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“Meu amor” e “Vai lavar louça!”: jogadoras relatam assédio nos games

Saiu no site START

 

Veja publicação original:   “Meu amor” e “Vai lavar louça!”: jogadoras relatam assédio nos games

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Por Letícia Wexell

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O caso envolvendo a streamer Gabriela Cattuzzo e a marca de acessórios gamers Razer reacendeu a discussão sobre assédio nos games. São relatos de mensagens machistas e ataques direcionados em comentários nas redes sociais e também nos chats dentro do dos próprios games.

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O START conversou com jogadoras e criadoras de conteúdo para entender como elas reagem quando são vítimas de assédio, e também como enxergaram o “caso Razer”.

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“Vai lavar louça”

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Arquivo pessoal
A youtuber funBABE, que relata ser vítima de assédio em jogos onlineImagem: Arquivo pessoal

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Quando perguntadas se já sofreram assédio no meio gamer, seja apenas jogando ou trabalhando com criação de conteúdo, as garotas entrevistadas pelo START têm a mesma reposta: “sim”, ecoando uma pesquisa de 2016que indicava o tamanho do problema. Elas dizem que sofrer xingamentos, investidas sexuais e perseguições é algo comum.

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“Sofro com assédio principalmente quando estou em jogos online. Desde apelidinhos como ‘meu amor’ até ‘vai lavar louça'”, conta a youtuber funBABE, que possui um canal em que faz gameplay de jogos e já conta com quase 2 milhões de inscritos.

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“Também duvidam da minha capacidade em jogos competitivos apenas pelo fato de ser mulher, aquele velho ‘mulher só joga de suporte’.”, diz ela, em referência a um comportamento machista: atribuir a posição de suporte, de games como “Overwatch” e “League of Legends”, de forma pejorativa às mulheres.

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Os maus exemplos podem vir até mesmo do cenário profissional de eSports. Em fevereiro deste ano, durante competição oficial de “League of Legends” na Rússia, a equipe RoX enfrentou um time formado só por mulheres e decidiu banir somente Campeões do tipo suporte, em uma provocação velada às garotas. Tanto a RoX quanto outra equipe do torneio foram advertidas pelas Riot Games por “discriminação de gênero”.

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Reprodução
Trecho da partida entre a equipe feminina Vaevictis e a RoX, que foi advertida por discriminação de gêneroImagem: Reprodução

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No caso de FunBABE, ela tem que lidar com um público adolescente, que tem, em média, 13 anos de idade. Por isso, ela diz que é preciso saber o que dizer e como se comportar ao sofrer assédio. “Não posso me exaltar, porém também não posso ficar calada. É uma linha bem tênue e complicada, preciso servir de exemplo”, resume a youtuber.

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Sofro com assédio principalmente quando estou em jogos online. Desde apelidinhos como ‘meu amor’ até ‘vai lavar louça’Funbabe, youtuber

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Arquivo pessoal
“Sempre arrumam desculpa para assediar”, diz a cosplayer ZuzuImagem: Arquivo pessoal

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Assim como no caso da streamer Gabriela Catuzzo, garotas que têm uma exposição de imagem maior, seja em fotos ou transmissões ao vivo, sentem-se em condição vulnerável aos ataques. A também streamer e cosplayer Zuzu diz que já cansou de recebe comentários de mau gosto em suas transmissões.

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“Muitas pessoas acham que por você estar ‘se expondo’ ao fazer seu trabalho de entretenimento na internet, você automaticamente tem que aceitar qualquer tipo de abordagem e comentário.”, explica. “A maioria dos comentários são principalmente relacionadas ao meu corpo e minha aparência, não importa como você esteja vestida, sempre arrumam uma desculpa para assediar.”

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Não importa como você esteja vestida, sempre arrumam uma desculpa para assediarZuzu, streamer e cosplayer

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O caso recente da Razer pode ter colocando a conversa sobre assédio de novo nos holofontes, mas situações assim acontecem há bastante tempo. Pelo menos desde 2017, o UOL já mostrou histórias de assédio, como a de uma jogadora de “Rainbow Six” e também relatou o apelo de um pai para blindar sua filha de ataques em “Overwatch”.

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“A regra foi e ainda é o machismo”

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Arquivo pessoal
Para Déborah Carvalho, a tendência é que as mulheres levem a culpaImagem: Arquivo pessoal

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“Nós vivemos numa cultura que tende a culpabilizar a mulher sempre e a deixar passar casos que homens agem de forma inapropriada.”, diz Débora Carvalho, colaboradora do site Garotas Geeks, dedicado ao público feminino que curte o universo nerd.

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Ela pondera que não teria agido como Gabriela, mas reconhece que não é uma posição fácil.

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“Eu provavelmente não teria respondido assim num perfil público com um alcance como o dela, mas entendo perfeitamente a reação que ela teve.”, diz.

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É muito fácil ter suas palavras distorcidas na internet, ninguém vai conseguir ler seu tom de voz ou saber sua intençãoDébora Carvalho, do Garotas Geeks

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Parte das críticas que Gabriela Cazzutto recebeu foi de ter generalizado quando reagiu ao assédio dizendo que “homem é lixo”.

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Arquivo pessoal
Yasmin Alvarez: “A regra foi, e ainda é, o machismo”Imagem: Arquivo pessoal

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Para Yasmin Alvarez, advogada e editora do site Garotas Geeks, “A declaração dela tem o efeito similar a uma sinédoque: a atribuição de parte ao todo, baseando-se numa relação quantitativa, justamente para se referir a algo que é regra”, explica.

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“É evidente que toda regra possui exceções, mas sempre se pauta pela regra. E a regra, durante anos, foi e ainda é o machismo”.

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Ataque dos haters

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Depois que a Razer anunciou que o contrato com a influenciadora não seria renovado, Gabriela revelou que ainda estava sofrendo ameaças, e chegou a se manifestar pelo Twitter, dias depois, pedindo desculpas pela reação inicial.

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Na avaliação das criadoras de conteúdo, porém, a nota da Razer gerou ainda mais confusão. “A Razer deveria ter comentado sobre a situação como um todo. Não acho errado se defenderem, mas da maneira que fizeram acabaram parabenizando o machismo que acontece diariamente.”, diz funBABE.

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O post da empresa, reproduzido abaixo, foi usado por parte da comunidade para intensificar os ataques a Gabriela.

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Ver imagem no Twitter

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“Bastava que a empresa usasse o incidente como forma de repreender seus consumidores pelo comportamento em vez de punir a influenciadora por ser vítima de uma situação sobre a qual ela não tem o controle”, diz Yasmin.

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Para Zuzu, há outras medidas mais positivas que a Razer poderia ter adotado: “Podiam ter aproveitado a situação para promover uma campanha contra o assédio e a agressividade direcionada às mulheres gamers, população que tem crescido cada vez mais. Com esta nota, a Razer simplesmente se posicionou a favor dos agressores que atacaram a Gabi ao invés de apoiar a própria influenciadora, indo totalmente contra as próprias campanhas que veicularam no Dia da Mulher”.

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Podiam ter aproveitado para promover uma campanha contra o assédio e a agressividade direcionada às mulheres gamers, população que tem crescido cada vez maisZuzu, streamer e cosplayer

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O START entrou em contato com a Razer por meio da assessoria de imprensa e enviou perguntas sobre o caso, mas não recebeu respostas até a publicação desta notícia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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