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11 mulheres que trabalham com esporte contam as coisas mais machistas que já ouviram

Saiu no site BUZZ FEED:

 

Veja publicação original:  11 mulheres que trabalham com esporte contam as coisas mais machistas que já ouviram

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Por Juliana Kataoka

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“O que você está fazendo aqui em vez de estar em casa cozinhando?” e outros absurdos que parecem saídos do século retrasado.

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Entrevistamos mulheres que trabalham com esporte – de redações especializadas a instituições e agências de marketing – para saber como o machismo ainda se faz presente no dia a dia delas. Aqui estão alguns dos depoimentos.

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1. “Cairia de boca aí”.

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"Eu tive alguns chefes e colegas de trabalho extremamente machistas. Mas um deles, especialmente, era algo impressionante. E o pior é que quando ele falava ou fazia alguma barbaridade, os nossos colegas davam risada porque 'esse era o jeito dele'. Em uma das primeiras vezes que fui de vestido trabalhar, ele segurou na minha mão e mandou eu dar uma voltinha. Não satisfeito, emendou: 'Nossa, eu cairia de boca aí'. É algo tão absurdo que você fica sem reação, intimida, não sabe qual atitude tomar, a gente ainda se sente culpada, é horrível. Tive muitas crises durante o tempo que trabalhei nesta redação, o assédio era quase diário, até que um dia eu contei pro superior dele e a reclamação foi parar no RH. Foi o que bastou pra minha vida virar um inferno e eu acabar sendo demitida. Eu tinha acabado de voltar de uma cobertura que envolvia seleção brasileira e Copa América no Chile, estava no meu melhor momento. O que pra ele foi um triunfo, pra mim foi um alívio – por incrível que pareça.Até hoje, é bem difícil o dia a dia de trabalhar com futebol e em um ambiente onde homens são a imensa maioria. O desrespeito é quase que diário. E ainda tem aqueles clássicos horríveis que a gente sempre ouve. Se você por acaso chega de cabelo molhado: 'Estava no motel com quem?', 'E aí, marretou ontem?', 'Nossa, que bravinha, tá naqueles dias?'. Há pouco tempo tive uma discussão com um colega de trabalho porque ele falou isso e insistia em achar que estava certo porque, afinal, 'mulheres têm muitos hormônios'". - 32 anos, repórter de esporte.

 Arquivo Pessoal

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“Eu tive alguns chefes e colegas de trabalho extremamente machistas. Mas um deles, especialmente, era algo impressionante. E o pior é que quando ele falava ou fazia alguma barbaridade, os nossos colegas davam risada porque ‘esse era o jeito dele’. Em uma das primeiras vezes que fui de vestido trabalhar, ele segurou na minha mão e mandou eu dar uma voltinha. Não satisfeito, emendou: ‘Nossa, eu cairia de boca aí’. É algo tão absurdo que você fica sem reação, intimida, não sabe qual atitude tomar, a gente ainda se sente culpada, é horrível.

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Tive muitas crises durante o tempo que trabalhei nesta redação, o assédio era quase diário, até que um dia eu contei pro superior dele e a reclamação foi parar no RH. Foi o que bastou pra minha vida virar um inferno e eu acabar sendo demitida. Eu tinha acabado de voltar de uma cobertura que envolvia seleção brasileira e Copa América no Chile, estava no meu melhor momento. O que pra ele foi um triunfo, pra mim foi um alívio – por incrível que pareça.

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Até hoje, é bem difícil o dia a dia de trabalhar com futebol e em um ambiente onde homens são a imensa maioria. O desrespeito é quase que diário. E ainda tem aqueles clássicos horríveis que a gente sempre ouve. Se você por acaso chega de cabelo molhado: ‘Estava no motel com quem?’, ‘E aí, marretou ontem?’, ‘Nossa, que bravinha, tá naqueles dias?’.

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Há pouco tempo tive uma discussão com um colega de trabalho porque ele falou isso e insistia em achar que estava certo porque, afinal, ‘mulheres têm muitos hormônios'”. – 32 anos, repórter de esporte.

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2. “Desse jeito é melhor você ir jogar ali com as meninas”.

