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Nos direitos humanos, no esporte, na cultura: 10 mulheres que marcaram 2018

Saiu no site DONNA

 

Veja publicação original:  Nos direitos humanos, no esporte, na cultura: 10 mulheres que marcaram 2018

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Por Thamires Tancredi

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Nos direitos humanos, no esporte, na cultura, na quebra de padrões: elas viraram notícia e provocaram o debate. Muitas inspiraram, algumas entraram para a história. O time Donna selecionou 10 nomes que deixaram sua marca neste ano de 2018. Confira:

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Angela Ponce

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Foto: Divulgação

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Ela pode não ter levado para a casa a coroa de Miss Universo, mas talvez seu nome seja o mais lembrado ao falar da última edição do tradicional concurso de beleza. O motivo? Angela Ponce é a primeira mulher trans da história a concorrer pelo título de mais bela do mundo. Antes da final, disputada na Tailândia, ela já havia atraído holofotes ao ser, também, a primeira transexual a vencer o Miss Espanha.

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O feito de Angela foi celebrado em uma emocionante homenagem no palco do Miss Universo, com direito a aplausos e uma declaração inspiradora: “Minha esperança é que amanhã eu possa viver em um mundo com igualdade para todos. Que simplesmente entendamos que somos seres humanos. (…) Se eu posso dar isso ao mundo, eu não preciso ganhar o Miss Universo. Eu só preciso estar aqui”.

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A conquista veio seis anos após a organização do concurso eliminar a regra que proibia candidatas transgênero de entrarem para o páreo. Além de representar a Espanha, Angela é voluntária em uma ONG de seu país que ajuda crianças e famílias a lidarem com questões de identidade de gênero.

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Camila de Moraes

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Foto: Caroline Bicocchi/Divulgação

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Somente 34 anos depois que a diretora Adélia Prado lançou o filme Amor Maldito (1984), outra cineasta negra conquistou o feito de ver uma produção chegar ao circuito comercial no país. Gaúcha radicada em Salvador, Camila de Moraes assina a direção do documentário O Caso do Homem Errado (2017), produção independente que chegou a ser pré-selecionada para ser a indicação brasileira de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2019.

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O filme não chegou a ser selecionado, mas o reconhecimento veio: além de ser destaque em premiações como o Festival de Cinema de Gramado, O Caso do Homem Errado foi escolhido melhor longa no Festival Internacional de Cine Latino (Latinuy). Ciente da importância de ser uma mulher negra na produção cinematográfica, Camila de Moraes escolheu também um time majoritariamente composto de pessoas negras para produzir a película que narra os acontecimentos do assassinato de Júlio César de Melo Pinto, operário negro executado pela Polícia Militar em Porto Alegre ao ser confundido com um assaltante em 1987.

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“Fico muito feliz em estar nessa posição de mulher, negra, gaúcha, fazendo cinema e recontando outra história, contando a nossa história com o nosso olhar”, refletiu Camila em entrevista à colunista de Donna Duda Buchmann.

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Fernanda Lima

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Foto: Paulo Belote/TV Globo

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No ar desde 2013, o programa Amor & Sexo tem levado à tela da TV Globo discussões ainda consideradas tabu pela sociedade. Com leveza e informação, já falou de temas como sexualidade, relacionamento e identidade de gênero, sob o comando de Fernanda Lima. Mas um episódio em especial sobre conservadorismo gerou polêmica e levantou uma onda de ódio contra a apresentadora gaúcha – mas também acendeu debates nas redes sociais.

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“Vamos sabotar as engrenagens desse sistema homofóbico, racista, patriarcal, machista e misógino. Vamos jogar na fogueira as camisas de forças da submissão, da tirania e da repressão. Vamos libertar todas nós e todos vocês. Nossa luta está apenas começando”, discursou, na abertura do episódio. Após a declaração, Fernanda Lima foi alvo de ataques pelo Instagram por parte do cantor Eduardo Costa, que a chamou de “imbecil”.

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Além de responder às ofensas, Fernanda entrou com um processo por danos morais contra o cantor, que havia pedido desculpas públicas. “Não repara o mal que fez à vítima. Faz parte do machismo estrutural transformar a vítima em ré. Era justamente esse o assunto do programa Amor e Sexo que tanto indignou o meu agressor”, declarou.

