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Dossiê sobre ‘lesbocídio’ aponta que SP é o estado que mais registra morte de lésbicas

Saiu no site G1: 

 

Veja publicação original: Dossiê sobre ‘lesbocídio’ aponta que SP é o estado que mais registra morte de lésbicas

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Por Ana Beatriz Serafim

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Trabalho foi apresentado em Sorocaba (SP), durante palestra sobre ‘invisibilidade de mortes de lésbicas no país’. Segundo as pesquisadoras, foram contabilizados 110 ‘lesbocídios’ no país até agosto deste ano.

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“Vocês fazem parte de uma população que está morrendo. São Paulo é o estado que mais mata lésbicas no Brasil.” O alerta foi dado a uma plateia formada por cerca de 20 pessoas, a grande maioria mulheres, durante a apresentação de dados sobre mortes violentas de lésbicas no Brasil.

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A reportagem do G1 acompanhou as pesquisadoras Suane Felippe Soares e Milena Cristina Carneiro Peres, que estiveram no Sesc de Sorocaba (SP) para apresentar o dossiê“Lesbocídio – As histórias que ninguém conta”, primeira pesquisa do país que resgata informações de mulheres vítimas de “lesbocídio” – termo adotado para designar assassinatos de lésbicas.

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Suane e Milena catalogaram dados sobre os assassinatos entre os anos de 2014 e 2017. Pelo terceiro ano consecutivo, em 2017, o estado de São Paulo teve um dos maiores números de “lesbocídios”, atingindo o percentual de 15% do total, junto com o estado do Ceará, também com 15% das mortes, seguido por Minas Gerais, com 13%.

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Percentual de lésbicas mortas em 2017 por método de execução — Foto: Dossiê Lesbocídio/ReproduçãoPercentual de lésbicas mortas em 2017 por método de execução — Foto: Dossiê Lesbocídio/Reprodução

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Conforme a pesquisa, houve um aumento de mais de 237% no número de casos de 2014 para 2017. Somente de 2016 para 2017, houve um aumento de 80% nas mortes registradas.

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A análise em 2018, ainda sob fase de acompanhamento, segue com o maior número de casos registrados em toda a história das pesquisas sobre “lesbocídios” no Brasil, com 110 mortes contabilizadas até agosto em todo o país.

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Percentual de lésbicas mortas em 2017 por faixa etária — Foto: Dossiê Lesbocídio/ReproduçãoPercentual de lésbicas mortas em 2017 por faixa etária — Foto: Dossiê Lesbocídio/Reprodução

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As palestrantes ressaltaram que caracterizar o feminicídio e o “lesbocídio” é necessário para o enfrentamento das violências praticadas contra as mulheres.

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“Acreditamos que a apresentação dos dados seja suficiente para mostrar a demanda por maior garantia dos direitos necessários à sobrevivência das lésbicas em sociedade”, explica Milena.

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Crime de gênero

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Em Sorocaba (SP), as pesquisadoras citaram a legislação brasileira para explicar crimes contra a mulher — Foto: Carlos Dias/G1Em Sorocaba (SP), as pesquisadoras citaram a legislação brasileira para explicar crimes contra a mulher — Foto: Carlos Dias/G1

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feminicídio já é parte das agendas feministas desde a década de 1970, quando a autora Diana Russell utilizou a expressão em trabalhos acadêmicos. O termo é adotado para caracterizar a violência letal cometida contra as mulheres em razão de preconceitos de gênero.

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“Preconceitos que são a expressão da falsa noção de que as mulheres são inferiores aos homens, o que gera atitudes machistas de desvalorização e ódio às mulheres.”

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Na legislação brasileira, o feminicídio é um crime hediondo desde 2015, quando a então presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei 13.104/2015 que define o assassinato de mulheres por “razões da condição do sexo feminino”. A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) também fala sobre as formas de violência contra as mulheres no Brasil.

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Lesbofobia e lesbocídio

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Palestrantes produziram o dossiê para alertar sobre negligência e preconceito com a condição lésbica — Foto: Carlos Dias/G1Palestrantes produziram o dossiê para alertar sobre negligência e preconceito com a condição lésbica — Foto: Carlos Dias/G1

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As palestrantes afirmam que produziram o dossiê para alertar sobre negligência e preconceito com a condição lésbica, denominada como lesbofobia. “Definimos lesbocídio como morte de lésbicas por motivo de lesbofobia ou ódio, repulsa e discriminação contra a existência lésbica.”