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"Uma vez, ao saber que eu era presidente de um clube de futebol feminino, um cara me perguntou se eu recebia muitas cantadas das jogadoras. É bem comum as pessoas assumirem que futebol feminino é sinônimo de mulheres lésbicas e tirarem sarro disso. De fato, tem muitas lésbicas no nosso time e a gente se orgulha muito disso. Nos nossos treinos eu já ouvi muita coisa, mas direcionada pras jogadoras. Mas a forma pejorativa com que isso é colocada incomoda bastante. Uma vez um cara gritou pro amigo dele, do lado da nossa quadra, que ele era tão ruim que iria colocá-lo pra jogar com a gente". - Júlia Vergueiro, presidente do Pelado Real Futebol Clube.

 Arquivo pessoal / Júlia Vergueiro

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“Uma vez, ao saber que eu era presidente de um clube de futebol feminino, um cara me perguntou se eu recebia muitas cantadas das jogadoras. É bem comum as pessoas assumirem que futebol feminino é sinônimo de mulheres lésbicas e tirarem sarro disso.

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De fato, tem muitas lésbicas no nosso time e a gente se orgulha muito disso. Nos nossos treinos eu já ouvi muita coisa, mas direcionada pras jogadoras. Mas a forma pejorativa com que isso é colocada incomoda bastante.

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Uma vez um cara gritou pro amigo dele, do lado da nossa quadra, que ele era tão ruim que iria colocá-lo pra jogar com a gente”. – Júlia Vergueiro, presidente do Pelado Real Futebol Clube.

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3. “Até que enfim estão colocando mais perereca nessa redação”.

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“Na minha primeira semana de trabalho um cara disse: ‘Até que enfim estão colocando mais perereca nessa redação’. Era um dos meus primeiros trampos e eu fiquei muito constrangida porque tinha acabado de ser apresentada pra ele.

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Esse cara sempre foi machistão. Ele ficava olhando pras mulheres de um jeito meio nojento. Eu sei que em dia que ele ia pra redação não usávamos vestido ou legging porque a gente se sentia mal. O pior é que tem coisa que não dá pra bater de frente, sabe? Não vale a pena porque só desgasta a saúde mental. O melhor é tentar abstrair”. – 24 anos, repórter de esporte.

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4. “Mulher falando de futebol? Simplesmente não combina”.

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"Um caso que aconteceu comigo nessa Copa, no dia da abertura: eu estava indo pra Rádio CBN pra fazer uma entrada ao vivo, participar de um programa sobre Copa, expectativa de seleção brasileira. Eu entrei no Uber que chamaram pra me levar pra rádio e eu pedi para o cara colocar no jogo. Estava ainda rolando um segundo tempo de Rússia e Arábia Saudita. E o motorista falou: 'Mas você é de alguma dessas nacionalidades?'. Eu falei: 'Não, não, eu só quero acompanhar'. Ele falou: 'Nossa, difícil mulher gostar de futebol'. Isso é uma situação recorrente.Uma coisa que acontece muito é que às vezes participo de programas esportivos do Redação SporTV, por exemplo. E você vê no Twitter uns comentários assim: "Nossa, mas essa menina está falando coisas realmente interessantes. Ela realmente sabe de futebol, olha?". "Interessante, essa menina é boa", como se fosse uma aberração a gente saber de futebol" - Renata Mendonça do blog Dibradoras.

 Arquivo Pessoal / Renata Mendonça

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“Um caso que aconteceu comigo nessa Copa, no dia da abertura: eu estava indo pra Rádio CBN pra fazer uma entrada ao vivo, participar de um programa sobre Copa, expectativa de seleção brasileira.

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Eu entrei no Uber que chamaram pra me levar pra rádio e eu pedi para o cara colocar no jogo. Estava ainda rolando um segundo tempo de Rússia e Arábia Saudita. E o motorista falou: ‘Mas você é de alguma dessas nacionalidades?’. Eu falei: ‘Não, não, eu só quero acompanhar’. Ele falou: ‘Nossa, difícil mulher gostar de futebol’. Isso é uma situação recorrente.