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Hannah Gadsby

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Foto: Netflix/Reprodução

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Não é exagero dizer que ela revolucionou o modo como o stand-up comedy é feito. Foi com o programa especial Nanette, lançado em junho pelo serviço de streaming Netflix, que o nome da australiana ganhou fama pelo mundo ao misturar comédia com crítica social. A comediante, claro, faz rir, mas também promove reflexão ao questionar o próprio humor falando de temas como homofobia e violência.

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Ela nasceu em uma região da Tasmânia, onde, até idos dos anos 1990, ser homossexual (como ela) era considerado ilegal. Em uma hora de show, Hannah dispara contra homens apontados como abusadores, como Harvey Weinstein e Bill Cosby, desfere críticas ao pintor Pablo Picasso, além de tratar de temas como disparidade salarial: “Não queria ser homem branco hétero. Nem que me pagassem. Se bem que o salário seria muito melhor”.

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Com tiradas certeiras e um estilo que arranca risadas em meio a um monólogo de drama pessoal (o spoiler acaba aqui, se você ainda não assistiu), não demorou até que Hannah Gadsby virasse trending topic nas redes sociais – e, pelo boca a boca, seu show figurou entre os mais comentados da plataforma.

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Isabelly Morais

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Foto: Divulgação

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Não deu para a seleção masculina de futebol na Copa da Rússia, mas as mulheres fizeram história no Mundial fora das quatro linhas. Aos 20 anos, a mineira Isabelly Morais foi a primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo na televisão brasileira. Foi dela a voz ouvida por quem acompanhava a transmissão pelo canal por assinatura Fox Sports na goleada da Rússia contra a Arábia Saudita, quando Gazinskiy abriu o placar para os donos da casa.

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Mas, bem antes do campeonato, Isabelly já havia feito história ao ser também a primeira mulher a narrar uma partida em Minas Gerais. Apaixonada desde pequena por futebol, a estudante de Jornalismo trabalha como narradora e repórter esportiva da Rádio Inconfidência, onde, com apenas quatro meses de casa como estagiária, convenceu o coordenador de esportes de que seria a melhor aposta para comandar os microfones.

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“Enquanto a narração dos homens é avaliada pela qualidade, muita gente me critica simplesmente por ser mulher. Óbvio que é diferente uma voz feminina nos jogos. Tudo o que é novo causa estranheza. Mas acredito que essa cultura está mudando. Um dia vai ser natural ouvir um jogo com a narração de mulheres”, declarou ao jornal El País.

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Maísa Silva

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Foto: Reprodução/Instagram @maisa

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A garotinha de cabelos milimetricamente encaracolados, dona de algumas das estripulias inesperadas mais engraçadas da TV, cresceu e apareceu. Agora, aos 16 anos, Maísa Silva dá o seu recado nas redes sociais – e acaba de se tornar a adolescente mais seguida do mundo, com 18,6 milhões de fãs, desbancando a estrela do seriado Stranger Things Millie Bobby Brown.

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Mesmo com a pouca idade, a atriz já respondeu com desenvoltura e maturidade a comentários negativos sobre o seu corpo ao postar uma foto de biquíni: “O problema é que o corpo das mulheres nunca vai estar ok. Se ela for magra, vai ser ‘doente’, ‘anoréxica’. Se ela for gorda vai ser ‘obesa’ e se for musculosa vai ser ‘musculosa demais’. Só que, mano, o corpo é daora (sic). É o corpo em que você é feliz e ponto, que saco, não cobrem isso”.

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E teve mais: em um papo reto com os seus seguidores, Maísa já falou de temas como o tabu acerca da menstruação e da transição capilar. Na televisão, protagonizou uma polêmica durante a última transmissão do programa Teleton do SBT, ao “cortar” a fala do apresentador Raul Gil, que se referia ao presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

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Marielle Franco

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Foto: Divulgação

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2018 será marcado por um episódio de violência política.  Na noite de 14 de março, a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) de 38 anos foi executada a tiros no carro onde estava, depois de participar de um evento no Rio. O motorista Anderson Gomes também foi assassinado. O crime repercutiu no país e no mundo, mas ainda está longe de ser solucionado.

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“Mulher negra, cria da Maré e defensora dos Direitos Humanos.” Era assim que Marielle se descrevia nas redes sociais, pontuando sua cor, seu gênero, sua origem e a missão que escolheu seguir na política. Dois anos antes, ela fora eleita em sua primeira tentativa a uma vaga na Câmara Municipal, conquistando mais de 46 mil votos. Em sua trajetória política, Marielle fez críticas à intervenção federal no Rio, denunciou a brutalidade policial e a violação de direitos humanos e defendeu os direitos das mulheres, dos negros e dos LGBTs.

