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Pandataria, a ilha onde imperadores romanos exilavam mulheres consideradas promíscuas

Saiu no site BBC BRASIL

 

Veja publicação original:    Pandataria, a ilha onde imperadores romanos exilavam mulheres consideradas promíscuas

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A ilha de Ventotene abriga um antigo vulcão em frente à costa de Nápoles, na Itália, mas também é conhecida, entre outras coisas, por ser berço do sonho de uma Europa unida.

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Foi nessa ilha, usada pelo regime fascista para isolar dissidentes políticos, que Altiero Spinelli e Ernesto Rossi escreveram o Manifesto de Ventotene, um dos textos fundadores do federalismo europeu.

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Mas além disso, essa ilha no mar Tirreno tem uma fama que remonta à Antiguidade.

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Há mais de 2 mil anos, Ventotene se chamava Pandataria e serviu como local de exílio para mulheres aristocratas com comportamento considerado inapropriado pelas normas da sociedade da época.

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No Império Romano, mulheres podiam ser punidas pelo seu comportamento sexual.

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Pena de morte para mulheres adúlteras

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No ano 18 a.C., o imperador Augusto promulgou um conjunto de leis, a lex Iulia, com o objetivo de moralizar a classe alta de Roma, fortalecendo instituições como o casamento e estimulando a procriação.

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O adultério foi declarado delito privado e público, para o qual a pena era o exílio em um lugar distante de Roma.

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Relevo aparentemente em gesso retrata o imperador AugustoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAugusto foi herdeiro de Júlio César e imperador romando de 27 a.C. a 14 a.C.

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Lex Iulia de Adulteriis Coercendis também permitia que pais punissem filhas adúlteras e seus amantes com a morte.

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Maridos traídos eram obrigados a se divorciar e tinham a opção, sob certas circunstâncias, de matar suas mulheres.

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O delito só era atribuído a mulheres.

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A história de Júlia

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Busto representa Júlia, a VelhaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionJúlia, a Velha, era a única descendente biológica do imperador Augusto – por isso, era tão valiosa como esposa

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O próprio imperador sentiu os efeitos de sua lei na carne… mas, claro, não tanto quanto sua filha, Júlia, a Velha.

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A esposa de Augusto, Lívia, convenceu o imperador a favorecer o filho dela de um outro casamento, Tibério, como possível sucessor.

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Para aproximá-lo da família, o imperador forçou Tibério a se divorciar e se casar com Júlia, que acabara de ficar viúva pela segunda vez.

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A união, celebrada em 11 a.C., foi indesejada e infeliz para ambos os cônjuges, e ficou ainda mais amarga quando um filho de Júlia morreu cinco anos mais tarde.

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Tibério se exilou voluntariamente, deixando Júlia sozinha em Roma, onde começaram a circular rumores de que ela levava uma vida promíscua.

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Seu comportamento se tornou politicamente perigoso quando envolveu um caso com um homem chamado Júlio Antonio.

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Ele era filho de Marco Antônio, que fora amante de Cleópatra e se suicidara após perceber que seria impossível fazer frente à invasão do Egito por legiões lideradas nada menos do que pelo pai de Júlia, agora imperador de Roma.

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A inimizade entre as duas famílias não havia arrefecido, o que levou Augusto à ação: depois de ameaçá-la de morte por adultério, a enviou para Pandataria, onde não havia homens e as condições de vida eram hostis.

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Apesar de ficar privada de certos luxos, como tomar vinho, Júlia foi contemplada com piscinas e um teatro que Augusto mandou construir no ponto mais alto da ilha – que tem menos de 2 quilômetros quadrados.

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Também foram criados um porto, tanques e um viveiro de peixes para assegurar o abastecimento constante de água doce e pescados frescos.

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Júlia permaneceu em Pandataria por dois anos, quando foi transferida para um confinamento mais ameno, na cidade portuária de Régio.

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Ela morreu dez anos mais tarde, pouco depois do falecimento de seu pai. Há relatos de que Júlia morreu desesperada e doente, após ter sido supostamente maltratada por Tibério, que sucedera Augusto como imperador.

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Não está claro como teriam sido esses maus tratos – há relatos de que Tibério reteve suas posses e dinheiro, e de que ela teria sido presa.

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Agripina, a filha

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Imagem representa o imperador TibérioDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionTibério também esteve envolvido nas desventuras da filha de sua esposa

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Agripina Maior, filha de Júlia e de seu segundo esposo, Marco Agripa – importante general, político e amigo íntimo do imperador Augusto -, também foi exilada para Pandataria, como sua mãe.

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Agripina foi uma figura importante nas disputas pela sucessão ao final do reinado de Tibério.

