HOME

Home

Adolescentes mineiras lançam aplicativo para combate à violência doméstica

Saiu no site G1

 

Veja publicação original:   Adolescentes mineiras lançam aplicativo para combate à violência doméstica

.

“FemHelp”, desenvolvido por jovens de Poços de Caldas, oferece apoio psicológico e reúne informações sobre direitos das vítimas de violência.

.

Por Camilla Resende

.

Um grupo de adolescentes de 18 e 19 anos de Poços de Caldas (MG) lançou um aplicativo que ajuda a combater a violência doméstica contra a mulher. Na plataforma, as vítimas podem encontrar apoio psicológico, compartilhar relatos e encontrar informações sobre as medidas que podem ser tomadas pelas vítimas de agressões.

.

O aplicativo é gratuito e pode ser baixado em celulares com o sistema Android. Na tela inicial, é possível encontrar campos como o de informações sobre leis de proteção à mulher, relatos das vítimas e um chat em que as mulheres podem conversar entre si e com a equipe do FemHelp sobre os problemas que têm enfrentado.

.

.

Primeiro projeto

.

Antes de estar disponível para download, o FemHelp era uma plataforma na internet. O site existe há pouco mais de um ano e nasceu de um projeto escolar das amigas Taisha Aparecida Almeida de Paula, Laisa Tavares e Tamara Tavares.

.

A ideia para a criação do FemHelp surgiu depois que as meninas escutaram um áudio com as denúncias de mulheres vítimas de agressão, da Polícia Militar de Santa Catarina, e decidiram intervir neste cenário.

.

.

Aplicativo tem espaço para relatos de vítimas de violência  — Foto: Camilla Resende/G1Aplicativo tem espaço para relatos de vítimas de violência — Foto: Camilla Resende/G1

.

“A gente já tinha presenciado casos de violência. A minha tia já tinha sofrido abuso psicológico pelo ex-marido, mas foi o áudio o que mais abriu o olho. Na hora que a gente escutou o áudio, já sentiu que precisava fazer alguma coisa para ajudar estas mulheres”, relembra Laisa.

.

A inspiração para criar a plataforma veio de longe da cidade em que as meninas moram, mas o problema se mostrou mais perto do que elas imaginavam. Assim que lançaram o site, começaram a receber relatos de amigas e conhecidas que passavam por relacionamentos abusivos e ainda não haviam desabafado sobre as agressões sofridas.

.

Diante deste cenário, a principal intenção do projeto foi abrir espaço para que as mulheres pudessem falar do próprio sofrimento. “Uma coisa de que as mulheres reclamavam muito era de ligar para a polícia e não ter o apoio necessário. Se sentiam sozinhas, não tinham confiança em fazer as denúncias” relata Taisha.

.

.

Jovens se reúnem para manter projeto de combate à violência doméstica — Foto: Camilla Resende/G1Jovens se reúnem para manter projeto de combate à violência doméstica — Foto: Camilla Resende/G1

.

.

Do computador para o celular

.

Transformar o site em um aplicativo para celulares foi visto pelas criadoras do projeto como uma forma de aproximar a plataforma das usuárias. Com o apoio do vereador Gustavo Bonafé (PSDB) e depois de várias reuniões entre as meninas, o projeto foi transformado em aplicativo e disponibilizado na loja do sistema Android.

.

O principal objetivo é facilitar o acesso das vítimas à plataforma. “A gente pensou que ter um aplicativo no celular seria bem mais fácil do que abrir o site em um navegador toda hora. O aplicativo é leve, não precisa de muita internet e as mulheres podem falar com a gente de um jeito muito mais simples e mais rápido”, explica Tamara.

.

.

Projeto FemHelp foi transformado em aplicativo por jovens criadoras da plataforma — Foto: Camilla Resende/ G1Projeto FemHelp foi transformado em aplicativo por jovens criadoras da plataforma — Foto: Camilla Resende/ G1

.

No pouco tempo em que está no ar, o aplicativo já recebeu relatos emocionantes. As vítimas, que não precisam se identificar, encontram na plataforma um lugar para desabafar e mostrar a outras mulheres que não estão sozinhas.

.

