HOME

Home

Lutadora de MMA, Erica Paes ensina mulheres a se defenderem de assédio e violência

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original: Lutadora de MMA, Erica Paes ensina mulheres a se defenderem de assédio e violência

.

Após ser vítima de violência doméstica e de duas tentativas de estupro, a ex-lutadora de MMA, campeã mundial e especialista em segurança feminina Erica Paes criou o programa Eu Sei Me Defender, para ensinar autodefesa às mulheres, como desarmar um ataque a faca, se livrar de um estrangulamento e até como evitar assédio no táxi

.

Na calmaria de um galpão na Ilha da Gigóia, onde vivem 3.000 pessoas, na zona oeste do Rio de Janeiro, mulheres de diferentes idades e regiões da cidade se encontram para lutar. O alvo? Enfrentar a violência contra as mulheres.

.

Quem conduz as aulas é Erica Paes, ex-lutadora de MMA, campeã mundial de jiu-jitsu,  única a ganhar uma luta de Cris Cyborg e especialista em segurança feminina. Em conversa com Marie Claire na academia em que atua, na ilha, a paraense fala sobre o programa Eu Sei Me Defender e sua participação na campanha do presidente eleito Jair Messias Bolsonaro (PSL).

.

Erica tornou seu projeto famoso após ir ao programa Encontro com Fátima Bernardes, em 2017, para falar sobre sua participação na novela A Força do Querer e as aulas que ministou à atriz Paolla Oliveiraque atuava como a policial e lutadora Jeiza. As alunas de Erica têm diferentes motivos para estarem ali, mas um único objetivo: não ser alvo de violência, principalmente sexual. Uma delas, viu o pai ser agressivo com a mãe. Outra, sofreu abuso do tio quando era criança. Uma terceira não sabia como reagir quando um homem ejaculou no ombro dela dentro de um ônibus. Há ainda aquela que viveu um relacionamento abusivo e foi agredida pelo namorado por um ano. Essas e outras situações inspiraram Erica a criar um projeto de prevenção que oferece aulas gratuitas para as mulheres. Confira aqui trechos da entrevista.

.

.

Marie Claire – Como nasceu o projeto Eu Sei Me Defender?
Erica Paes – Fui vítima de violência doméstica e de duas tentativas de estupro. Consegui me livrar por causa da luta, mas fiquei pensando nas tantas mulheres que passam pelo mesmo diariamente e não sabem o que fazer. O Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo, e eu queria ajudar a mudar essa realidade usando técnicas de luta para combater a violência. Por isso, em 2017, passei a dar aulas gratuitas a mulheres no Rio.

.

.

Erica Paes e turma de alunas do projeto Eu Sei Me Defender (Foto: Arquivo pessoal)

.

.

MC – Como são as aulas em sua academia?
EP – 
Não é um trabalho de defesa pessoal. Não temos socos, chutes, pontapés. É um trabalho de prevenção e enfrentamento ao feminicidío. Levo os dados e estatísticas de como as mulheres são mortas ao tatame. Alí, começamos o desarmamento com faca, que é a arma mais usada em situações de violência contra a mulher. Depois, ensino as alunas a se livrarem de um estrangulamento, por exemplo.

.

.

MC – Foi também em 2017 que você ficou famosa, após participar da novela A Força do Querer
EP –
 Sim. Muitas alunas me conheceram quando fui ao programa da Fátima Bernardes falar sobre o projeto. Mas elas chegam aqui e sabem que não é sobre luta, é enfrentamento à violência. Tem um trabalho psicológico junto às aulas. Ninguém precisa contar o porquê está aqui, mas todas acabam se tornando amigas. Somos uma família. Elas se sentem seguras e compartilham suas experiências. Algumas estão aqui porque querem prevenir uma situação de assédio, outras já passaram por abuso ou assalto e também tem aquelas que viram isso acontecer com suas mães, irmãs, amigas… Tem histórias difíceis de ouvir, mexe com todo mundo. Muitas choram ao contar seus relatos. A maioria vem porque não soube reagir ao abuso e isso é horrível, o medo de falar ou fazer algo não pode nos parar.

.

.

MC – E como enfrentar o assédio sem usar a violência?
EP – 
 A primeira coisa que trabalhamos no projeto é identificar uma situação em que você, como mulher, está em risco. Vai desde a postura  _eu recomendo que as mulheres fiquem com os braços cruzados nas costas ou cruzados e estendidos à frente do corpo_, à atenção nas ruas. Não temos que simplesmente atacar o agressor: é perigoso e é uma desvantagem para a mulher, além de triplicar o risco. Cinco mulheres são espancadas a cada dois minutos, em nosso país. São 12 feminicídios por dia e, infelizmente, esses números só crescem, então, precisamos ser acertivas no enfrentamento.

