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‘Realidade cansativa’, diz organizadora de protesto contra feminicídios, após estudante ser morta a facadas em Niterói

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“Realidade muito cansativa, de ir às ruas em defesa do direito à vida”, disse Rafaela Nima, integrante do Levante Feminista RJ e organizadora do protesto contra o feminicídio que foi convocado após a estudante Vitórya Melissa, de 22 anos, ser morta a facadas em um shopping no Centro de Niterói na última quarta-feira, dia 2. Marcado para às 18h, em frente ao estabelecimento onde a menina foi morta, a manifestação, segundo Rafaela, deverá contar com menos mulheres que o usual para evitar aglomerações. Para a organizadora, diante do cenário de feminicídio no Estado, é necessário ir às ruas em nome da estudante e das outras vítimas do crime — no Rio, 30 mulheres foram mortas entre janeiro e abril de 2021, um aumento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto de Segurança Pública.

— O ato vai ser pacífico e os participantes vão levar cartazes, velas e falar palavras de ordem. Essa menina foi silenciada, seus sonhos foram interrompidos e a gente precisa mostrar suporte neste momento, porque quando uma mulher morre todos nós morremos um pouco. Fizemos uma convocação consciente, porque se a gente ousa sair nas ruas durante a pandemia é porque os feminicídios conseguem nos matar mais do que o vírus — afirmou Rafaela.

Entre as palavras de ordem, estão: “Parem de nos matar”, “Nenhuma mulher a menos” e “Machismo mata”. Para Rafaela, que também é dirigente do coletivo União Brasileira de Mulheres de Maricá, programas e ações do governo de prevenção à violência contra mulher existem, mas podem ser mais eficazes para evitar a recorrência dos casos. Ela cita que a pandemia agravou problemas relacionados à violência doméstica e cobra medidas mais contundentes neste sentido.

— Foi uma jovem brutalmente assassinada por algo tão simples como dizer “não”. Quando fiquei me veio revolta, tristeza e um choque enorme, pois estava em plena praça de alimentação. Uma jovem que teve todos os seus sonho, como estudar fora por exemplo, interrompidos — disse.

No enterro da estudante em Niterói, na última quinta-feira, dia 6, o tio de Vitórya, Cláudio Fonseca, disse que a menina fazia o curso técnico de enfermagem e tinha planos de estudar no exterior.

— Esse jovem foi muito covarde. Pagou R$ 19 numa faca para tirar uma vida que não tem preço — lamentou Fonseca.

Aumento nos casos de feminicídio

Cada vez mais, no entanto, têm surgido outras Vitóryas, atacadas dentro e fora de casa. O Instituto de Segurança Pública (ISP) registrou no primeiro quadrimestre deste ano, marcado por quarentenas intermitentes, mais ou menos rígidas de acordo com o avanço do coronavírus, o maior total de vítimas desde o início da série histórica do crime, em 2017. Ao todo, foram 30 casos, um aumento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 20 mulheres foram mortas.

Especialistas em violência contra mulher explicam que por trás dessa alta, além das condições criadas pelo isolamento social, está também o fato de um aumento da conscientização sobre este tipo de crime, que antes era registrado como homicídio. Somente no mês de março, 10 mulheres foram assassinadas, número nunca contabilizado nos últimos quatro anos. Se forem consideradas as tentativas de feminicídio, as estatísticas apontam para uma queda em relação ao primeiro ano de pandemia.

Mas a presidente da comissão OAB Mulher/RJ, Rebeca Servaes, avalia que a taxa de mortes é um indicativo de que fatores estressores agravaram um cenário que já é muito desfavorável à mulher. Ela explica que a maior parte dos casos acontece em ambiente privado, dentro de casa.

— Muitos dos autores desses crimes perderam emprego e estão enfrentando dificuldades financeiras, por conta de demissões e cortes salariais. E as mulheres estão passando a maior parte do tempo isoladas com esses potenciais agressores, ainda mais abalados psicologicamente. Assim, elas ficam impossibilitadas de pedir ajuda a familiares ou mesmo de procurar delegacias para registrar queixa de violência — observa Rebeca.

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