“A gente notou que a vítima precisa de um incentivo para falar, ela precisa saber que ela não é culpada pelo o que está acontecendo. Tentamos passar essa ideia de que ela precisa de ajuda e de que a culpa por ser vítima de violência nunca vai ser dela. Foi isso que deu a sensação de liberdade para as mulheres contarem seus relatos”, explica Laisa.

.

Em um dos relatos, intitulado como “Não é não”, uma mulher relembra um episódio que aconteceu quando tinha 14 anos. Ela conta que namorava um menino quatro anos mais velho, que parecia ser uma boa pessoa até o dia em que ela foi abusada sexualmente por ele.

.

“Demorei meses para assumir para mim mesma que tinha sido abusada, não contei a ninguém, eu sentia que não tinha ninguém. Demorei anos para contar a alguém e finalmente me libertar daquilo. Até hoje eu ouço ‘ele era um bom garoto, por que você terminou’, mas, realmente, ninguém sabe o que acontece entre quatro paredes”, escreve a usuária do aplicativo.

.

.

Da plataforma digital para o mundo real

.

Mais do que o suporte psicológico oferecido pelo espaço de desabafo e partilha de experiências, o aplicativo causa impacto na vida real das vítimas. Com a ajuda da equipe do FemHelp, as mulheres podem entender o ciclo de agressões de um relacionamento abusivo e aprender, passo a passo, que medidas tomar em sua própria defesa.

.

.

Criadores do FemHelp foram convidadas a dar palestras para mulheres de todas as idades — Foto: Daniela AlvisiCriadores do FemHelp foram convidadas a dar palestras para mulheres de todas as idades — Foto: Daniela Alvisi

.

“A gente não pode pegar e simplesmente denunciar por ela. Tem muita mulher que acaba voltando, mudando de ideia por medo. Se a gente denuncia, pode ser que a mulher volte atrás e diga que não foi nada daquilo. Então a gente direciona elas. A genta fala o que pode ser feito, conta o que pode acontecer se ela continuar nesse ciclo de abuso e a vítima pega todas as informações e decide ela mesma o que fazer”, esclarece Laisa.

.

Por vezes, a equipe do Femhelp também fica sabendo dos resultados do trabalho que fizeram.

.

“Uma das histórias mais marcantes foi de uma mulher de Ribeirão Preto que falava com a gente todos os dias pelo mesmo motivo. Ela confiou na gente como se nos conhecêssemos há anos. Depois de um tempo, ela nos contou que tomou coragem de denunciar o agressor por causa da gente”, relembra Tamara.

.

A ajuda oferecida pelas adolescentes ultrapassou todas as barreiras do virtual quando foram convidadas a dar palestras. De pré-adolescentes a idosas, elas explicaram o projeto e, pessoalmente, conheceram ainda mais histórias. O trabalho árduo foi reconhecido por toda cidade.

.

.

Adolescentes receberam homenagem na Câmara Municipal de Poços de Caldas  — Foto: Arquivo Pessoal/aishaAdolescentes receberam homenagem na Câmara Municipal de Poços de Caldas — Foto: Arquivo Pessoal/aisha

.

“Na semana da consciencia negra, a gente recebeu um convite de uma vereadora para uma homenagem na Câmara Municipal. Tinha muita gente muito legal lá, e no meio de todas essas pessoas, a gente estava lá. Eles deram um buquê de flores para cada uma, um certificado lindo. Nós éramos as mais novas de lá, e saímos com todo mundo nos parabenizando pelo trabalho. Foi muito marcante”, destaca Laisa.

.

.

De olho no futuro

.

As jovens têm colhido frutos do esforço e dedicação ao projeto que criaram. Os resultados dão orgulho às meninas, que deixam claro o desejo de que o FemHelp tome proporções maiores e ajude ainda mais mulheres. “A gente pensa até em outros países. Pensamos muito alto mesmo”, enfatiza Laisa.

.

“A gente pensa que pode ajudar sem divisão entre as mulheres. Se uma mulher precisa de ajuda, a gente quer ajudar. Queremos chegar longe com isso. É um problema comum que acaba unindo as mulheres”, finaliza a jovem.

.

*estagiária sob supervisão de Fernanda Rodrigues

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no linkedin
LinkedIn

HOME