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Para barrar a violência, Karen, Kauanne e Paulo levam teatro à escola pública

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original: Para barrar a violência, Karen, Kauanne e Paulo levam teatro à escola pública

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Estudantes do ensino médio na periferia de São Paulo, finalistas na categoria Educação, eles criaram um projeto que une teatro e roda de conversa para combater relações abusivas. Ofereceram oficinas para meninas se descobrirem e reforçarem a autoestima. Com apoio do Unicef, conseguiram ampliar a ação e atingir mil adolescentes de 14 a 19 anos

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Por Patrícia Zaidan e Iracy Paulina

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O teatro é uma paixão que une os estudantes Karen Samyra dos SantosKauanne Santos Patrocínio e Paulo Souza. Os três têm 17 anos e cursam o ensino médio noturno na Escola Estadual Pedro Moreira Matos, em São Miguel Paulista, bairro da zona leste de São Paulo, onde são participantes ativos do grêmio estudantil. Engajados, querem discutir os problemas da juventude da periferia, ajudar os colegas a refletir e desenvolver o senso crítico diante das aflições da vida contemporânea. Encontraram na arte um caminho para canalizar a angústia que sentem. Eles mantêm um projeto de performances teatrais, e escolheram a violência de gênero como tema. “O assunto sempre nos preocupou porque as agressões domésticas são muito presentes na região onde moramos. Conhecemos mulheres que passam por isso, mas aguentam caladas, não comentam nem com a família”, diz Karen, que é prima de Kauanne e muito amiga de Paulo. O trio forma o grupo teatral EmQuadro.

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Eles queriam amplificar as ações e colocaram um projeto no concurso “Chama na Solução”, promovido pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). A entidade queria selecionar atividades que abordassem um de três temas focados na realidade dos jovens: o empoderamento das meninas, a inserção no mercado de trabalho e as dificuldades do ensino médio. “Resolvemos acrescentar no nosso trabalho o empoderamento feminino e a prevenção da violência contra a mulher. A gente acredita que se a garota tem uma autoestima forte, consegue se proteger de relacionamentos ruins e nocivos”, diz Kauanne. O grupo concorreu com 58 equipes do país inteiro e foi selecionado. Recebeu como prêmio uma verba de 4 mil reais do Unicef para, em fevereiro deste ano, fazer apresentações destinadas a todas as turmas de ensino médio de duas escolas públicas do bairro, abarcando adolescentes de 14 a 19 anos.

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“Descobrimos o teatro em projetos socioeducativos desenvolvidos por ONGs na nossa região. E percebemos que esta é uma forma de falar sobre coisas que nos incomodam, como a violência contra a mulher. Empoderar as meninas para que não sejam vítimas é nossa missão”

Karen Samyra

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Paulo, Karen e Kauanne partiram de questionamentos básicos: Por que a violência contra a mulher acontece? Qual seria o lugar da mulher? Por que a vítima continua na relação e, às vezes, até se culpa? Dividiram a ação em duas etapas. Na primeira, eles apresentaram uma performance teatral chamada Luancias Crescentes. “Na encenação, o agressor e a vítima eram personificados como o sol e a lua. Contamos todas as fases da relação: o namoro com troca de mensagens, a paixão, o casamento, a descoberta de que o companheiro bebe, as agressões”, diz Karen, que escreveu o roteiro. No final, encenaram o relato ficcional de uma vítima fatal, elaborado a partir de casos reais que pesquisaram em jornais. Terminada a apresentação, os jovens atores propuseram uma interação com a plateia, promovendo uma roda de conversa para refletir. Paulo instigava as garotas: “Quem nunca sofreu assédio levanta a mão”, dizia. “O espantoso é que nenhuma menina erguia a mão. Ou seja, todas já haviam passado por algum tipo de assédio”, recorda ele.

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“A reação do público foi bastante espontânea e produtiva. E, infelizmente, de muita identificação com o que viu e ouviu”, lembra Karen. “Os estudantes se abriram muito mais do que a gente imaginou ao idealizar o projeto. Muitos deram depoimentos do que acontecia na casa deles. Numa das escolas, uma menina revelou que tanto ela quanto a mãe enfrentavam violência dentro de casa, rotineiramente”, conta.

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Na segunda etapa, o grupo retornou às escolas e propôs uma atividade apenas para as meninas. Elas deviam participar de quatro oficinas para promover o autoconhecimento e reforçar a autoestima. As três primeiras foram ministradas por arte-educadores. Em “Arte do encontro”, o convidado foi Alex Maurício, que falou sobre a importância de cada uma se entender para poder entender a outra e os outros. No “Teatro jornal”, Ana Magrini pesquisou com as garotas alguns casos de mulheres vítimas de feminicídio e pediu que elas recriassem as histórias mudando o trágico final. Na terceira oficina, denominada “Ceno poesia”, Jéssica Marcele abordou a valorização da beleza, propondo uma seção de maquiagem.

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Para encerrar, a quarta oficina esteve sob o comando de Karen, Kauanne e Paulo. O trio estimulou as participantes a falar de seus sonhos e de como pretendiam alcançá-los. Como tarefa de conclusão, elas escreveram uma carta para mulheres agredidas, que foram apresentadas em um sarau para convidados – entre eles diretor, professores, alunos e funcionários daquela comunidade escolar. “As meninas tiveram um envolvimento muito positivo com as oficinas. Reagiram intensamente às atividades propostas. Produziram poesias, desenhos, cenas de teatro”, conta Kauanne. “Sempre revelando muitas inquietações a partir da realidade em que vivem. Então, nosso trabalho foi gratificante, de verdade”.

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O impacto do trio
Com a performance teatral, a roda de conversa e as demais atividades que a programação inspirou, o trio de jovens atingiu um total de mil pessoas em duas escolas. Já as oficinas destinadas exclusivamente às meninas reuniram cerca de 120 estudantes, dessas instituições.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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