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Ela era esposa de Germânico César, sobrinho-neto de Augusto por adoção e filho adotivo de Tibério, e deu à luz nove filhos, dos quais seis chegaram à idade adulta.

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Por onde passava, o casal deixava boas impressões – que acabaram despertando desconfiança e inveja em Tibério, que passou a ver Germânico como uma possível ameaça a seu poder.

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Na província da Germânia, Agripina e Germânico ficaram famosos devido a atos de bravura; em ações caridosas no Egito, o casal foi aclamado pelo povo.

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Até que, em uma viagem de Agripina e Germânico à Síria, este último ficou doente e morreu. Tudo apontava que amigos de Tibério tinham envenenado a vítima.

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Agripina não hesitou em acusar Tibério em seu retorno a Roma, assim como fizeram muitos romanos, que adoravam Germânico e o consideravam herdeiro do trono.

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Morte de Germânico retratada em pintura de Nicolas Poussin, datada de 1627Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPintura de Nicolas Poussin retrata Germânico após envenenamento

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Três anos depois, após a morte de um filho de Tibério, Druso, os filhos de Agripina e Germânico estavam na linha direta para a sucessão.

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Mas Tibério conseguiu acusar Agripina de traição e mandá-la para o exílio.

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No ano de 29 d.C., Agripina foi enviada a Pandataria, onde morreu de fome, quatro anos depois.

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Suspeitou-se que Tibério tivesse ordenado sua morte.

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Um filho e três filhas dela sobreviveram; no final, Tibério não conseguiu impedir que este filho, Calígula, assumisse o poder.

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No entanto, uma de suas filhas seguiu a mesma sina que Agripina e sua mãe, Júlia.

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A neta

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Busto de Júlia LivinaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNa aparência, Júlia Livina e suas irmãs tinham uma vida privilegiada fornecida pelo irmão, mas ele fazia o que queria com elas

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Júlia Livila era a filha caçula de Agripina e Germânico.

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Assim como suas outras duas irmãs, Agripina Menor e Júlia Drusila, Livila desfrutou, nos primeiros anos do reino de seu irmão Calígula, de privilégios – ainda que, na realidade, estivesse sob controle dele.

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Historiadores da época indicaram que Calígula as prostituía e chegou-se a dizer que ele mantinha relações incestuosas com elas, algo difícil de confirmar.

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No entanto, no ano de 39 a.C., Agripina Menor e Júlia Livina se envolveram em uma conspiração fracassada para derrubar Calígula e colocar em seu lugar o viúvo de Júlia Drusila.

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As duas irmãs foram exiladas para as ilhas Ponza, o arquipélago do qual Pandataria faz parte.

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Júlia Livina voltaria a Roma depois do assassinato de Calígula no ano 41, resgatada do exílio por seu tio paterno, o agora imperador Cláudio.

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Descrita como implacável e sexualmente insaciável, Messalina aparece em ilustração, de autoria de Auguste Leroux, nua e ao lado de uma escrava e de SênecaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDescrita como implacável e sexualmente insaciável, Messalina aparece em ilustração, de autoria de Auguste Leroux, nua e ao lado de uma escrava e de Sêneca

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Mas a terceira esposa de seu tio, a influente Messalina, não gostou do carinho que seu marido mostrava ter pela sobrinha. Com intrigas, ela conseguiu que o próprio Cláudio acusasse Livina de adultério com o filósofo, político, orador e escritor romano Sêneca.

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A acusação era altamente improvável, mas Sêneca era considerado um inimigo político potencial do novo imperador. Inventar uma relação com a já indesejável Júlia Livina se mostrou um plano de mestre.

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Sêneca viveu no exílio na Córsega por oito anos.

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A neta de Júlia, a Velha, e filha de Agripina Maior foi enviada para Pandataria.

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Alguns meses depois, seu tio ordenou sua execução. Ela aparentemente morreu por inanição.

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Toda uma tradição

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Ilustração mostra Nero sobre cavalo
Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNero perpetuou tradição de exilar mulheres em Pandataria

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Avó, mãe e neta não foram as únicas visitas forçadas a Pandataria; houve várias outras.

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O filho de Agripina Menor, Nero, inventou uma acusação de adultério contra sua esposa Octavia, filha do imperador Cláudio, e exilou-a em Pandataria. Ele então casou-se com Popea Sabina.

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O exílio de Octavia causou protestos públicos em Roma – a ponto de Nero se ver pressionado a se casar novamente com ela. Mas ele resolveu ordenar sua execução.

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Alguns dias depois, Octavia foi morta em um banho a vapor, onde teve suas veias cortadas.

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Sua cabeça foi cortada e enviada a Popea.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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