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Grace Passô: “No Brasil, existem milhares de Viola Davis e Whoopi Goldberg”

Saiu no site BRASIL EL PAÍS

 

Veja publicação original:  Grace Passô: “No Brasil, existem milhares de Viola Davis e Whoopi Goldberg”

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Atriz mineira homenageada em Mostra de Tiradentes estrela ‘Temporada’, uma das apostas de 2019 no cinema brasileiro

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Por Joana Oliveira

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A primeira coisa que atraiu Grace Passô (Pirapora, Minas Gerais, 1980) no teatrofoi a diferença. Quando pisou o palco pela primeira vez, em uma escola de atuação, aos 13 anos, sentiu-se automaticamente identificada com as pessoas de idades variadas, com todos os tipos de corpos e de roupas que encontrou ali. De lá para cá, são 22 anos de carreira, diversos prêmios e peças traduzidas em seis idiomas —Por Elise (2005), Amores surdos (2006), Mata teu pai (2007), Vaga Carne (2016) e Preto (2018)—, nas quais trata de questões como machismoracismo e negritude.

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No cinema, a trajetória da atriz e dramaturga é mais recente. Começou em 2016, com um papel pequeno, mas importante, em Elon Não Tem Medo da Morte, de Ricardo Alves Jr., e foi eleita melhor atriz no Festival do Rio de 2018 pela protagonista de Praça Paris, de Lúcia Murat. Este ano, estrela Temporada, de André Novais Oliveira, longa que estreou em 17 de janeiro e já é considerado pelos críticos como um dos destaques de 2019 no cinema nacional. O cotidiano de Juliana, uma agente de saúde na periferia de Belo Horizonte, contada no longa, alçou Passô ao status de “símbolo do cinema nacional”, coroado com a homenagem na 22ª Mostra de Cinema de Tirandentes, encerrado no sábado. “Já me sinto dentro do cinema brasileiro e pretendo continuar nesse caminho, fazendo o que sempre fiz, que é procurar projetos que combinem com minha ética de vida”, comemora ela em entrevista ao EL PAÍS.

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Além de Temporada, Passô estreia este ano o longa No Coração do Mundo (de Gabriel Martins Alves), que será lançado em fevereiro, no Festival de Roterdã, e a versão cinematográfica de seu monólogo Vaga Carne (com codireção de Ricardo Alves Jr.), cuja pré-estreia aconteceu na abertura do evento em que foi homenageada. Nesse solo, uma voz é o personagem e um corpo de mulher. Um corpo negro, de artista, que dialoga diretamente com o tema da Mostra de Tiradentes: “Corpos Adiante”.

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Passô considera que ainda é rompedor ser artista, mulher e negra no Brasil. “Vejo o meio artístico como um espelho muito concreto do que é o racismo no país. A mulher negra sempre foi um elemento estruturante da nossa sociedade, mas só agora acontece uma expansão dos espaços que podemos ocupar”, diz. Para ela, o tema da mostra tem especial ressonância no momento político do país. “Suscita a existência dos corpos que estão sob ameaça e a necessidade de criar espaços para que eles tenham futuro apesar deste momento de condenação de corpos, do que é gênero, do que significa raça…”.

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Ao mesmo tempo, a atriz afirma ter medo da “superficiliazação” dos discursos identitários e da tendência de se eleger heróis ou heroínas em determinados grupos sociais. Nega, por exemplo, o papel de representar a voz das mulheres negras nas artes. “Sei que eu tenho uma produção foda e não tenho dúvida de que o que eu faço reverbera em muita gente, mas também sei que muitas outras mulheres negras produzem coisas incríveis e só precisam de espaço. Existem muitas Viola Davis e Whoopi Goldberg no Brasil. Queria ser olhada apenas como uma representante desse coletivo”.

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Passô celebra o filme Temporada justamente porque o longa, que tem como cenário uma das tantas periferias brasileiras, não exacerba as identidades de seus personagens. O filme conta o território periférico, tantas vezes alvo de estereótipos na história do cinema, através dos laços afetivos que criam-se nele. É o cotidiano, e pronto. “Mas também tem um posicionamento muito brasileiro, reflete as caras de quem o faz, tem sotaque mineiro”, acrescenta.

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O longa também trata de mulheres em processo de transformação, de tomada das rédeas de suas próprias vidas. Em um movimento parecido, Passô começou a escrever —sua principal obra, nesse sentido, é Vaga Carne—, e a atriz deu lugar à dramaturga. “Escrevo para existir como atriz, para atuar e inventar meu mundo sem ter que sujeitarme à espera. Além disso, escrever o que você mesma vai falar é de uma potência gigantesca. E minha negritude na arte me interessa cada vez mais”, conclui.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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