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#LivreSim: seis mulheres falam sobre a decisão de parar de se depilar

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:  #LivreSim: seis mulheres falam sobre a decisão de parar de se depilar

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Acreditamos que a liberdade da mulher começa quando ela retoma o poder de decisão sobre seu próprio corpo. À Marie Claire, seis mulheres contam das mudanças e aprendizados em suas relações com os seus

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Da capa de janeiro de Marie Claire com a atriz Bruna Linzmeyer nasceu não só uma revista, mas uma curiosidade, um questionamento: por que pelos femininos causam estranhamento – e revolta – nas pessoas? E mais: nas próprias mulheres?

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“Sempre achei muito estranho uma mulher com pelos, então como é que eu mudei essa visão?”, disse Bruna. “Vendo mulheres de todos os tipos – em poses sexies, poses estranhas, mulheres sapatão, mulheres hétero – colocando seus pelos à mostra“, concluiu. “Como é que a gente pode colocar luz sobre esse assunto?”, nos questionou ela.

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Dos ensejos feministas de muitas cabeças pensantes, convidamos seis mulheres a contar a história de suas relações com seus corpos e, claro, seus pelos.

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Karen Ka

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Karen Ka (Foto: Camila Cornelsen)

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Karen é diretora de arte de Marie Claire e foi uma das maiores incentivadoras da campanha que encabeçamos: #LivreSim, pelo direito das mulheres de fazerem o que quiserem com seus próprios corpos, inclusive deixar crescer pelos.

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Ela, no entanto, nem sempre foi assim do jeito que é hoje, empoderada. “Passei minha adolescência inteira me raspando, me depilando, tudo para não ter nenhum pelo”, conta. Aos 20 e tantos, comprou um pacote de depilação à laser para se livrar de vez deles. “No meio do processo, resolvi parar. Era muito agressivo, subia um cheiro de queimado, eu me sentia mal.”

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Da decisão, veio o primeiro flerte com os pelos. A relação se fortaleceu até que, hoje, aos 34 anos, ela não depila mais nada. Por conta do processo inacabado do laser, seus pelos ficaram “falhos e espaçados”, diz, explicando que o caminho inverso – o de fazê-los crescer novamente – é muito mais árduo. “Hoje tenho que lidar com as consequências dessa intervenção, mas entedi que posso escolher quando quero ter ou não.”

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Maria Clara Araújo

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Maria Clara Araújo (Foto: Camila Cornelsen)

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Maria Clara renasceu aos 16 anos. Foi no Recife, em Pernambuco, que ela passou a se colocar como travesti. No primeiro ano em sua nova identidade, teve depressão. Um dos motivos foi justamente o padrão inatingível de corpos ao qual as mulheres são submetidas. “Eu tinha absorvido um arquétipo de feminilidade que estava muito afastado da minha beleza, do meu corpo, da minha voz. Existia uma meta a ser alcançada sobre o que é ser uma mulher bonita e eu via que estava em outro ponto”, conta.

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Ao estudar o feminismo interseccional e conhecer otransfeminismo, ela iniciou seu próprio processo de desconstrução e aceitação. “Minha vivência enquanto mulher trans ou travesti mudou completamente. Criei meu próprio parâmetro de beleza e desconstruí o uso da maquiagem, da depilação, como uma obrigatoriedade. Eu me depilo se quiser. Eu autogestiono o meu corpo.”

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Ela conta que sua primeira depilação aconteceu quando ainda era lida pela sociedade como garoto, numa tentativa de se afastar da masculinidade imposta. “Quis explorar meu corpo fora do lugar da virilidade e do pelo que não é criticado“, diz, referindo-se ao pelo do homem, que ao contrário do da mulher, não é hostilizado.

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“No processo de me reivindicar como mulher, fui julgada por amigas e até pela minha mãe: ‘Como você quer se afirmar mulher e não se depilar?’, diziam. Tive minha identidade deslegitimada porque decidi deixar o pelo crescer. Hoje, aos 22, vejo a depilação como uma possibilidade, não uma obrigação.”

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Fernanda Cerântola e Gabriela Andrade

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Fernanda Cerântola e Gabriela Andrade (Foto: Camila Cornelsen)

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Fernanda e Gabi são amigas, namoradas e companheiras. Quando você se depara com suas figuras nas redes sociais, acha mesmo que uma dá continuidade à outra, numa existência vinculada e complementar.

