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Projeto que distribui painéis solares valoriza papel da mulher no sertão de Alagoas

Saiu no site GAZETA DO POVO

 

Veja publicação no site original:  Projeto que distribui painéis solares valoriza papel da mulher no sertão de Alagoas

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Por João Rodrigo Maroni

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“Às margens do Canal do Sertão, uma obra que carrega a água do Rio São Francisco até as plantações do Semiárido alagoano, uma pequena revolução está ocorrendo na agricultura familiar da região. Uma iniciativa que une agroecologia, tecnologia e empoderamento feminino está mudando a vida de diversas famílias, melhorando a renda de produtoras rurais e suas famílias.

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O projeto Ser Tão Mulher, entre outras coisas, utiliza irrigação abastecida por energia solar em sistemas agroflorestais para produzir hortaliças e frutas orgânicas em pequenas propriedades ao longo do canal. Com previsão de duração de 2 anos, a iniciativa conta com recursos do fundo socioambiental da Caixa Econômica Federal e deve beneficiar ao todo 290 famílias. Apenas na região de Delmiro Gouveia (AL) são 150 mulheres impactadas pelo projeto em quatro municípios.

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José Reinaldo de Sá Falcão, superintendente de Desenvolvimento da Aquicultura da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura (Seagri) de Alagoas, explica que a região vivia a cultura de sequeiro e as pessoas nunca conviveram com o processo de irrigação antes da chegada da água do canal há 8 anos. “Elas sempre esperavam o inverno para produzir ou tinham uma barragem para dar água aos animais”, conta. Muitos produtores, segundo ele, já moravam na região, mas foram desalojados com a construção do canal, uma obra de engenharia com mais de 200 quilômetros.

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Para tentar mudar essa cultura e trazer conhecimento técnico de como produzir em área irrigada, o Ser Tão Mulher capacita as produtoras rurais para que sejam multiplicadoras de informação em suas famílias e comunidades. “Aqui a gente trabalha a conservação da água, gestão do solo, introdução da produção agroecológica, que é uma novidade para elas”, afirma David Costa Lopes, biólogo e técnico do Instituto Terraviva, ONG focada em agroecologia que participa do projeto.

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A ideia é adotar práticas agroecológicas em todo o processo produtivo, como adubo orgânico, controle natural de pragas, cobertura com palhada no solo, entre outras técnicas não agressivas à natureza. “Veneno aqui não entra de jeito nenhum”, crava Lopes.

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Uma das agricultoras que participa do projeto é Erivânia Gomes Martins de Oliveira. Ela cultiva coentro, rúcula, couve, alface e macaxeira em uma área de 2 hectares junto com o esposo, José Erivaldo Martins de Matos.

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“Pra mim, o projeto foi algo diferenciado. Porque antes a gente plantava só hortaliças e agora plantamos um mix de verduras, frutas e plantas nativas. São coisas que a gente não sabia antes. Antes fazíamos do nosso jeito, plantávamos de qualquer jeito e aí a planta morria e a gente não sabia por que. Hoje fazemos tudo certinho e dá uma boa diferença.”

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Erivaldo Martins Matos
A família da agricultora planta há 2 anos naquela propriedade, que é um área de assentamento em Delmiro Gouveia. “A gente cultiva o ano inteiro, só que tem épocas de maior produção. Com o calor de agora, por exemplo, o coentro fica mais difícil. Agora, a macaxeira a gente produz o ano todo”, explica o esposo de Erivânia, José Erivaldo. Toda a produção é irrigada, e as frutas e hortaliças são vendidas para a prefeitura, universidades, feira-livre e até para hotéis da cidade. O painel solar – de mil volts – instalado pelo projeto alimenta uma bomba elétrica, que leva a água até a lavoura. Antes disso, os produtores só conseguiam plantar na época da chuva.

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Troca de experiência

A produtora Maria Luzineide do Nascimento, que também integra o coletivo do Ser Tão Mulher, conta que as mulheres do projeto trocam experiências de aprendizado e levam para casa os conhecimentos adquiridos nas palestras e nas aulas de campo. “Sempre tivemos as nossas práticas de produção de orgânicos, mas sem a assistência técnica adequada. Mas é um desafio muito grande fazer a mudança de prática, precisamos avançar mais na questão do uso de adubo orgânico e conservação do solo, além da diversidade de produtos produzidos”, explica.

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O empoderamento feminino também é um tema bastante trabalhado nas conversas com os técnicos. O objetivo é valorizar o papel da mulher e fazer com que ela assuma tarefas como a coordenação das vendas da produção agrícola, e não apenas de serviços domésticos ou das atividades da roça.

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Em Água Branca, município vizinho a Delmiro Gouveia, outro grupo de famílias também foi impactado pelo Ser Tão Mulher. Na propriedade de 3 hectares de Cláudio Gonzaga e da irmã, Cláudia, a agroecologia entrou com força e hoje eles produzem alface, couve e coentro, além de frutas diversas, sem usar agrotóxicos. Os painéis solares, por sua vez, reduziram consideravelmente os gastos da família.

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“A energia aqui é caríssima, o gasto era muito para ligar a bomba. Com as placas solares melhorou mil vezes pra gente”, diz Camila Gonzaga Oliveira, filha de Cláudia. A água utilizada na irrigação vem por gravidade a partir do Canal do Sertão e a bomba elétrica auxilia na irrigação de toda a propriedade. Segundo Cláudio, a economia de luz é de 100% na roça com a energia fotovoltaica. “Todas as nossas culturas têm o sistema de irrigação e produzem o ano inteiro”, diz o produtor.

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Ainda em Água Branca a reportagem da Expedição Agricultura Familiar visitou outras produtoras beneficiadas com a energia solar e que cultivam produtos agroecológicos. É o caso de Cleonice Ricardo dos Santos, Silvânia dos Santos e Vitória de Lima Oliveira, que também participam do Ser Tão Mulher. Na propriedade de Cleonice, por exemplo, ela, o esposo, o cunhado e o sogro, plantam 3 hectares de hortaliças e frutas. “Aprendemos a cultivar, a preservar a terra e também como colher os produtos. Também aprendemos a não usar agrotóxicos”, enumera a produtora.

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Centro treina produtores para conviver com o Semiárido
Uma das iniciativas para melhorar o conhecimento dos agricultores e as boas práticas de cultura e manejo no sertão de Alagoas é o Centro Xingó de Convivência com o Semiárido, que fica no município de Piranhas (AL), ao lado da Usina Hidrelétrica de Xingó, na divisa com Sergipe. Nesse centro, que conta com áreas de treinamento, auditórios e estruturas-piloto para mostrar na prática algumas soluções tecnológicas adaptadas, é onde os produtores rurais recebem capacitação e trocam informações sobre como produzir no Semiárido.

O centro, construído e mantido pelo governo de Alagoas, governo da Espanha e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade, foi inaugurado em 2014 e recebe agricultores do Brasil todo via intercâmbio. A ideia é que eles recebam treinamentos constantes para aprender a lidar com o Semiárido e adotar o manejo e as técnicas mais adequadas para adaptar a agropecuária familiar às condições severas da região.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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