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Mulheres solicitantes de refúgio de El Salvador e Honduras pintam mural em cidade mexicana

Saiu no site ONU BRASIL

 

Veja publicação original:   Mulheres solicitantes de refúgio de El Salvador e Honduras pintam mural em cidade mexicana

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Um novo mural decora as ruas de Tapachula, a cidade mais movimentada do lado mexicano da fronteira com a Guatemala. Em tons terrosos vívidos, o mural retrata uma mulher segurando um bebê nos braços, com os nomes das mais de 20 mulheres do norte da América Central que o pintaram, além de palavras que capturam suas aspirações: amor, confiança, liberdade e segurança.

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Mais de 29 mil pessoas solicitaram refúgio no México em 2018 – um aumento de mais de dez vezes nos últimos cinco anos. Em sua maioria, fogem da violência e da perseguição em Honduras (46%), Venezuela (22%) e El Salvador (21%). De todos os pedidos de refúgio recebidos por autoridades mexicanas, 56% foram processados no estado de Chiapas, no sul do país, onde fica Tapachula. O relato é da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

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Um novo mural decora as ruas de Tapachula, a cidade mais movimentada do lado mexicano da fronteira com a Guatemala. Foto: ACNUR/Marta Martinez

 

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Um novo mural decora as ruas de Tapachula, a cidade mais movimentada do lado mexicano da fronteira com a Guatemala. Em tons terrosos vívidos, o mural retrata uma mulher segurando um bebê nos braços, com os nomes das mais de 20 mulheres do norte da América Central que o pintaram, além de palavras que capturam suas aspirações: amor, confiança, liberdade e segurança.

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“Esse mural representa nossa luta diária para continuar, ele conta nossas histórias”, diz a salvadorenha Manuela*, de 48 anos, apontando para a frase que decidiu pintar no mural: “vamos levantar nossa voz”.

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Manuela escapou das gangues criminosas salvadorenhas há cinco anos. Quando não pôde pagar a taxa de extorsão exigida – 170 dólares por semana –, ela e sua mãe foram severamente espancadas. Em uma dessas visitas assustadoras, a mãe de Manuela teve um ataque cardíaco e morreu.

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Sozinha e desesperada, Manuela se mudou para outra cidade. As gangues a encontraram seis meses depois e ameaçaram matá-la. Ela caiu então em um êxodo interminável dentro de El Salvador, passando não mais do que uma semana em cada local.

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“Não há lugar seguro em El Salvador”, contou Manuela.

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Apesar de se sentir apavorada, decidiu em outubro de 2018 juntar-se à uma “caravana” de mais de 7 mil pessoas de Honduras, El Salvador e Guatemala, indo em direção ao norte a pé, em busca de segurança.

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Outra caravana partiu de Honduras em 14 de janeiro e mais de 1,1 mil refugiados e imigrantes atravessaram a fronteira da Guatemala com o México esta semana, incluindo 145 crianças.

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Mais de 29 mil pessoas solicitaram refúgio no México em 2018 – um aumento de mais de dez vezes nos últimos cinco anos. Em sua maioria, fogem da violência e da perseguição em Honduras (46%), Venezuela (22%) e El Salvador (21%), países com altas taxa de homicídios. De todos os pedidos de refúgio recebidos por autoridades mexicanas, 56% foram processados no estado de Chiapas, no sul do país, onde fica Tapachula.

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As mulheres que pintaram o mural de 14 metros de comprimento são principalmente de Honduras e El Salvador. Algumas fugiram sozinhas, outras com suas famílias ou se juntaram à “caravana”, como Manuela. Frequentemente, essas pessoas foram atacadas ou ameaçadas por gangues, estupradas, viram membros de suas famílias serem assassinados – suas vidas estão em risco e não podem retornar.

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Durante duas semanas de dezembro, as mulheres se reuniram para conceituar, desenhar e pintar o mural em um projeto sobre violência baseada em gênero apoiado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

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“O ACNUR está trabalhando com diferentes grupos de pessoas refugiadas para permitir que eles tenham espaços onde possam encontrar segurança, expressar seus sentimentos e trabalhar seus traumas”, disse Kristin Riis Halvorsen, oficial do ACNUR em Tapachula.