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O assassinato gerou revolta, e o nome de Marielle foi usado para o bem e para o mal. Primeiro, foi alçado como símbolo da luta pelos direitos humanos e da causa da mulher negra com a hashtag #MariellePresente. Depois, uma onda de notícias falsas sobre a vereadora se espalhou em redes sociais e grupos de WhatsApp, citando que ela teria sido eleita com dinheiro do tráfico, entre outros boatos infundados.

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Passados nove meses, ainda não há conclusão definitiva do inquérito. Neste mês, o general Richard Nunes, secretário de Segurança Pública do Rio, afirmou que milicianos teriam matado Marielle por vê-la como ameaça a negócios de grilagem de terras na zona oeste do Rio.

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Marta Vieira da Silva

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Foto: Reprodução/Instagram @martavsilva10

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Por cinco vezes consecutivas, ela foi eleita a melhor jogadora de futebol do mundo, de 2006 a 2010. Mas, neste ano, Marta Vieira da Silva comemorou um feito inédito: a titular da equipe americana Orlando Pride tornou-se a primeira estrela do futebol mundial a conquistar por seis vezes a honraria máxima da Fifa. Atrás dela, estão nomes como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, empatados com cinco títulos cada um.

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Quando se fala em futebol feminino, quem se aproxima da jogadora brasileira atualmente é a alemã Birgit Prinz, já aposentada, que recebeu o troféu três vezes. Apesar do reconhecimento como importante figura para a consolidação do futebol feminino, Marta destaca ainda lutar contra dificuldades no Brasil, como os salários consideravelmente menores das mulheres se comparados aos dos craques masculinos.

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Neste ano, Marta também foi eleita embaixadora global da ONU Mulheres, ao lado de nomes globais como Emma Watson e Anne Hathaway – é, também, a primeira e única sul-americana no time. Aos 32 anos, não pretende parar: planeja, inclusive, estar na seleção brasileira que disputará a Copa do Mundo Feminina, que será transmitida pela primeira vez na história pela TV Globo a partir de junho.

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Meghan Markle

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Foto: AFP

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Não foi (apenas) pelo casamento com o príncipe Harry que Meghan Markle virou notícia neste ano. Muito antes de subir ao altar, em maio, ela viu seu nome ser comentado (e celebrado) por fugir ao que se esperaria da mais nova integrante da família real britânica. Meghan entrou para a realeza sendo filha de mãe negra, divorciada, norte-americana, atriz e, claro, “plebeia”. Sua presença é uma quebra de protocolos constante: do singelo esmalte escuro nas unhas, proibido para as mulheres da família, aos discursos escritos por ela mesma, tarefa comumente exercida por funcionários.

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Em suas aparições públicas, já defendeu temas como a educação de qualidade para meninas e mulheres como forma de empoderamento. Em discurso sobre a importância do voto feminino e a relevância das mulheres nas decisões de um país, sentenciou: “O voto feminino é sobre feminismo, mas feminismo é sobre justiça”.

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Não à toa, sua popularidade segue em alta. Um exemplo? É a personalidade mais procurada na ferramenta de busca do Google pelos britânicos.

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Nadia Murad

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Foto: AFP

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Por três meses, a então jovem iraquiana de 19 anos foi estuprada diversas vezes por dia após ser sequestrada e mantida refém pelo Estado Islâmico (EI). Hoje, Nadia Murad dedica sua vida à luta contra o tráfico sexual de mulheres – motivo pelo qual recebeu o Prêmio Nobel da Paz em outubro.

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Em 2014, a aldeia onde ela vivia foi atacada por quatro extremistas do EI, que mataram todos os homens da comunidade – incluindo seis irmãos de Nadia. Ela pertence à minoria étnica e religiosa yazidi, considerada “infiel” pelos membros do grupo.

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Estima-se que milhares de mulheres continuem presas e submetidas a estupros em grupo, o que Estado Islâmico chama de “jihad sexual”. Desde que conseguiu escapar, Nadia viaja pelo mundo para tornar pública sua história de luta e sobrevivência e pedir pelas vítimas que ainda estão sob o domínio do EI.

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Além do Nobel, Nadia Murad já havia recebido o prêmio Sájarov à Liberdade de Consciência, da União Europeia, em 2016, mesmo ano em que foi nomeada embaixadora da Boa Vontade da ONU para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano. No final do ano passado, ela compartilhou a sua história no livro Eu Serei a Última, ainda não lançado no Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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