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Pesquisadoras da PUCRS criam cartilha de combate à violência doméstica durante pandemia

Saiu no site G1

Veja publicação original: Pesquisadoras da PUCRS criam cartilha de combate à violência doméstica durante pandemia

 

Por Maria Eugenia Bofill, G1 RS

Luísa Habigzang coordena a criação da cartilha de consequências da pandemia — Foto: Luísa

Um grupo de mulheres pesquisadoras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) criou uma cartilha para o enfrentamento da violência doméstica durante a pandemia da Covid-19. O documento ‘Isolamento durante a Covid-19 e violência dentro de casa’ apresenta informações sobre a agressão contra crianças, adolescentes e mulheres.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e com a ONU Mulheres, os números de casos de violência têm aumentado em nível mundial desde o início do isolamento social.

Para a professora do Programa de Pós Graduação em Psicologia e doutora em psicologia, Luísa Habigzang, as pessoas que vivem a situação de violência se tornaram ainda mais vulneráveis por conta da quarentena.

“As crianças e adolescentes não estão frequentando escolas, isso dificulta ainda mais para os professores, por exemplo, identificarem situações de violência psicológica, física ou sexual. A escola é uma importante referência para as crianças e muito comumente são as escolas que fazem as notificações de violência contra crianças e adolescentes.”

Nos casos de violência contra a mulher, de acordo com Luísa, os números têm aumentado, assim como os crimes de feminicídio.

“A violência familiar e doméstica é muito subnotificada [poucos casos chegam à delegacia]. E nesse momento de isolamento, a subnotificação tende a ser maior. Então, quando os registros aumentam, a gente tem uma proporção que o fenômeno é muito grave e está se agravando ainda mais”, aponta a professora, que coordenou a elaboração da cartilha.

Entre os fatores que contribuem para a diminuição das notificações dos casos é a dificuldade de quem está sofrendo violência em pedir ajuda.

“Mesmo fazendo a notificação, é a ausência de contato físico, a convivência em um ambiente com pessoas da família, de receber visitas ou de conviver com vizinhos de forma mais próxima. Isso tudo, de certa forma aumenta a situação de isolamento e também o segredo que a violência doméstica e familiar requer para se manter enquanto ciclo”, ressalta Luísa.

A coordenadora afirma que a violência também aumenta pela dificuldade de acesso a diversos serviços que antes da pandemia atendiam as mulheres e que são importantes para o enfrentamento e identificação à violência. Como sistemas de saúde e de assistência social e as delegacias de polícia.

“O que a gente entende é que esse reduzido acesso aos serviços de saúde, de segurança, de justiça, podem fomentar o aumento da violência principalmente porque o autor da violência pode sentir que ele estará impune, que a situação comportamento não será notificado”, diz a coordenadora.

A Polícia Civil do RS alerta aos casos subnotificados. Afirmando também que com a necessidade de ficar em casa por conta da pandemia, as mulheres agredidas se sintam acuadas para buscar a ajuda.

O tempo de confinamento entre a vítima e o agressor também pode ser um agravante para a violência.

“Outra situação é que as pessoas que vivem de forma conflitiva estão muito tempo juntas em casa e o autor da violência tende a justificar seus atos de agressão responsabilizando a pessoa que ele agride. Já observamos que muitas vezes justificam que quando as pessoas estão estressadas, agridem mais as famílias e esposas, como se estar estressado justificasse ou legitimasse a violência. Isso de forma alguma pode ser usado para desresponsabilização do autor das agressões”, enfatiza Luísa.

Para ajudar ao combate da violência doméstica e até denunciar, a professora diz que o papel de familiares e de vizinhos é fundamental. Ela ressalta que há como denunciar de maneira anônima, através do disque 100.

“Quanto mais trabalharmos com a população quais são as principais formas de violência, como ela se expressa, nós auxiliamos as pessoas a se identificarem e a identificarem situação de violência no aspecto a auxiliar a rede de proteção e atendimento.”

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) disponibilizou, além do 180 e 100 um celular para as denúncias serem feitas (51) 9.8444.0606.

No período de quarentena, as Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (Deam) reforçaram o trabalho de prisão de agressores e de busca e apreensão em locais onde há suspeita da presença de armas e outros instrumentos que possam oferecer risco a vítimas que registraram ocorrências.

A Secretaria informou também que a Patrulha Maria da Penha, da Brigada Militar, ampliou o atendimento de 46 para 84 cidades do estado.

Segundo Luísa, o fato dos homens terem uma vida social limitada pela pandemia, e não saírem para beber com amigos, por exemplo, não significa que ele não irá agredir a companheira. A professora explica que o álcool não é determinante para um comportamento violento e lembra que é possível beber em casa.

“Ele é um fator que aumenta a probabilidade de uma violência ocorrer, por isso é entendido como um fator de risco relacionado à violência doméstica e familiar. Mas o que se identifica que quando a pessoa é violenta com familiares, ela é violenta sem consumir álcool.”

A coordenadora ressalta que não há nenhum comportamento ou situação que justifique uma violência e que nesse momento é necessário estar atento para identificar todas as formas de violência. Além disso, é preciso reafirmar que as vítimas não têm culpa quando são agredidas. Pois muitas vezes, os casos não são denunciados por medo de julgamentos.

“Muitas mulheres não relatam situação de violência que sofrem, ou por medo e ameaças das próprias agressões, que elas tendem a se intensificar, mas também pela vergonha e pelo receio de serem julgadas pela família ou pela sociedade.”

A cartilha pretende chegar a todos na sociedade, que possam de alguma forma ajudar no combate à violência contra mulheres, crianças e adolescentes.

“Nossa ideia é que possa alcançar o máximo de mulheres, de familiares de vizinhos que possam ser nesse momento rede de apoio social e protetiva. Na ausência ou na dificuldade de acessar os serviços da rede de proteção e atendimento, precisamos fortalecer os outros elos dessa rede. Amigos, familiares, comunidade mais próxima, para que as pessoas se sintam encorajadas em pedir ajuda e que essas pessoas efetivamente possam ajudar.”

Grupo de pesquisa da PUCRS estuda formas de violência doméstica — Foto: Luísa Habigzang/Arquivo PessoalGrupo de pesquisa da PUCRS estuda formas de violência doméstica — Foto: Luísa Habigzang/Arquivo Pessoal

Grupo de pesquisa da PUCRS estuda formas de violência doméstica — Foto: Luísa Habigzang/Arquivo Pessoal

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