é história.

 

 

 

 

 

 

 

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