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App tunisiano usa mensagem chocante na luta contra assédio sexual nas ruas

Saiu no site UOL NOTÍCIAS

 

Veja publicação original:   App tunisiano usa mensagem chocante na luta contra assédio sexual nas ruas

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Por Natalia Román Morte

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Túnis, 4 ago (EFE).- Imagine um aplicativo que ajuda mulheres a contratar o serviço de uma espécie de “segurança” para dar proteção contra o assédio sexual nas ruas? Essa é a proposta do programa tunisiano Rouijel, que tem tarifas especiais conforme a necessidade de cada mulher: de R$ 50 a hora para as mais jovens até mensalidades de R$ 840 para as mais “liberais”.

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“Você só precisa de dez segundos para chamar sua escolta, um homem que te acompanhará e protegerá quando você sair com as amigas, durante o trajeto no metrô ou enquanto você faz compras”, diz o vídeo promocional que superou as 500 mil visualizações em menos de 24 horas.

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Soa assustador. E é. Mas a ideia é chocar. O aplicativo, na verdade, é falso e criado para fundamentar a campanha “Liberar a Mulher Tunisiana”, que procura sensibilizar as pessoas contra o assédio sexual na rua. Uma iniciativa criada por um grupo de amigos, a custo zero, e com um telefone celular e as redes sociais como únicos instrumentos.

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“Quando falávamos dos nossos problemas cotidianos nos demos conta de que um dos mais frequentes é o assédio. Então decidimos reagir, mas invertendo os papéis, colocando o homem a serviço da mulher, em vez de mostrá-la como vítima”, explicou à Agência Efe a co-fundadora Nour Jihene Ghattas.

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A campanha foi um tremendo sucesso e teve que ser revelada antes do previsto.

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“Saiu do controle. Recebemos milhares de visitas na página e a imprensa não parava de nos telefonar. Além disso, tínhamos que proteger o nosso ator, o que fazia papel de presidente da startup, as pessoas começaram a xingá-lo na rua e os vizinhos já não lhe dirigiam a palavra”, confessou, com um sorriso.

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O objetivo, segundo esta estudante de Direito, de 19 anos, era “reunir todos os estereótipos possíveis para que fosse totalmente escandalosa”.

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“Queríamos criar um choque entre os tunisianos, sem importar o sexo, a idade ou a classe social”, explicou.

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E as reações não demoraram. Em poucas horas, a página no Facebook do Rouijel lotou com milhares de mensagens de internautas classificando a ação como “sexista” e acusando a empresa de atentar contra a longa batalha das tunisianas por direitos iguais, motivo de orgulho nacional.

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“Eu me senti insultada, porque poucos dias antes tinha sido assediada na rua na presença de um dos meus amigos. Acompanhada ou não, o problema continua. É humilhante ter de pagar para me sentir segura no meu próprio país quando dispomos de Polícia, Justiça e um sistema democrático. Deveríamos poder contar com eles”, afirmou Zina Larbi, uma jovem moradora do norte da capital.

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O único fato verdadeiro apresentado pelo Rouijel, lamentam os criadores, são as estatísticas. De acordo com um levantamento do Centro de Pesquisa, Estudos, Documentação e Informação sobre a Mulher (Credif), 53% das tunisianas declaram ter sido vítimas de um ato de violência sexual em espaços públicos e 75% afirmam não ter denunciado por medo.

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Apesar de o país norte-africano contar desde 2018 com uma pioneira lei contra a violência de gênero, que pune o assédio sexual com até dois anos de prisão e multa de mais de R$ 6 mil, organizações feministas apontam a falta de verba e de materiais, e temem que as medidas possam ficar só no papel.

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Para a assistente social e ativista Myriam Didier, de 38 anos, o principal obstáculo na luta contra o assédio é o tabu sobre a sexualidade que existe entre a própria população feminina.

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“É difícil denunciar porque isso quer dizer que a mulher atrai um homem sexualmente e ela se sente culpada, então abaixa a cabeça e faz como se não tivesse ouvido nada”, explicou Myriam.

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Segundo ela, quando ouviu falar do Rouijel nos principais jornais do país, antes da iniciativa ser revelada, a sensação que teve foi de estar sendo infantilizada.

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“Era como se eu tivesse voltado a ser criança, como se tivesse que sair de casa acompanhada do meu pai”, contou.

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Após a indignação inicial, ela admitiu: “É uma campanha excepcional, que vai além das grandes ONGs, que investem milhões para depois apresentar uma conferência sobre o assédio. Isso não vai mudar a mentalidade das pessoas”.

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Como o aplicativo foi de fato lançado, as usuárias que fazem o download serão direcionadas para o “Yezina” (Já basta), um programa para o celular, que luta contra o assédio sexual no transporte público – principal cenário da maioria das agressões – e que permite fazer denúncias garantindo a privacidade da vítima. EFE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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