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Para Mulheres na Ciência: inscrições prorrogadas e incentivo a mais para mães pesquisadoras

Saiu no O GLOBO

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RIO – Reduzir a desigualdade de gênero na pesquisa acadêmica não é apenas necessário, mas urgente. Fonte de apoio importante para o trabalho de cientistas brasileiras, o programa Para Mulheres na Ciência, realizado pela L’Oréal em parceria com a UNESCO Brasil e a Academia Brasileira de Ciências, prorrogou as inscrições até o dia 10 de junho. Esta edição traz ainda uma novidade: o prazo de conclusão do doutorado para pesquisadoras com filhos foi ampliado, uma medida válida para mães biológicas e adotivas.

Podem participar do Para Mulheres na Ciência pesquisadoras das áreas de Ciências da Vida, Físicas, Químicas e Matemática que tenham concluído o doutorado a partir de janeiro de 2014. No caso das pesquisadoras com um filho, o prazo de conclusão é retroativo a 2013 e, para quem tem dois ou mais filhos, o prazo adicional será de dois anos (2012). Como acontece anualmente, sete mulheres serão premiadas com uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil cada, para dar prosseguimento e remanejar o dinheiro com liberdade em seus estudos.

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A divisão de desigual do trabalho doméstico impacta negativamente as carreiras das mulheres, e as cientistas não são exceção. Dados levantados pela L’Oréal junto ao instituto inglês Kite Insights mostram que para 46% das mulheres as responsabilidades no âmbito familiar foram as mais desafiadoras durante o desenvolvimento de pesquisas. Nesse sentido, a maioria das laureadas afirmou que, no meio científico, ter um filho irá impactar a carreira da mulher (86%), enquanto a maioria delas (77%) precisou tomar decisões difíceis relacionadas à maternidade — se teriam filhos, quantos e quando seria possível — para acomodar suas carreiras.

Já em pesquisa realizada pela Parent in Science, que analisou a produtividade acadêmica brasileira durante a pandemia, apenas 4,1% das mulheres docentes com filhos afirmaram estar conseguindo trabalhar remotamente. Entre os homens na mesma condição, o índice sobe para 14,9%. Apesar das mães serem mais afetadas, mulheres sem filhos ainda estão desfavorecidas em relação aos homens. Neste caso, o percentual é de 18,4% contra 25,6%.

Por outro lado, entre os acadêmicos que se beneficiaram com a prorrogação dos prazos, as mulheres são a maioria. Entre as mães pesquisadoras, 43,9% afirmaram que a política foi efetiva, enquanto entre as mulheres sem filhos, o percentual foi de 37,3%. Ao analisarmos o impacto da medida nos pesquisadores do sexo masculino, o resultado é um índice de 32,9% e 27,5%, respectivamente.

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Ano passado, a professora e pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais, Vivian Costa, foi uma das ganhadoras do programa. Ela conta que, através do incentivo, pôde não apenas continuar sua pesquisa sobre os impactos do vírus da dengue no ser humano, como iniciar estudos relacionados à Covid-19. A tarefa, no entanto, não foi simples. A pesquisadora conta que tinha tido o seu primeiro filho quando participou do programa e só conseguiu equilibrar trabalho e os cuidados com o filho, então com nove meses, graças ao apoio da mãe e do marido.

— Foi bem caótico não ter escola para conciliar tudo. Eu consegui com ajuda da minha família, que sempre me apoiou. Mas nem todas as pesquisadoras têm essa rede e, por isso, eu acho que é essencial que exista esse tipo de incentivo para mães cientistas. A gente tem lutado muito para ter igualdade na área da ciência, que é tão importante para a humanidade. Então, para mim, ganhar o prêmio em um momento em que a ciência brasileira é cada vez mais desafiada e julgada, me fez ver que, apesar de tudo, eu estava no caminho certo — explica.

A premiação no programa Para Mulheres na Ciência trouxe ainda outros frutos para Vivian. Em maio deste ano, ela foi condecorada na Academia Brasileira de Ciências, aos 36 anos. A pesquisadora acredita que as conquistas proporcionaram maior visibilidade aos seus estudos, que são importantes, inclusive, para minimizar os efeitos da pandemia na saúde dos brasileiros.

Para a fundadora da Parents in Science, Fernanda Staniscuaski, o principal objetivo do grupo é levantar dados, que serão revertidos em políticas públicas capazes de proporcionar reconhecimento às mulheres cientistas, assim como aconteceu com Vivian.

— Mesmo hoje, no mundo, ainda menos de 30% das cientistas são mulheres. Entre as bolsistas de produtividade da Academia Brasileira de Ciências, há 15 anos apenas 36% são mulheres. Então, por isso, nosso objetivo é levantar dados para mudar essa realidade. Sabendo também que mulheres grávidas têm pausa na carreira, eu espero que tenhamos uma competição mais justa nesta edição do programa — pontua Fernanda.

Uma das ações afirmativas implementadas com o apoio da Parents in Science foi a possibilidade de inserir no Lattes, currículo público e obrigatório para todos os cientistas do Brasil, o período em que ficaram de licença-maternidade. Atualmente, mais da metade dos cadastrados na plataforma (54,5%) são mulheres. Por isso, o novo campo auxilia mulheres a justificarem seus períodos reduzidos de produção acadêmica, fazendo com que elas não sejam descredibilizadas enquanto grandes contribuidoras na ciência.

A visão da diretora científica da L’Oréal Brasil, Cristina Garcia, é complementar. Segundo ela, a iniciativa vai ajudar a sociedade a compreender que mulher e ciência são uma dupla inseparável.

— Estamos sempre atentos aos principais desafios que as mulheres enfrentam no meio científico e esse ajuste nos permite promover uma maior inclusão dessas cientistas, que enfrentam dificuldades para equilibrar a maternidade com a vida profissional. — afirma. Todo esse movimento encontra uma ressonância enorme que só reforça as nossas crenças da necessária união de duas forças tão relevantes para a nossa sociedade: a ciência e as mulheres. O mundo precisa de ciência. E a ciência precisa de mulheres!

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A dica para se destacar no projeto é ousar, como aponta a cientista e júri do programa Márcia Barbosa. Para além da singularidade do estudo, os pré-requisitos na hora da seleção são qualidade científica e impacto da pesquisa, produtividade da candidata e potencialidade de sucesso do estudo.

— A capacidade das jovens cientistas brasileiras é imensa e o nosso desejo é que elas não tenham vergonha de submeterem seus projetos. As mulheres têm uma tendência de nunca se acharem boas o suficiente, mas todas são e essa é a oportunidade de desenvolverem ainda mais seus projetos dos sonhos — aponta a jurada.

Em 16 anos, o programa Para Mulheres na Ciência já reconheceu e incentivou 103 cientistas brasileiras, premiando a relevância dos seus trabalhos, com a distribuição de mais de R$ 4,3 milhões em bolsas-auxílio. O regulamento completo e mais informações sobre o programa estão disponíveis no site. Para se inscrever, é importante que a candidata altere o idioma da página para o Português. As vencedoras serão conhecidas a partir de agosto.

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