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Uma coisa que acontece muito é que às vezes participo de programas esportivos do Redação SporTV, por exemplo. E você vê no Twitter uns comentários assim: “Nossa, mas essa menina está falando coisas realmente interessantes. Ela realmente sabe de futebol, olha?”. “Interessante, essa menina é boa”, como se fosse uma aberração a gente saber de futebol” – Renata Mendonça do blog Dibradoras.

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5. “Até parece que nunca viu um homem nu”.

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"Durante uma entrevista ao técnico de um time de futebol masculino, um jogador apareceu nu. A entrevista era na porta do vestiário. O jogador ficou dançando tentando me desconcentrar. Foi aí que o técnico observou e disse 'até parece que você nunca viu um homem nu'". - 27 anos, repórter de esporte.

 Arquivo pessoal

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“Durante uma entrevista ao técnico de um time de futebol masculino, um jogador apareceu nu. A entrevista era na porta do vestiário. O jogador ficou dançando tentando me desconcentrar. Foi aí que o técnico observou e disse ‘até parece que você nunca viu um homem nu'”. – 27 anos, repórter de esporte.

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6. “Infelizmente seu perfil não está dentro do que procuramos”.

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"Cara, acho que a coisa mais emblemática, que mais me marcou, foi antes da Copa passada. Eu vi uma vaga de uma agência que era pra atender um cliente esportivo, jogador e eu me encaixava em todos os requisitos. Inclusive tenho um MBA em Marketing Esportivo que eu achei que seria um plus.Me responderam que eu estava "fora do perfil".Quando eu era atleta, achava que o machismo não me atingia justamente porque eu agia como um homenzinho, sabe? Hoje eu vejo como isso é foda e triste". – 28 anos, repórter e assessora de imprensa especializada em esporte.

 Reprodução

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“Cara, acho que a coisa mais emblemática, que mais me marcou, foi antes da Copa passada. Eu vi uma vaga de uma agência que era pra atender um cliente esportivo, jogador e eu me encaixava em todos os requisitos. Inclusive tenho um MBA em Marketing Esportivo que eu achei que seria um plus.

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Me responderam que eu estava “fora do perfil”.

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Quando eu era atleta, achava que o machismo não me atingia justamente porque eu agia como um homenzinho, sabe? Hoje eu vejo como isso é foda e triste”. – 28 anos, repórter e assessora de imprensa especializada em esporte.

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7. “Passou entre mais de quatro mil pessoas? Hum, o que será que você fez pra isso???”

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"Quando entrei na ESPN, ainda na época de estágio, eu passei via processo seletivo e relação candidatos/vaga era bem alta. Muita gente fazia "piadinhas" do tipo: 'Passou entre mais de quatro mil pessoas? O que será que você fez para conseguir isso?'. Outra coisa foi quando publiquei um texto sobre assédio nos tatames. Os comentários foram horríveis. No começo eu decidi que ia responder todos para tentar mudar alguma coisa na cabeça dos caras. Mas não rolou porque foram muitos e a maioria deles não queria nem ler o que eu falei, só queriam saber de ofender mesmo, meu pessoal e profissional". - Mayara Munhos, redatora na ESPN Brasil.

 Arquivo pessoal

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“Quando entrei na ESPN, ainda na época de estágio, eu passei via processo seletivo e relação candidatos/vaga era bem alta. Muita gente fazia “piadinhas” do tipo: ‘Passou entre mais de quatro mil pessoas? O que será que você fez para conseguir isso?’.

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Outra coisa foi quando publiquei um texto sobre assédio nos tatames. Os comentários foram horríveis. No começo eu decidi que ia responder todos para tentar mudar alguma coisa na cabeça dos caras. Mas não rolou porque foram muitos e a maioria deles não queria nem ler o que eu falei, só queriam saber de ofender mesmo, meu pessoal e profissional”. – Mayara Munhos, redatora na ESPN Brasil.

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8. “Vem pra cá, você fica no meu hotel”.

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“Eu comecei faz pouco tempo a fazer reportagens no gramado. E depois do meu primeiro jogo muitas pessoas começaram a me seguir nas redes sociais. Dentre eles, um jornalista de um jornal de esportes. Ele me chamou na DM e conversamos sobre futebol, ele me parabenizou e ok!