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“Muitas dessas iniciativas são voltadas para mulheres que são sobreviventes de violência sexual e de gênero, que é disseminada entre as meninas e mulheres que vêm do norte da América Central”, completou.

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No contexto dos 16 Dias de Ativismo contra a Violência de Gênero, o ACNUR organizou uma série de atividades em Tapachula para sensibilizar e melhorar as redes de apoio para as mulheres falarem sobre as suas experiências.

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Como as questões pelas quais passaram são complexas e difíceis de discutir, projetos artísticos foram criados para que elas pudessem ter um veículo diferente para expressar seus sentimentos e, por meio da criação coletiva, alcançar um novo nível de confiança e começar a deixar seus traumas para trás.

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Na medida em que elas aprendem a usar os pincéis e brincar com as cores, começaram a confiar umas nas outras e perceber que não estavam sozinhas nos abusos sofridos. “Conseguimos relaxar, rimos juntas, esquecemos os problemas em nossos países”, declarou a salvadorenha Janeth*, de 45 anos.

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Em conjunto com as aulas de arte são realizados exercícios de compartilhamento, nos quais as mulheres refletem sobre suas experiências traumáticas e se conscientizam sobre seus direitos.

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Janeth aponta para um canto escondido do mural, perto do chão. Ela pintou uma pequena lápide com uma grande cruz cinza cercada por pássaros voando. Tem o nome de seu filho de 17 anos. “Eu queria capturar minha dor”, afirmou.

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Em El Salvador, o filho de Janeth não pôde escapar da gangue criminosa que queria recrutá-lo. A recusa em entrar para o grupo custou sua vida. Quando Janeth ouviu os tiros perto de sua casa em uma noite de novembro de 2017, pouco antes de se deitar, soube o que ocorreu.

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El Salvador é um dos países mais mortais para os jovens no mundo, especialmente meninos. Em 2015, morreram 207,5 jovens para cada 100 mil, principalmente por homicídios. Esse número está significativamente acima da média global de 149, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A matrícula no ensino médio é inferior a 38%, bem abaixo da média latino-americana de 74%.

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Janeth ainda está sofrendo com a morte do filho, mas não pôde deixar a depressão dominá-la – ela precisava proteger sua filha Alma*, de 13 anos. A mesma gangue que matou seu filho quis recrutá-la à força para se tornar namorada de um membro de gangue, pela qual teria sido feita de escrava sexual.

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A família fugiu para outra cidade, onde Alma teve que mudar de escola a cada dois meses para permanecer escondida. A gangue a encontrou seis meses depois, e ela não pôde sair de casa.

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Chegaram a Tapachula menos de um mês atrás. Tudo o que a família queria era encontrar um lugar seguro e estável onde Alma pudesse continuar seus estudos e se tornar enfermeira. “Não quero ir para os Estados Unidos, quero estudar aqui”, declarou Alma.

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Ao pensar sobre o projeto de arte urbana, as mulheres refletem sobre como ele as tem ajudado a seguir em frente.

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“O mural nos faz sentir que somos seres humanos, que podemos sobreviver, independentemente do que vier”, diz Luisa. “Mas nós não poderíamos fazer isso sem o suporte das instituições”.

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Quando Luisa vê homens tatuados na rua, seu corpo ainda treme, revelando o trauma pelo qual passou em Honduras, quando foi estuprada por dois homens encapuzados. Mas, em Tapachula, ela se sente segura. “Encontrei uma família que eu não conhecia antes”, contou.

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Entusiasmadas e orgulhosas com os resultados do projeto, as mulheres esperam continuar aprendendo habilidades que podem ajudá-las a encontrar emprego em Tapachula, como realizar tratamentos de beleza, alfaiataria ou panificação.

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Sorrindo, Luisa acrescenta: “depois disso, podemos até nos tornar artistas”.

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*Nomes foram alterados por motivos de segurança.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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