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Suzana Pires: Amiga leitora, sua fragilidade é também sua força!

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE:

 

Veja publicação original:   Suzana Pires: Amiga leitora, sua fragilidade é também sua força!

 

 

Na coluna #DonaDeSi desta semana, a atriz Suzi Pires relata o apagão que sofreu e a levou a prestar mais atenção às suas emoções

 

 

 
Amigas leitoras, amadas! Que vocês estão arrasando nos negócios e construindo uma vida #DONADESI eu já sei, mas hoje gostaria de fazer uma perguntinha íntima: como estão suas emoções?
– Oi? Emoções? Tem isso?!

 
Sim, amiga, temos e muitas, pois somos seres dentro de hormônios e não o contrário, e, por muito tempo, éramos livres e até incentivadas a sermos frágeis, a chorar em público, a chorar para conseguir as coisas, a mudarmos de humor, mas depois que agarramos nossas vidas nas mãos, não colocamos na agenda o momento de sentir e deixar fluir. Concorda que sua agenda é apertada, uma corrida insana para conquistar suas metas, entregar no prazo, checar filhos, marido, namorado, conta bancária e um trilhão de outras coisas e, no final dessa odisseia contemporânea, lá está, seu coração, em abandono, apertado, esquecido no canto esquerdo de seu tórax?

 

 

Pois bem, eu esqueci do meu coração também, amiga, não foi só você. E, hoje, gostaria de dividir como 2017 me ensinou a jamais negligenciar emoções, pois o preço a pagar foi minha própria sanidade. Quando falo coração, não estou me referindo a amor, paixão, namorado, namorada, relacionamento com o outro. Estou me referindo ao relacionamento mais íntimo que precisamos desenvolver: nós com nós mesmas.

 

 

Sempre fui uma garota do tipo que chorava nos filmes dos Trapalhões, quando o Didi ficava sozinho; nas comédias românticas de Julia Roberts ou nos filmes da Sessão da Tarde com cachorros como Benji, Lessie ou aquele que reprisava muito, Corcel Negro, com o cavalo esquecido numa praia; e nas novelas eu também aproveitava para dar minha chorada. Digo “me aproveitava” porque acabava usando a emoção que aquele entretenimento me causava para me emocionar pela história alheia e por coisinhas minhas também. Era a tal da catarse que a arte provoca.

 

 

Toda essa dinâmica foi diminuindo à medida em que eu trocava meu consumo melodramático para isso virar meu trabalho. Eu me emocionava pelas personagens que  interpretava ou que escrevia, mas esquecia de me emocionar por mim mesma. O tempo ficava cada vez mais curto, as entregas cada vez maiores e parar para dar uma chorada ou para ter um ataque de riso foi saindo da minha lista de prioridades.

 

 

O tempo foi passando, conquistas de territórios aconteceram, eu celebrava os sucessos, lamentava os fracassos e já me preparava para a próxima batalha. Minhas lágrimas rarearam. As cenas emocionantes dos filmes ou das novelas, passei a assistir tecnicamente, entendia como havia sido feita, consertava o que precisava e fazia a entrega: a de emocionar o público.

 

 

 

Seguia, sempre de bom-humor, aparentemente leve, resolvendo problemas sérios sem me desequilibrar, gostando da gestão que havia desenvolvido em minha própria vida e das provas que eu havia dado ao mundo e a mim mesma de que, sim, eu podia e nenhuma ambição que tive era uma alucinação. As conquistas eram reais. Eu dava conta de verdade. Era faca na bota, pé de boi, tinha sangue nos olhos e conquistava um espaço único. Você também, né, amiga leitora? Yeah! Ponto para as meninas!

 

 

Até que 2017 chegou…!
O ano mais contraditório de todos os anos de toda a história dos meus 41 anos. O ano em que a vida veio com a função de me bagunçar, de desorganizar toda a minha obsessão por organização, passando como um furacão nas “gavetas” que eu, racionalmente, havia separado para tal e tal coisa, tirando meu chão e ainda me fazendo andar por cima dele! Até então, eu achava que me conhecia muito bem e acreditava que minha vida-de-conquistas era muito bem organizada dentro do meu CORAÇÃO: assumi uma responsabilidade gigantesca logo no meu primeiro trabalho como autora-titular, tendo que lidar com problemas sérios de saúde de profissionais que trabalhavam comigo e manter as coisas de pé, a história no prumo, o elenco feliz e o público participando. Uhu! Ponto pra você, Suzaninha que, mesmo nesse furacão, fez parcerias eternas.

 
Como se não bastasse esse rojão, eu ainda fazia minha peça, De Perto, Ela não É Normal, todos os fins de semana, com a casa cheia, num ano difícil para o teatro! Uau! Quanto sucesso, Suzi!!! ClapClapClap! Além disso, fiz aquisições materiais que sonhava; estive em eventos bacanérrimos; conheci pessoas incríveis; lancei filme na França; iniciei licenciamentos de produtos; assumi o roteiro do filme da minha peça, retomando seu caminho original; assumi uma postura feminista séria e engajada em ações; fui convidada para escrever aqui, na Marie Claire, a revista que mais amo na vida! Meu Deus do Céu, que garota talentosa, que sucesso, viva a Suzaninha!!!

