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#UmaMinaAjudaAOutra: Se nos unirmos neste Carnaval, assédio não vai ter vez

Saiu no site AZmina:

Conhecida ou não, vá para os blocos e festas preparada para oferecer ajuda para qualquer mulher que precise

Diariamente nos vemos expostas a situações de assédio, medo e violência simplesmente por sermos mulheres. O Brasil é o quinto país em que mais mulheres são assassinadas no mundo e, por aqui, acontecem mais de meio milhão de estupros anualmente. Agressões cuja culpa, frequentemente, é colocada sobre a mulher por causa de uma cultura que nos educa a pensar assim: roupa muito curta, estava bêbada, estava querendo, ela dá pra qualquer um, e por aí vai… Se no dia a dia isso já gritante, imagine no Carnaval!

Um período que deveria ser leve e divertido com frequência acaba se tornando um evento em que policiamos fantasias e comportamentos por medo do que pode acontecer. E acontece, como foi com Tami Rodrigues, enquanto tentava se recuperar da bebedeira, começou a ser assediada por homens que tentavam beija-la à força.

“Depois desses episódios eu passei a beber bem menos e a ficar muito mais ligada em festas e bares, infelizmente.”

Mas isso não é, nem de longe, normal. Por isso, no ano passado tentamos educar os homens para um #CarnavalSemAssédio. E esperamos que o sucesso das dicas de 2016 continue repercutindo este ano.

 

Nosso foco, neste ano, são as minas. Mesmo que o assédio continue acontecendo, não precisamos encará-lo sozinhas. Afinal, um dos lemas do feminismo é a sororidade, ou seja, a irmandade entre as mulheres. E isso também é sobre socorrer uma mina passando mal no meio da rua. É sobre se meter numa briga para defender outra mulher. É sobre não concordar e lutar contra qualquer tipo de assédio, abuso ou tentativas. É sobre oferecer companhia. É sobre prestar ajuda, do jeito que for e pra quem for, principalmente quando se trata de outras mulheres.

Nesse carnaval, #UmaMinaAjudaAOutra.

E isso pode fazer toda a diferença, como lembra Maria*. No último Carnaval, ela foi levada para uma delegacia por fazer xixi na rua, sendo agredida verbalmente pelos policiais. Tinha certeza que as coisas terminariam mal até que uma advogada que ela nem sequer conhecia largou a folia de lado e a resgatou.

 

Para inspirar, confira mais histórias como essas, que rolaram em outros Carnavais – e vão crescer feito grama nesta aqui

Uma desconhecida me resgatou na delegacia

 “Estava acompanhada de um amigo e tinha bebido duas latinhas de cerveja e muita água, não estava alcoolizada ainda, mas me deu muita vontade de urinar. As filas estavam gigantescas. Eu fiquei muito desanimada pra encarar, mas era o que tinha. Ai meu amigo disse: 

— Tem uma galera fazendo xixi nessa ruazinha, vamos lá

Retruquei:

— Não vou arriscar fazer xixi na rua à luz do dia (devia ser uma ou duas da tarde). Você é homem e fica de costas, mas mulher não dá, vou ter que agachar. 

Eu sei que ele fez, e eu fui ficando apertada. Então vi um lugar que tinham dois carros estacionados, uma área de recuo, mais discreta, e, no desespero, pensei: vou encarar. Enquanto eu to fazendo o xixi, ouço uma sirene de polícia. De repente para um carro ali, a galera toda começa a correr, e aparecem dois caras do GOE (Grupo de Operações Especiais de São Paulo), inteiros de preto. Parei o xixi no meio, subi meu short. Eles tiraram o meu amigo da frente e me pegaram com força no braço. Eu subindo meu short, foi humilhante, horrível. Eu tentando abotoar a bargilha e ele me jogando no meio da rua. Um deles destranca a porta da delegacia, me joga lá dentro e começa a gritar muito comigo. Fui ficando com muito medo. Ameaçavam me prender e ficavam entrando e saindo da delegacia, gritando comigo. 

Eu tive todos os medos do mundo, tanto deles levarem meu celular, quanto deles me violentarem – esse foi o meu maior medo -, ou me agredirem fisicamente. Foi um monte de humilhação e ao mesmo tempo uma sensação de culpa: ‘Por que eu fui fazer isso? Que estúpida que eu fui por querer fazer xixi na rua e perto de uma delegacia‘. 

A única hora que eu achei que tinha ganhado um pouquinho de força lá foi quando perguntei porquê só eu tinha sido pega, sendo que havia mais gente fazendo xixi ali na frente. ‘É porque você deu azar’, ele dizia. Consegui firmar a voz: 

— Não, deve ser porque eu sou mulher né, o resto era um monte de homem, a mulher vocês usam de força física pra botar aqui dentro.

De repente, meu amigo volta com outra menina, amiga dele, com a cara cheia de glitter rosa,  já chegou se impondo: 

— O que tá acontecendo? Eu sou advogada e ela é minha cliente. 

Eles ficaram argumentando que era atentado ao pudor e ela argumentava com o código penal, que já havia saído a resolução e isso não estava mais no código penal. Eles ficaram gritando e gritando. E, de repente, eles me soltaram e falaram ‘Quer saber? Vai, vai embora, mas não passa mais aqui perto. Vaza, vaza’.