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Passou alguns dias, eu postei alguma coisa sobre a série “La Casa de Papel” e ele me chamou e falou: ‘O professor é bem sexy, né?’ E eu preferi responder que admirava a inteligência dele. E ele já veio com um: ‘Inteligência é algo afrodisíaco’. Eu não respondi.

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Ele percebeu e mudou de assunto, perguntou se eu estava ansiosa para o jogo do Brasil e falei que sim. E ele falou: ‘Estou num local que tem muitos brasileiros, todos ansiosos’ e eis que veio um: ‘Vem pra cá (Rússia), você fica no meu hotel’. Eu respondi: ‘Não, obrigada’ e ele veio com: ‘Você é uma gracinha…’. Na mesma hora, bloqueei ele e tive uma crise de choro por me sentir tão vulnerável.

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Por mais que o convite tenha sido ‘na brincadeira’, sei que se tivesse dado corda, a conversa se estenderia mais e mais. Dá medo, muito medo, porque é alguém que infelizmente posso encontrar a qualquer momento e eu nem sei como vou reagir”. – 23 anos, apresentadora em um canal de esporte.

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9. “‘Mas vocês não têm a vivência do esporte como homens”.

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"Eu não costumo sair com caras que curtem futebol porque eu já trabalho com isso, mas bem, esse curtia. Falei que eu trabalhava no Museu do Futebol e ele pirou, me encheu de perguntas sobre o museu e depois claro começou as perguntas para "testar se eu sabia de futebol". Duvido que isso ia rolar em qualquer outra área que eu trabalhasse. Já de saco cheio, eu falei: 'Meu filho tudo que se vê dentro daquele museu tem o dedo de muita mulher' e contei pra ele que praticamente toda a equipe de pesquisa e conteúdo do Museu do Futebol, incluindo a direção dessa área, é composto por mulheres. Ele não acreditou, achou impossível e começou a dar argumentos como: 'Mas vocês não têm a vivência do esporte como homens', ainda mandando um 'Veja bem, não estou sendo machista é a realidade'.Fiquei extremamente puta mas sabe aquela preguiça de lidar com homem que finge que não é machista? Então eu só respondi um: 'Se isso não é machismo eu não sei o que é', dei as costas e nunca mais nem ouvi falar do indivíduo". - Julia Terin, assistente de documentação do Museu do Futebol.

 Arquivo Pessoal / Julia Terin

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“Eu não costumo sair com caras que curtem futebol porque eu já trabalho com isso, mas bem, esse curtia. Falei que eu trabalhava no Museu do Futebol e ele pirou, me encheu de perguntas sobre o museu e depois claro começou as perguntas para “testar se eu sabia de futebol”.

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Duvido que isso ia rolar em qualquer outra área que eu trabalhasse. Já de saco cheio, eu falei: ‘Meu filho tudo que se vê dentro daquele museu tem o dedo de muita mulher’ e contei pra ele que praticamente toda a equipe de pesquisa e conteúdo do Museu do Futebol, incluindo a direção dessa área, é composto por mulheres. Ele não acreditou, achou impossível e começou a dar argumentos como: ‘Mas vocês não têm a vivência do esporte como homens’, ainda mandando um ‘Veja bem, não estou sendo machista é a realidade’.

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Fiquei extremamente puta mas sabe aquela preguiça de lidar com homem que finge que não é machista? Então eu só respondi um: ‘Se isso não é machismo eu não sei o que é’, dei as costas e nunca mais nem ouvi falar do indivíduo”. – Julia Terin, assistente de documentação do Museu do Futebol.

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10. “O que você está fazendo aqui que não está em casa cozinhando?”

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"Eu era gandula do Campeonato Paulista até ano passado e eu chegava a ouvir coisas horríveis dos torcedores como: "Eu chuparia sua b*ceta todinha" ou "O que você está fazendo aqui que não está em casa cozinhando?". É muito mais triste o jeito que eles tratam as meninas e como elas não têm respaldo ALGUM da própria Federação". - Mari Pereira, jornalista de esporte e gandula.

