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Mulher negra na liderança: racismo impede ascensão nas empresas

Saiu no site FINANÇAS FEMININAS

 

Veja publicação original:  Mulher negra na liderança: racismo impede ascensão nas empresas

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Por Carol Nogueira

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Algumas pessoas ainda tentam negar e tem receio de falar, mas o racismo está presente na nossa vida cotidiana, é normalizado e reproduzido pela sociedade. Essa realidade atinge o interior das instituições que repetem as práticas racistas, elevando ainda mais o abismo da desigualdade racial, como apontou o estudo Panorama Mulher 2019, que traz um comparativo histórico das mulheres nos cargos de liderança das organizações no Brasil.

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O levantamento realizado pela Talenses e Insper revelou que das 415 empresas com cargo de presidente, 95% são homens ou mulheres brancas. Nas organizações com mulheres na presidência, não há nenhuma mulher negra ocupando a vice-presidência ou conselho e apenas 1% faz parte da diretoria.

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No país que as mulheres negras compõem a maior parte da população, com quase 60 milhões de pessoas, o percentual acende um alerta vermelho para a urgência de encarar e combater o racismo que se manifesta em forma de segregação, silenciamento, violência psicológica e física.

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Como a desigualdade racial impacta a vida da mulher negra?

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Frequentemente, nós somos bombardeados pela mesma narrativa audiovisual que sempre coloca a mulher negra no papel de coadjuvante e a branca como protagonista. Todo esse conteúdo ficcional das novelas, filmes, desenhos, entre outros contribui com o imaginário de que pessoas negras não podem almejar posições mais altas, como CEOs de companhias, diretorias de bancos, entre outros.

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Quando uma mulher negra alcança um cargo importante, é constantemente alvo de uma patrulha que busca desqualificá-la profissionalmente, como aconteceu recentemente com a jornalista Maju Coutinho, que em outubro passou a apresentar o jornal Hoje – noticiário vespertino da TV Globo – e foi duramente criticada pelo portal “Notícias da TV” que listou os erros comuns de quem assume o comando de um telejornal.

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Esse triste episódio que tomou as redes sociais no início do mês, deixa evidente o quanto o racismo atinge as mulheres negras. Afinal, basta pesquisar no Google e você não encontrará críticas tão rígidas sobre o trabalho de um jornalista branco.

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Para Alexandra Loras, ex-consulesa da França e consultora existe um preconceito muito grande de que a mulher negra tem capacidade inferior, contudo existem muitas mulheres negras com ensino superior e preparadas para ocupar cargos de liderança nas empresas. “Com poucos recursos em 2018, eu criei uma plataforma que cadastrou 7 mil negros com mestrado e doutorado que procuravam emprego. Desse número, 458 foram contratados, mas não consegui manter o Protagonizo por falta de recursos. Ninguém quer investir na nossa cor, ninguém”, afirma.

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Homens são contratados pelo potencial de desenvolver uma liderança, mas mulheres precisam mostrar resultados para ter legitimidade e alcançar a liderança, segundo Loras. “Quando eu vou palestrar na multinacionais, eles sempre me contrataram para falar sobre gênero, justificando que a empresa não está preparada para falar da questão racial e sempre aponto que a maioria das mulheres no Brasil são negras. Eles ficam surpresos, porque não reparam nesse dado”, conta.

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As políticas de cotas nas universidades federais representam uma medida de reparação aos negros que, em sua maioria, não tem acesso a educação de qualidade. Estudantes pretos e pardos de graduação representam 51,2%, de acordo com o levantamento realizado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) em 2018 nas instituições de ensino superior brasileiras. O estudo também revelou que 70,2% dos alunos são de famílias com baixa renda (renda per capita de até um salário mínimo e meio).

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“Eu gostei muito quando surgiram as cotas para negros nas universidades, porque é a única maneira que a gente tem para que essas pessoas tenham acesso a educação. E tem que ser feito desse jeito, se não a gente nunca vai reverter esse quadro”, diz Maria Fernanda Teixeira, CEO da Integrow e cofundadora do grupo de Mulheres do Brasil.

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Combater o racismo é responsabilidade das empresas

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Diante desse cenário escandaloso de poucas mulheres negras em cargos de liderança, as empresas precisam assumir a responsabilidade de mudar essa realidade para diminuir a desigualdade racial.

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Teixeira acredita que determinar uma meta de contratações de pessoas negras não é suficiente. É necessário criar mecanismos e treinar os demais funcionários para receber os colaboradores negros. “Você encontra uma mulher negra no corredor da empresa que trabalha e você acha que ela é a copeira ou a pessoa da limpeza e, muitas vezes até se dirige a ela dessa forma. Se é um homem negro, provavelmente é da área de segurança. Temos esses vieses inconscientes e o que nós estamos fazendo nas nossas empresas para mudar?”, pondera.

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Na Integrow, onde é CEO, Teixeira estabeleceu o objetivo de contratar um número significativo de profissionais negros, com os mesmos direitos e benefícios dos demais funcionários. No entanto, percebeu que as pessoas não estavam interagindo bem e a maioria dos colaboradores negros pediu demissão pelo ambiente hostil.

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“Isso acontece, porque a pessoa se sente mal, às vezes pessoas vão almoçar em determinado restaurante e a pessoa não vai, porque ela não se sente incluída. É para pensar gente: o que nós temos que mudar dentro das nossas empresas para incluir, não é só ter um número na hora da admissão, é como vai incluir e oferecer os mesmos direitos para que ela tenha ascensão profissional”, afirma.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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