 

 

E eis que o Viva a Suzaninha se tornou o meu primeiro APAGÃO.
(burnout para os chiques. Rs)

 

 

E o que é um apagão, amiga? É um APAGÃO mesmo: você apaga e cai. É o seu coração, que tentou se comunicar com você tantas vezes, e você não ouviu, te dando uma situada, fazendo você lembrar que ele existe na marra! Pra mim, era isso e, para os médicos, exaustão mental. Achei até elegante o termo… (risos) eu poderia ter exaustão física, mas, não, foi exaustão mental e emocional mesmo, bem contemporânea minha mazela. Ui, que garota mais updated!

 

 

Para os médicos, o que eu tive tinham muitos nomes chiques, mas, para mim, a coisa era mais simples: eu havia esquecido de CHORAR.

 

 

Meu tempo estava reservado para agir, fazer, acontecer, provar, crescer! Eu não reparei que meu coração já estava se comunicando comigo e pedindo para eu olhar para ele: com o nó na garganta que eu sentia e achei que fosse normal, do estresse, mas não! Era o que há de mais sincero no mundo: meu coração me pedindo para sentar, respirar e sentir, sem medo. SENTIR tudo, chorar tudo, rir tudo. A angústia, esse nó na garganta que sentimos, é a interrupção da nossa comunicação com nosso coração. Nós fechamos a passagem, a fruição entre a vida e ele, a carne rosada, que é nosso guia e guardião.

 

 

Sim, nosso coração é nosso guardião. Ele nos aponta o caminho, nos faz prever, ter escuta para a intuição, perceber o outro e a nós mesmas. E meu guardião me protegeu, de mim mesma, me fazendo viver o momento mais terrível e, ao mesmo tempo, mais bonito de toda uma vida até agora.

 

 

O APAGÃO me trouxe a pausa forçada. Mas, só isso, não seria suficiente. Era preciso desentupir a poluída comunicação com minhas emoções, aquelas lá do fundo do peito. Comecei a me tratar, a reorganizar minha agenda, a passar horas quieta, pensativa, falando menos, ouvindo mais, procurando lugares calmos, tentando meditar e buscando acolhimento nas pessoas que me amam de verdade, mas nada de chorar… Até que um amigo, meu grande amigo desde a adolescência, me convidou para conhecer uma corrente de oração. Nossa! Sempre gostei de Santo Antônio (nasci no dia dele), de Nossa Senhora Aparecida, de Jesus (esse cara sensacional!), mas não me comunicava com essa galera há muito tempo!

 

 
Pode ser bom voltar a “falar” com eles. Então, parti para a corrente. Afinal, eu estava tentando de tudo para me reconectar. Uma vez na corrente, duas, três, várias vezes e lá eu conseguia paz, não pensar em nada por alguns momentos, relaxar, sentir uma corrente de amor entre as pessoas e, mais importante de tudo, que existe algo maior que nós, da seara da divindade. (Nunca fui cética, nem ateia, mas havia me afastado de minha espiritualidade)

 

 

Após diversas idas à corrente de oração, finalmente, a emoção veio. E veio, de início, tão dolorida que chegava a queimar do caminho que percorria entre o coração e a lágrima, a água da reconexão saía a conta-gotas, parava, vinha mais, era, realmente, um desentupimento pesado. Nesse dia, que agradeço por ele, fiquei umas três horas só colocando para fora “água salinizada de lágrima”, difícil de início, fluindo após um tempo, dolorido e, depois, suave, com direito a lágrima entre sorrisos.

 

 

Foi o começo do resto da minha vida.

O dia em que ficou claro que, para ser uma mulher #DONADESI, precisamos ser responsáveis pelo acolhimento de nós mesmas, recebendo de bom grado tudo o que vier do nosso coração antes de querer agir ou cumprir prazos ou alcançar metas. Ser honesta consigo mesma, não ter a necessidade de estar sempre bem, maravilhosa, pronta para uma selfie de biquinho ou pronta para ter a melhor colocação, a agenda mais lotada, a equipe mais incrível, o casamento mais organizado, os filhos mais inteligentes, o corpo no peso certo, a roupa nova, o dermatologista etc. etc. etc.

 
Antes de tudo isso tem VOCÊ.

Real, de verdade, #DONADESI (na medida do possível), porque tem algo maior que nós: a nossa conexão com a vida, Deus, Universo, o que você quiser chamar, mas que, na prática, nada mais é que conversar e ouvir seu CORAÇÃO.

 

 

A partir deste ano, minha fragilidade tem se tornado minha maior força.

Pense nisso, Sinta isso, minha amiga leitora

Obrigada
Sororidade sempre
Um beijo emocionado em cada uma de vocês
Suzi Pires

 

 

 

 

 

 

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