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‘Onlys’: pesquisa mostra rotina de mulheres que são as únicas entre homens no trabalho

Saiu no site O GLOBO

 

Veja publicação original:  ‘Onlys’: pesquisa mostra rotina de mulheres que são as únicas entre homens no trabalho

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Essas profissionais são mais confundidas com iniciantes e mais propensas a sofrer assédio. ‘É um pedágio físico e emocional.

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NOVA YORK — A última vez que Kaitlin Savage participou de uma reunião que contou com a participação de outra mulher foi há meses. Savage trabalha na indústria de energia solar, na qual os homens dominam, superando as mulheres numa proporção de três para um. Na maior parte de seu tempo, ela está cercada por homens, que, muitas vezes, afirma, subestimam seu trabalho, flertam com ela, ligam depois da meia-noite por “motivos pessoais” e lhe fazem elogios inapropriados.

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— É emocionalmente desgastante — conta Kaitlin.

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Ela faz parte de um grupo chamado em pesquisa da LeanIn.org e da McKinsey & Co. de “The Onlys” (ou “As únicas”, numa tradução livre). São profissionais que, frequentemente ou sempre, são a única mulher na sala de reunião. De acordo com a pesquisa, que ouviu mais de 64 mil funcionárias em 279 empresas nos Estados Unidos, uma em cada cinco mulheres se inclui nessa categoria. Esse número sobe para 40% para profissionais em funções seniores ou técnicas.

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As “Onlys” enfrentam mais desafios no local de trabalho do que outras mulheres, segundo o estudo, que apontou ainda que metade dessas profissionais disse ter que fornecer mais evidências de suas competências do que outras. E mais: são duas vezes mais propensas do que outras mulheres pesquisadas a serem confundidas com alguém com cargo ‘júnior’. Elas também têm quase o dobro de chances de serem submetidas a comentários humilhantes e duas vezes mais propensas a relatarem ter sofrido assédio sexual em suas carreiras.

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— Essa foi toda a minha vida profissional, basicamente — disse Kristen Fanarakis, que passou 15 anos trabalhando em finanças.

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Kristen fez parte de muitas equipes exclusivamente masculinas e não teve uma amiga no trabalho até os 30 anos de idade, contou. Embora tenha tido muitos colegas e mentores do sexo masculino ao longo dos anos, afirmou, outros homens a trataram com desrespeito. Em certa ocasião, um de seus chefes disse que ela poderia “lidar bem com as fraldas”, lembrou ela. Outro impunha metas impossíveis de serem cumpridas, e fazia avaliações de desempenho ruins sobre seu trabalho, mesmo quando ela fechava novos negócios para a empresa ou cumpria todos os seus objetivos, acrescentou.

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Essas experiências são ainda piores para as mulheres negras. Quase metade disse que muitas vezes são a única pessoa negra no trabalho. São mais propensas a se sentirem excluídas, avaliadas minuciosamente e acompanhadas de perto, segundo a pesquisa.

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“Há um grupo de mulheres que são colocadas em posições isoladas e sofrem escrutínio permanente”

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– RACHEL THOMAS
   Presidente da Lean In

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Mais de 90% das empresas pesquisadas disseram que diversidade e inclusão são uma prioridade, mas, pelo quarto ano consecutivo, Lean In e McKinsey descobriram que as empresas americanas quase não fizeram progressos no aumento da representação das mulheres no local de trabalho. Profissionais do sexo feminino representam 48% dos funcionários de cargos iniciais na empresa , mas são apenas 22% dos executivos seniores, pois as companhias não são capazes de promover as mulheres, segundo o estudo.

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Mesmo aquelas que conseguem ultrapassar os estágios iniciais de suas carreiras muitas vezes não conseguem progredir na empresa. As “Onlys” são mais ambiciosas do que as outras mulheres, segundo o estudo Lean In / McKinsey: quase metade disse que querem o cargo mais alto e quase 80% disseram que desejam ser promovidas. Mas elas são menos propensas a permanecer em sua própria empresa: mais de um terço das “Onlys” disseram que estão pensando em deixar o emprego nos próximos dois anos.

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— Há um grupo de mulheres que são colocadas em posições muito isoladas e sofrem escrutínio permanente — disse Rachel Thomas, co-fundadora e presidente da Lean In. — Podemos supor que a razão pela qual elas estão buscando outro emprego é porque estão tendo uma experiência marcadamente pior do que outras mulheres.

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Kristen Fanarakis, por exemplo, acabou deixando sua carreira financeira para trás: foi estudar administração, escreveu um livro e, em 2017, lançou uma startup de roupas de trabalho para mulheres:

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— Ser uma ‘only’ é como pagar um pedágio físico e emocional.

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Rachel Thomas suspeita que muitas empresas cumprem a cota de diversidade contratando apenas uma ou duas mulheres, uma estratégia que, segundo ela, “dói mais do que ajuda”.

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“Era como se eu fosse a garota que eles arranjaram só para ter uma mulher na equipe”

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– MOLLY OSWAKS
  Ex-funcionária de site de notícias sobre tecnologia

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Em seu primeiro emprego fora da faculdade, Molly Oswaks era uma das duas mulheres na equipe do site de notícias de tecnologia Gizmodo. Ela disse que seus colegas postavam conteúdo pornográfico no bate-papo do grupo da empresa, acrescentando que os leitores a atormentavam na seção de comentários de suas matérias, escrevendo críticas como a que ela “estava dormindo no trabalho”.

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— Não havia respeito só porque as mulheres estavam lá. Era como se eu fosse a garota que eles arranjaram só para ter uma mulher na equipe.

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Procurada, a Gizmodo não respondeu a um pedido de comentário.

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Outros estudos já descobriram que, se as mulheres compõem 20% de um grupo, elas representam apenas 10% da conversa entre seus pares.

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— Essas empresas querem uma diversidade de ideias, mas contratar um número mínimo de mulheres produz uma forma diluída de diversidade — concluiu Rachel.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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