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Além de Suane Felippe Soares e Milena Cristina Carneiro Peres, o grupo foi coordenado pela professora doutora Maria Clara Marques Dias na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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A pesquisa trabalhou basicamente com dados encontrados na internet, por meio de redes sociais, notícias e obituários de jornais.

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“O Estado não tem dados completos sobre a orientação sexual das vítimas. Uma das informações mais importantes foi a falta de informação sobre os lesbocídios”, informou a pesquisadora Suane.

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Diferente do feminicídio, as pesquisadoras descobriram que o “lesbocídio” não possui frequentes características domésticas e familiares.

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“São tentativas de extermínio, catalogadas como crimes de ódio e motivadas por preconceito. São ações que demonstram a inabilidade de alguns segmentos da população de aceitarem as lésbicas e as respeitarem como pessoas em igualdade de direitos e deveres.”

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‘As histórias que ninguém conta’

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Segundo a pesquisa divulgada em Sorocaba (SP), várias motivações de criminosos foram notadas em casos de lesbocídios — Foto: Carlos Dias/G1Segundo a pesquisa divulgada em Sorocaba (SP), várias motivações de criminosos foram notadas em casos de lesbocídios — Foto: Carlos Dias/G1

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Em alguns casos, a motivação lesbofóbica era confessada pelos assassinos, que assumiram a reprovação da existência de lésbicas.

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Em outros casos, o assassino foi ex companheiro de uma mulher que se assumiu lésbica e, ao não reconhecer o amor entre mulheres, cometeu o crime como forma de vingança.

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As pesquisadoras encontraram casos em que parentes homens cometeram os crimes contra lésbicas da própria família.

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“Partem de uma ideia fundamentada no patriarcado que dá aos homens o direito sobre as mulheres da família.”

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Homens conhecidos das vítimas sem vínculos afetivos também cometeram crimes contra lésbicas, segundo a pesquisa. “Vizinhos, colegas de infância, colegas de trabalho, amigos íntimos e outros homens que de alguma maneira participaram do convívio da vítima. Neste caso, percebe-se que o poderio dos homens se estende para a sociedade como um todo.”

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Também foram encontrados casos em que os assassinos não tinham qualquer conexão com a vítima, onde os autores dos crimes utilizam crueldade para matar as vítimas, o que caracteza como crimes de ódio.

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“São casos com muitos tiros no rosto e em áreas letais, esquartejamentos, mutilações e execuções cruéis de diversas ordens, em que as vítimas são surpreendidas em estabelecimentos comerciais, dentro de suas próprias residências e em locais públicos.”

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Na região

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Entre os casos acompanhados pelas pesquisadoras, dois foram registrados na região de Sorocaba (SP) — Foto: Carlos Dias/G1Entre os casos acompanhados pelas pesquisadoras, dois foram registrados na região de Sorocaba (SP) — Foto: Carlos Dias/G1

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Sorocaba registrou um lesbocídio em junho deste ano, quando uma mulher de 32 anos foi assassinada às margens da Rodovia Raposo Tavares (SP-270). Segundo uma amiga próxima da vítima, que preferiu ter a identidade preservada, a mulher era lésbica assumida e deixou uma companheira.

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O caso está sob investigação da Polícia Civil, mas amigos e familiares desconfiam que o crime tenha sido provocado por lesbofobia. “Foi mais uma lésbica assassinada no Brasil. Uma estatística triste, mas não dá para fechar os olhos”, lamenta a amiga da vítima.

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Em 2017, uma mulher de 25 anos foi morta pela namorada dentro de um lava-rápido, no Centro de Jarinu (SP). Segundo as informações divulgadas na época, a briga entre as companheiras aconteceu por ciúmes quando a vítima deu fim ao relacionamento das duas.

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Ao G1, a ativista LGBT Larissa Sardenha Silva disse que se sente invisível. “Sinto que sou inexistente aos olhos da sociedade. Preciso ser ativista para mostrar que existimos e parece que quanto mais eu luto, mais bato no peito que sou lésbica e quero viver, trabalhar, amar e estudar, mais tentam nos calar.”

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Para as pesquisadoras, o projeto é um grito por políticas públicas que evitem a morte de lésbicas no país. “Lésbicas estão sendo assassinadas no Brasil e esses números provavelmente são superiores aos apresentados nessa pesquisa”, finalizam as especialistas.

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