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ARTIGO: A desigualdade de poder entre os gêneros

Saiu no site ONU BRASIL

 

Veja publicação no site original:  ARTIGO: A desigualdade de poder entre os gêneros

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Em artigo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirma que a desigualdade de gênero é a grande injustiça de nossa época e o maior desafio de direitos humanos que enfrentamos. Segundo ele, a igualdade de gênero oferece soluções para alguns dos problemas mais intratáveis de nossos tempos.

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“Se quisermos alcançar uma globalização justa que funcione para todas e todos, precisamos basear nossas políticas em estatísticas que levem em conta as verdadeiras contribuições das mulheres.” Leia o artigo completo.

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O secretário-geral da ONU, António Guterres. Foto: ONU/Manuel Elias

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Por António Guterres

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A desigualdade de gênero é a grande injustiça de nossa época e o maior desafio de direitos humanos que enfrentamos. Mas a igualdade de gênero oferece soluções para alguns dos problemas mais intratáveis de nossos tempos.

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Em todos os lugares, as mulheres estão em situação pior do que os homens – simplesmente porque são mulheres. A realidade para mulheres de minorias, mulheres idosas, pessoas com deficiência e mulheres migrantes e refugiadas é ainda pior.

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Embora tenhamos visto um enorme progresso nos direitos das mulheres nas últimas décadas, desde a abolição de leis discriminatórias até o aumento do número de meninas na escola, agora enfrentamos um forte retrocesso.

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As proteções legais contra estupro e abuso doméstico estão sendo retiradas em alguns países, enquanto políticas que penalizam as mulheres, da austeridade à reprodução coercitiva, foram introduzidas em outros lugares. Os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão ameaçados por todos os lados.

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Tudo isso porque a igualdade de gênero é fundamentalmente uma questão de poder. Séculos de discriminação e patriarcado profundamente arraigados criaram uma desigualdade de poder entre os gêneros em nossas economias, sistemas políticos e corporações. A evidência está em todo lugar.

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As mulheres ainda são excluídas do alto escalão, de governos a conselhos corporativos e premiações de prestígio. Mulheres líderes e figuras públicas enfrentam assédio, ameaças e abuso, na Internet ou fora dela. A disparidade salarial entre homens e mulheres é apenas um sintoma da desigualdade de poder entre os gêneros.

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Mesmo os dados supostamente neutros que fundamentam a tomada de decisões em temas como planejamento urbano e teste de drogas geralmente se baseiam em um “padrão masculino”; os homens são vistos como padrão, enquanto as mulheres são uma exceção.

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Mulheres e meninas também enfrentam séculos de misoginia e o apagamento de suas realizações. Elas são ridicularizadas como histéricas ou hormonais; são rotineiramente julgadas por sua aparência; estão sujeitas a infinitos mitos e tabus sobre suas funções corporais naturais; elas são confrontadas, todos os dias, com o machismo, o ‘mansplaining’ e a culpabilização das vítimas.

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Isso afeta profundamente a todos nós e é uma barreira para solucionar muitos dos desafios e ameaças que enfrentamos.

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Tome como exemplo a desigualdade. As mulheres ganham 77 centavos por cada dólar ganho pelos homens. A pesquisa mais recente do Fórum Econômico Mundial diz que serão necessários 257 anos para fechar essa lacuna. Enquanto isso, mulheres e meninas fazem cerca de 12 bilhões de horas de trabalho não remunerado todos os dias, o que simplesmente não é levado em conta na tomada de decisões econômicas.

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Se quisermos alcançar uma globalização justa que funcione para todas e todos, precisamos basear nossas políticas em estatísticas que levem em conta as verdadeiras contribuições das mulheres.

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A tecnologia digital é outro caso em questão. A falta de equilíbrio de gênero nas universidades, startups e ‘vales do silício’ em nosso mundo é profundamente preocupante. Esses centros de tecnologia estão moldando as sociedades e economias do futuro; não podemos permitir que eles entrincheirem e exacerbem o domínio masculino.

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Veja as guerras que estão devastando nosso mundo. Há um paralelo entre violência contra as mulheres, opressão civil e conflito. O modo como uma sociedade trata a metade feminina de sua população é um indicador significativo de como tratará os outros. Mesmo em sociedades pacíficas, muitas mulheres estão em perigo mortal em suas próprias casas.

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Existe até mesmo uma desigualdade de gênero em nossa resposta à crise climática. As iniciativas para reduzir e reciclar são predominantemente direcionadas às mulheres, enquanto os homens são mais propensos a confiar em soluções tecnológicas não testadas. E economistas e parlamentares mulheres são mais propensas que os homens a apoiar políticas pró-ambientais.

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Finalmente, a representação política é a evidência mais clara da diferença de poder entre os gêneros. As mulheres são superadas em número em média de 3 a 1 nos parlamentos de todo o mundo, mas sua presença está fortemente correlacionada com a inovação e o investimento em saúde e educação. Não é por acaso que os governos que estão redefinindo o sucesso econômico para incluir bem-estar e sustentabilidade são liderados por mulheres.

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É por isso que uma das minhas prioridades nas Nações Unidas foi trazer mais mulheres para nossa liderança. Já alcançamos a paridade de gênero no alto escalão, dois anos antes do previsto, e temos um roteiro para a paridade em todos os níveis nos próximos anos.

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Nosso mundo está com problemas e a igualdade de gênero é uma parte essencial da resposta. Problemas criados pelos seres humanos têm soluções conduzidas pelos seres humanos. A igualdade de gênero é um meio de redefinir e transformar o poder que trará benefícios para todas e todos.

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O século 21 deve ser o século da igualdade das mulheres nas negociações de paz e nas negociações comerciais; em salas de diretoria e salas de aula; no G20 e nas Nações Unidas.

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É hora de parar de tentar mudar as mulheres e começar a mudar os sistemas que as impedem de alcançar seu potencial.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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