 Arquivo pessoal / Mari Pereira

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“Eu era gandula do Campeonato Paulista até ano passado e eu chegava a ouvir coisas horríveis dos torcedores como: “Eu chuparia sua b*ceta todinha” ou “O que você está fazendo aqui que não está em casa cozinhando?”.

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É muito mais triste o jeito que eles tratam as meninas e como elas não têm respaldo ALGUM da própria Federação”. – Mari Pereira, jornalista de esporte e gandula.

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11. “Fui entrevistar a menina para ser minha secretária e tive que chamar a RH junto, senão eu estuprava”.

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"Eu liderava uma equipe criativa formada apenas por mulheres. Em um determinado momento, percebi que minha equipe estava chamando muito a atenção do dono da empresa. Começamos a ser chamadas para almoçar todos os dias, a visitas da chefia ficaram constantes e muitas vezes inoportunas pois estávamos constantemente sendo interrompidas por alguma reunião fora de contexto.Eu sempre fui muito clara sobre ser lésbica, o que diminuía muito os avanços dos caras sobre as meninas na minha frente, mas acabava abrindo uma brecha para que eu ouvisse comentários muito pouco profissionais sobre as minhas colegas. Eu fiquei tão desesperada pra não ter que lidar mais com isso que parei de contratar meninas. Como eu tentava fazer uma blindagem das meninas, mesmo das que não eram da minha equipe, as coisas aconteciam muito as escondidas. Um dia o dono da empresa chamou minha assistente e ofereceu R$ 1 mil pra ela 'colocar a estagiária na fita dele'.Cheguei a escutar a seguinte frase da boca do meu chefe: 'Fui entrevistar a menina pra secretária e tive que pedir pra RH ir comigo, senão eu estuprava'. Sinto vergonha de ter contornado inúmeras situações de assédio e de ter simplesmente deixado de contratar meninas pela postura predatória dos meus superiores da época. Eu só precisava que funcionasse e hoje vejo que isso foi muito egoísta da minha parte.Quando fiz cinco anos de empresa ganhei uma demissão de presente. A parte perturbadora disso é que eu fui demitida no meio de uma campanha que tinha como mote o empoderamento feminino. Eles justificaram alegando que 'queriam dar uma mudada'. Fui substituída por um cara com salário maior que o meu e menos experiência. Pouco depois que eu saí, eles perderam a conta". - 33 anos, profissional especializada em marketing esportivo.
Arquivo pessoal

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“Eu liderava uma equipe criativa formada apenas por mulheres. Em um determinado momento, percebi que minha equipe estava chamando muito a atenção do dono da empresa. Começamos a ser chamadas para almoçar todos os dias, a visitas da chefia ficaram constantes e muitas vezes inoportunas pois estávamos constantemente sendo interrompidas por alguma reunião fora de contexto.

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Eu sempre fui muito clara sobre ser lésbica, o que diminuía muito os avanços dos caras sobre as meninas na minha frente, mas acabava abrindo uma brecha para que eu ouvisse comentários muito pouco profissionais sobre as minhas colegas. Eu fiquei tão desesperada pra não ter que lidar mais com isso que parei de contratar meninas.

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Como eu tentava fazer uma blindagem das meninas, mesmo das que não eram da minha equipe, as coisas aconteciam muito as escondidas. Um dia o dono da empresa chamou minha assistente e ofereceu R$ 1 mil pra ela ‘colocar a estagiária na fita dele’.

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Cheguei a escutar a seguinte frase da boca do meu chefe: ‘Fui entrevistar a menina pra secretária e tive que pedir pra RH ir comigo, senão eu estuprava’.

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Sinto vergonha de ter contornado inúmeras situações de assédio e de ter simplesmente deixado de contratar meninas pela postura predatória dos meus superiores da época. Eu só precisava que funcionasse e hoje vejo que isso foi muito egoísta da minha parte.

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Quando fiz cinco anos de empresa ganhei uma demissão de presente. A parte perturbadora disso é que eu fui demitida no meio de uma campanha que tinha como mote o empoderamento feminino. Eles justificaram alegando que ‘queriam dar uma mudada’. Fui substituída por um cara com salário maior que o meu e menos experiência. Pouco depois que eu saí, eles perderam a conta”. – 33 anos, profissional especializada em marketing esportivo.

 

 

 

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