Eu sai da frente deles e desabei de chorar. Agradeci muito a menina – que eu nem conhecia, na verdade -, ela foi incrível. Fiquei em choque por muito tempo ainda com a questão da fragilidade do feminino naquela situação.  Meus medos eram muito diferentes que os medos de um homem naquela mesmo cenário.

No final eu consegui rir de tudo, mas foram momentos de muita tensão que, graças a ela, eu consegui me livrar. Hoje,  por conta disso tudo, ficamos amigas e eu guardo o contato profissional dela para qualquer emergência jurídica que eu precisar ou para indicar”

Maria*, 34 anos

Eu meti a colher, sim!

“Estávamos em um bloco em São Paulo e, no meio da folia, eu encontro uma conhecida do meu bairro discutindo com o namorado, uma briga feia. Ele ameaçava bater nela e, quando levantou a mão, eu entrei na frente dela. Quase apanhei, mas o empurrei de volta. Meus amigos seguraram ele e fiquei com a menina o dia todo. Ela chorava muito. O motivo da briga? Um cara deu em cima dela e ela não correspondeu, mas não do jeito que ele achava ideal, então foi brigar e querer bater nela. Vê se pode!”

Catarina Alves, 20 anos

Amigas me salvaram de caras que tentavam me beijar à força

“No Carnaval do ano passado, eu fui com uma amiga a um bloco de rua em São Paulo, durante a tarde. Lá encontramos mais outras meninas e começamos a beber. Depois de algum tempo, comecei a passar muito mal, de não conseguir parar em pé. Óbvio que chegaram babacas e tentaram me agarrar, me beijar a força.

Nisso, minhas amigas conseguiram me puxar, batendo neles, xingando, empurrando. Elas me levaram para um centro comercial e cuidaram de mim até eu conseguir voltar pra casa minimamente. Depois desse episódio eu passei a beber bem menos e a ficar muito mais ligada em festas e bares, infelizmente. Se eu tivesse sozinha nesse dia – ou até mesmo tivesse me perdido das minhas amigas – eu poderia ter sido estuprada. Dá muito medo pensar nessa possibilidade”.

Tami Rodrigues, 21 anos

Em 15 minas, protestamos no banheiro e calamos as ofensas

“Eu estava com um grupo de amigas num bloquinho e tinha uns banheiros químicos teoricamente divididos por gênero, mas o banheiro feminino estava com uma fila muito grande e o masculino, que era ao lado, tinha uma fila menor. Uma mina entrou na fila do masculino e os homens que ali estavam começaram a ofendê-la. 

Falavam coisas como “você é ‘traveco’ por acaso?” “mulher não entra em banheiro de homem”, entre outras frases pesadas. De repente, a gente percebeu a situação desigual: resolvemos todas da fila das mulheres ir para a dos homens  – coisa de 15 minas indo pra outra fila -, pra ver se eles falariam algo. Eis que não se ouve a voz de mais ninguém. Depois deixamos a menina como próxima no banheiro feminino e ela nos agradeceu por defendê-la.”

Catarina Alves, 20 anos

Ela tirou a blusa dela e me deu!

“Uma vez, numa festa, uma amiga estava fazendo aniversário, bebeu muito e começou a passar mal. Eu tive a brilhante ideia de colocar ela deitada no meu ombro, quando ela vomitou, sujando toda a minha blusa! Eu fui pro banheiro arrasada, porque significava fim de noite pra todo mundo.

Comecei a lavar minha camiseta, desesperada, e estava frio demais. Eis que surge uma moça, tira a blusa dela – nunca vou esquecer -, uma blusinha cinza de gola alta com manga comprida, e me dá. Depois, ela fechou o casaco dela e foi embora. Foi a anja da minha noite!”

Letícia Maia, 24 anos

Reconheci um assédio e intercedi

“Tinha acabado de chegar em casa do bloco, já era noite. Eu tenho um vizinho bem machista, sabia porque era amiga de infância da filha dele. Quando era mais nova, ele ficava me olhando. Quando passava pela portaria, o vi com uma menina mais nova que eu, aparentemente alterada.

Imaginei, por um momento, que fosse alguma parente, conhecida, talvez. Mas, depois, percebi que ele estava insistindo bastante pra que ela subisse no apartamento dele e encostava nela. Ela visivelmente não queria, então perguntei ‘quer que eu te chame um táxi?’ e ela fez uma cara de ‘sim, pelo amor de Deus’.

Ele dizia ‘não, eu levo ela pra casa’, firmei a voz. Ele me estranhou e subiu, bravo. Eu fiquei com a moça e conversamos. Ela tinha sido abandonada pelo namorado no meio do bloco (nada seguro), depois de uma briga. Meu vizinho havia abordado ela na rua, se oferecido para levá-la em casa, mas chegando lá fez pressão pra outra coisa. Eu chamei um Uber e ela foi embora, em segurança.

Luciane Vidal, 29 anos

 

 

Publicação Original: #UmaMinaAjudaAOutra: Se nos unirmos neste Carnaval, assédio não vai ter vez

 

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