.

.

MC – Como podemos fazer isso em situações comuns como a importunação sexual?
EP –
 Com a sanção da lei que torna a importunação sexual crime e prevê penas mais altas para quem comete estupro coletivo, estamos trabalhando dobrado. A mulher pode adquirir alguns hábitos para coibir isso: dentro do táxi, nunca se sente na visão paralela do motorista. O prazer desses criminosos é ver o pânico nos olhos da vítima que, sentada na diagonal no banco detrás, consegue ver ele está se masturbando. Se você se encontrar nessa situação, finja que recebeu uma ligação _é preciso sempre lembrar de deixar o celular no silencioso para não ser pega mentindo. Diga que você tem de descer naquele momento, porque a pessoa que está ao telefone te espera na rua seguinte. Após deixar o carro em segurança, faça um boletim de ocorrência com os dados que você tem do motorista. Se for uma situação de estrangulamento numa balada, para forçar um beijo ou qualquer contato sexual, proteja seu rosto e tente falar com o agressor: lembre-o de que há câmeras no local, que ele será reconhecido. Segurança é a palavra-chave para afastar o criminoso que importuna sexualmente uma mulher. Nunca dê as costas para o agressor, mas a regra aqui é clara: se você for vítima de um assalto, o que fazer? Entregar tudo e não reagir.

.

.

MC – Você atuou na campanha do presidente eleito Jair Bolsonaro. Por que?
EP – 
Uma amiga que estava na organização da campanha, e sabia do meu compromisso com a prevenção e o enfrentamento à violência contra a mulher, me convidou para abraçar a causa e eu fui ouvir o então candidato Jair Bolsonaro. Diante da preocupação dele com os números da violência e sua intenção num trabalho mais aprofundado na área, assumi o compromisso de ajudar, não só a campanha, mas a causa. Bolsonaro me convenceu por seu real entusiasmo.

.

.

Erica Paes (Foto: Arquivo pessoal)

.

.

MC – Sendo mulher e lésbica, como foi colocar em pauta o enfrentamento à violência contra a mulher na campanha?
EP –  Minha orientação sexual nunca foi questionada, nem comentada. O importante era minha enorme experiência e competência na área e o quanto isso seria impactante para os resultados da campanha.

.

.

MC – Suas propostas foram acatadas para o Plano de Governo? Pode comentar uma ou algumas delas?
EP – 
 Sim, fiz um termo de compromisso e apresentei ao coordenador-geral da campanha, Gustavo Bebianno, e ao deputado Flávio Bolsonaro (PSL). Pedi a eles que apresentassem ao presidente. No termo, peço que Bolsonaro se comprometa a atuar com empenho e vigor no enfrentamento à violência contra as mulheres, seja de ordem física, moral, sexual, psicológica, patrimonial ou feminicídio. E pontuei algumas coisas: 1. Continuar a respeitar e preservar a Lei Maria da Penha em toda a sua forma e artigos; 2. Assegurar o comprometimento e a participação masculina por meio do programa de ressocialização do agressor; 3. Trabalhar assiduamente para diminuir e extinguir o alto índice de agressão contra as mulheres a que atualmente nosso país se encontra; 4. Incentivar e expandir o programa da polícia militar destinado a fiscalizar as medidas protetivas das mulheres e capacitar as polícias para o devido acolhimento às vítimas de violência; e 5. Intensificar o desenvolvimento do programa de prevenção e enfrentamento de violência contra as mulheres.

.

.

MC – E você estará junto ao governo em 2019?
EP –
 Não tem nada certo ainda. Mas estou acompanhando as ações e nomeações de perto. [Erica esteve presente na cerimônia de diplomação do presidente eleito, Jair Bolsonaro, em 10 de dezembro, e posou ao lado da futura ministra Damares Alves]

.

.

MC – Você pensa em expandir o projeto que tem no Rio de Janeiro para outras regiões?
EP – 
Sim! Quero fazer do Rio de prevenção à violência contra a mulher, mas expansão é o foco. Já temos polos que oferecem gratuitamente aulas de prevenção e enfrentamento a todas as formas de violência cometidas contra mulheres e também atendimento psicossocial aos “filhos da violência doméstica”. Esse trabalho é coordenado por minha mulher, que é psicóloga, por meio de seu instituto, o Renasce. Temos polos em atividade no Rio, na Barra da Tijuca, em Volta Redonda e, em janeiro, iniciaremos em Brasília, no Distrito Federal e em Barueri, no interior de São Paulo. Nosso objetivo é levarmos o trabalho para todo o país.

.

.

Erica Paes e ministra Damares Alves (Foto: Arquivo pessoal)
Erica Paes e ministra Damares Alves (Foto: Arquivo pessoal)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no linkedin
LinkedIn

HOME