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‘Amor’ que machuca – Violência doméstica: quando o lar vira terror

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Veja publicação original: ‘Amor’ que machuca – Violência doméstica: quando o lar vira terror

 

Somente em Londrina, 2.600 mulheres recebem medida protetiva na atualidade

 

Violência doméstica não escolhe idade, classe social ou cor

 

A violência doméstica não escolhe idade, classe social ou cor. De acordo com a assistente social e gerente do CAM (Centro de Referência e Atendimento à Mulher), Lucimar Rodrigues, o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking quando o assunto é a agressão contra a mulher. O Paraná é o terceiro estado. Não por acaso, na semana passada, o tema foi motivo para discussão em três palestras em espaços de recicladores sobre a importância de falar sobre o que acontece e, principalmente, do combate à violência. NOSSODIA acompanhou o trabalho de assistentes sociais e psicólogos junto a vítimas – muitas vezes caladas pelo medo.
O fim do casamento foi o começo de uma guerra na vida pessoal da assistente administrativa, B.M., 26 anos. “Tivemos dois filhos, o sentimento mudou e decidimos nos separar. Mas nunca imaginei que ele seria capaz de me ameaçar, invadir minha casa e ser um risco até para as crianças. Quando comecei a namorar então, conheci o inferno. Meu ex-marido virou meu maior inimigo e eu já não sabia o que fazer. Infelizmente, precisei pedir socorro, procurei a polícia e hoje vivo com medida protetiva. Ciente de que fui atrás de segurança e que ele ultrapassou os limites, ele se conscientizou de que estava agindo errado, mudou e me sinto segura”, narra. O depoimento da assistente administrativa é apenas um de um universo que mobiliza profissionais da segurança, saúde e assistentes sociais que não mede esforços para mudar esse quadro. Procurar ajuda é ponto de partida, para a gerente do CAM. “Falar do assunto para a comunidade é um avanço, pois devemos explicar para a mulher que sofre de agressão que há uma vara especializada para atendê-la, há uma casa abrigo, uma delegacia e que a mulher não está só”, esclarece. “Discutir o enfrentamento da violência é uma forma de mostrar quais são os direitos previstos, bem como os caminhos que a vítima pode seguir”, acrescenta.

Lares assombrados pelo medo
Segundo a gerente do CAM, Lucimar Rodrigues, é nos fins de semana, no período da noite, quando estão em suas casas, o momento mais comum em que as mulheres são vítimas de agressão. “As mulheres que nos procuram são as que têm menos condições, de classe baixa e sem meios de abafar o caso.” Diante do grande número de casos, um abaixo-assinado com 14.800 assinaturas, entregue ao Secretário de Segurança Pública do Paraná, busca uma Delegacia da Mulher que funcione 24 horas. “Hoje, a Delegacia da Mulher só funciona em horário comercial, fecha para almoço e, de acordo com nossa população, deveríamos ter cinco”. Segundo Rodrigues, o documento foi entregue na gestão passada. “Na prática, em caso de agressão e a Delegacia da Mulher estiver fechada, deve procurar uma comum. Lutamos para que pelo menos haja um delegada para um atendimento diferenciado quando a da Mulher estiver fechada”. (W.V.)

Relacionamentos abusivos ferem autoestima
Previsto em lei, o benefício da medida protetiva é um direito concedido à mulher que esteja sofrendo algum tipo de violência e crime, como ameaça. Do marido, do ex, do companheiro ou de qualquer outro homem. De acordo com dados do Juizado de Violência Doméstica contra a Mulher e Vara de Crimes contra Crianças, Adolescentes e Idosos, 2.600 mulheres estão sob medida protetiva em Londrina e essa é uma decisão que cabe à vítima por se sentir ameaçada. A concessão da medida protetiva é levada a conhecimento de quem representa ameaça por meio de um oficial de justiça e, intimado, deve cumprir regras de distância e proibição de contato, por exemplo. Pai de cinco filhos, sendo duas meninas, o motorista Simeão Coimbra, 44 anos, considera que o assunto deve ser discutido e a violência combatida pela lei. “Uma relação turbulenta deve ser revista e quando não dá mais certo, melhor cada um procurar seu canto, principalmente pro causa de filhos, ou ainda procurar ajuda de profissionais se for o caso de ficar junto”, pensa. A recicladora Aparecida Luciana, 29 anos, alerta: “Muitas sofrem caladas por medo. Temem que a denúncia prejudique mais do que ajude, mas é um erro.” De acordo com a psicóloga do CAM, Fernanda de Mello Nogueira, a fragilidade de uma mulher agredida é uma questão de saúde pública. “Precisamos conscientizar as mulheres de seus direitos, pois ainda há muita opressão e situações em que a própria vítima não identifica a agressão. “Ela apanha, ficam brigados, marido não olha na cara, exige sexo e ela pensa que pelo fato ser marido não pode se recusar a fazer sexo com ele. Isso é violência e temos que abordar o assunto quantas vezes for necessário porque a maioria das mulheres está em silêncio e vivendo um relacionamento abusivo que atinge sua autoestima de uma maneira que a mulher perde a confiança em si a ponto de não acreditar que pode sobreviver sem esse homem”. (W.V.)

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