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Elas se conheceram na faculdade de moda, na qual se formaram no ano passado e, de lá pra cá, não se desgrudaram mais. Mas o caminho até se encontrarem não foi tão semelhante. Gabi, 24, conta que sua mãe sempre a deixou à vontade para ser criança, se vestir de maneira confortável e, por isso, era taxada de “moleque”, o que nunca foi um problema, até a adolescência. “As meninas seguiam um padrãozinho e eu não fazia questão nenhuma de agradar os meninos. Acabei me depilando por pressão dos outros, não por uma vontade própria”, conta.

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Já Fernanda, 22, foi criada dentro da construção do que é feminino. “Minha família me deixava bem menininha”, lembra. Além da pressão externa, ela própria se policiava para não ter atitudes que fugissem desse padrão, e a depilação entrava no pacote.

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Para elas, a beleza como a enxergamos faz parte de um padrão imposto desde crianças e que, a partir de um momento de suas vidas em que começaram a questionar os estereótipos, não fez mais sentido. “É como sair de uma prisão que você cria na sua própria cabeça. Tirar esse peso de ter que agradar aos outros o tempo todo foi a coisa mais libertadora que me aconteceu”, finaliza Fernanda.

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Carol Matsubara

Carol Matsubara (Foto: Camila Cornelsen)

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Carol é de São José dos Campos, interior de São Paulo. Sua relação com seu corpo enfrentou vários obstáculos desde o primário, época em que engordou bastante e passou a sofrer bullying na escola. Em 2012, quando mudou-se para a capital para fazer faculdade, as coisas começaram a mudar.

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“Demorou muito para eu entender meu corpo e aceitá-lo como era. Quando comecei a me envolver com o feminismo, me propus a deixar meus pelos crescerem para ver como seria, porque fazia anos que eu raspava e já nem lembrava como era a sensação de tê-los”, lembra. Assim como para muitas mulheres, o primeiro contato com as ideias do feminismo foi essencial para Carol, hoje aos 24, descobrir que tinha uma escolha. “Não é só estética, é uma forma de mostrar que você não quer ceder a mais uma pressão social.”

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Passado o início conturbado – em que se privava de usar blusas de alça no calor para evitar olhares e comentários maldosos, por exemplo -, as coisas se tornaram mais naturais. “Para a pessoa que comentou, foram cinco segundos da vida dela. Por que eu deveria dar tanto valor para o que ela pensa, então? Tento sempre lembrar de pensar primeiro em mim, no que eu quero, do que me importar com a opinião dos outros.”

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Maria Beraldo

Maria Beraldo (Foto: Camila Cornelsen)

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Em Sussussussu, Maria canta sobre suvaco cabeludo. O dela, o da Maria Clara, o da Gabi, o da Carol e o de quem mais tiver ou quiser ter. Aos 30 anos, a musicista entende que nossas noções estéticas são culturais e estão atreladas a uma condição política de submissão da mulher.

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Como a maioria das mulheres, ela também se depilava desde pequena, quando “os primeiros pelos começaram a aparecer”, lembra. Foi no final da faculdade, depois de terminar seu primeiro namoro com outra mulher, que ela começou a questionar esse hábito. “Foi o primeiro momento da minha vida em que me vi solteira sendo lésbica. Decidi parar de depilar quando fiquei com meninas que não o faziam. Eu as achava muito sensuais e gatas e isso virou minha primeira chavinha. Parei e pensei: ‘Pode ser lindo’.”

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O começo foi difícil, ela confessa. “Eu percebi que nunca tinha visto meu corpo sem esse ritual da depilação, então me forcei a não depilar para ter essa experiência.” O processo todo teve idas e vindas à depiladora e, mesmo hoje, o fato de deixar pelos à mostra ainda causa estranhamento diante de amigos não tão próximos ou estranhos. “Às vezes estou com o braço levantado no ônibus, alguém olha torto e eu abaixo. Não é que me sinto 100% confortável o tempo todo, mas o desconforto é produtivo“, entende.

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Beleza: Renata Brazil | Styling: André Puertas

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Nos processos de transformação que viveram, essas mulheres aprenderam a se aceitar como são. Em áudio, elas falam para si mesmas o que gostariam de ter ouvido, quem sabe, há mais de dez anos. Play!

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