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Morei na rua, virei cozinheira para não passar fome e hoje sou chef em NY

Saiu no site UNIVERSA:

 

Veja publicação original: Morei na rua, virei cozinheira para não passar fome e hoje sou chef em NY

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Por Bárbara Therrie

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Tatiana Ribeiro, 36, foi morar na rua após fugir do abrigo onde vivia, em busca da mãe biológica. Sem lar, ela ficou dias sem comer e teve que trabalhar desde cedo. “Queria ser cozinheira porque era a única forma de eu sobreviver e nunca mais passar fome na vida”. Leia o depoimento dela.

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“Minha mãe me deu para a adoção a um abrigo em Fortaleza quando eu nasci. Fiquei lá até os meus nove anos de idade, quando fugi e fui morar na rua para tentar encontrá-la. Morei nas ruas de Recife, Natal, Belém do Pará e Fortaleza dos nove aos 12 anos. Não havia lugar confortável, eu dormia onde achava seguro: na rodoviária, ao lado da banca de jornal, debaixo da ponte, na praia.

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Não gostava de pedir esmola e comecei a trabalhar cedo

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Arquivo pessoal
 Imagem: Arquivo pessoal

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Eu nunca gostei de pedir esmola, sempre dava um jeito de trabalhar para conseguir o dinheiro suficiente para sobreviver a cada dia. Eu vendia cocada, água sanitária, trabalhava na feira. No feriado de Finados, ia para a porta do cemitério e vendia velas, flores, coroas. Conseguia ganhar de dois a cinco cruzeiros por dia. Havia vezes em que eu não tinha nada para vender e não tinha dinheiro para comprar alimento.

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Teve uma vez em que eu estava sem comer comida de verdade havia duas semanas. Estava com muita fome. Entrei na praça de alimentação do shopping e vi um homem com um bife no prato. Peguei o prato e saí correndo, mas o segurança me pegou, me bateu e eu não consegui comer.

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Aos 13 anos, saí das ruas e fui trabalhar em casas de família. Eu fazia de tudo: era babá, limpava, lavava, passava, auxiliava na cozinha. Foi nessa época que eu comecei a gostar de gastronomia e vi que tinha o dom de cozinhar. Eu adorava sentir o cheiro das comidas, isso aguçava o meu paladar. Eu observava as cozinheiras trabalhando e as ajudava.

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Aos 19 anos, voltei para Fortaleza, na maternidade onde nasci, e descobri que a naturalidade da minha mãe era do Rio de Janeiro. Juntei dinheiro, comprei a passagem e fui para lá para tentar achá-la. Cheguei com R$ 30. Morei por seis meses na rua. Às vezes, pagava R$ 1 e dormia num albergue que dava direito a um café da manhã.

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Nunca me prostituí e nem me envolvi com drogas nas ruas

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Arquivo pessoal
 Imagem: Arquivo pessoal

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Nessa fase, eu já tinha corpo de mulher e morria de medo de ser estuprada. Se eu visse um homem suspeito, eu me afastava e procurava outro lugar para ficar. Era a lei da selva, eu tinha que me proteger. Nunca me prostituí nem me envolvi com drogas, nas ruas. A minha situação já era tão ruim que eu não queria piorá-la ainda mais. Via a destruição que o vício causava.

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Minha vida teve uma virada aos 21 anos, quando conheci uma mulher na calçada no Rio. Eu falei que estava procurando emprego e que não tinha onde morar. Ela me chamou para ir à casa dela e me ofereceu trabalho. Com o tempo, ganhei a confiança da família dela, que me adotou e me deu a base de tudo o que eu conquistei até hoje. Naquele momento, ganhei uma família e desisti de procurar a minha mãe biológica.

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Trabalhei em vários restaurantes e estudei gastronomia

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Arquivo pessoal
 Imagem: Arquivo pessoal

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Depois de um tempo, achei um trabalho de saladeira num restaurante e comecei a fazer supletivo. Ao longo dos anos, trabalhei em casas de família como faxineira e cozinheira. Eu investia o dinheiro que eu ganhava em cursos técnicos de cozinheiro profissional. Após reprovar em dois vestibulares, consegui fazer a faculdade de gastronomia.

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Trabalhei em vários restaurantes em todas as funções, como ajudante de cozinha, cozinheira, sous chef. Eu queria ser cozinheira porque era a única forma de eu sobreviver e nunca mais passar fome na vida. Vi na comida um refúgio. Passar fome me levou a ter uma profissão, a ser chef de cozinha.

Fiz um curso de nutrição funcional e isso me abriu portas para atuar como personal chef em casas de famosos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em 2016, recebi uma proposta de uma cliente para trabalhar e morar com ela em Nova York. Chegando lá, o trabalho não deu certo. Fiquei três dias no metrô de Nova York porque não sabia falar inglês.

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Sou chef de cozinha de um restaurante brasileiro em NY

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Conheci um brasileiro que me ajudou a alugar um quarto e me indicou para trabalhar no restaurante brasileiro Beija-Flor, em Long Island City, onde fiquei por um ano e meio. Comecei a estudar inglês e, há seis meses, sou chef de cozinha do Berimbau do Brasil, em West  Village, onde crio os meus próprios cardápios. Eu levo para a cozinha a minha origem nordestina e as raízes dos lugares onde eu morei e o aprendizado das cozinheiras que convivi. Meus carros-chefes em NY são um risoto de alho poró com crispy de carne seca e um medalhão ao vinho madeira com purê de banana da terra e espinafre trufado.

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Consegui sair das ruas e me tornar uma chef de cozinha porque sempre tive fé em Deus e o pensamento positivo de que seria alguém na vida. Eu sempre agarrei toda e qualquer a oportunidade que me deram, fosse ela boa ou ruim, com força e determinação”.

 

 

 

 

 

 

 

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