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Foi-se o tempo da vovó: mulheres com mais de 50 anos reinventam a forma de encarar e curtir a vida

Saiu no site DONNA:

 

Veja publicação original:  Foi-se o tempo da vovó: mulheres com mais de 50 anos reinventam a forma de encarar e curtir a vida

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Por Nathália Carapeços

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Cida Pimentel, uma avó de 59 anos vestida com um nada discreto casaco animal print, não hesita ao tentar definir sua relação com os netos. Encara a repórter com seu óculos gatinho e dispara:

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– Não dou limite nenhum. Sou a avó descontrole. Quer ver filme de terror, vamos lá. Quer escutar punk rock no último volume, vamos lá.

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Sentada do outro lado da mesa, Sandra Tedesco, 60 anos, fica inquieta na cadeira. Pede a palavra para deixar seu registro:

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– Sou uma avó dura. Não é sempre “vovó” para cá, “vovó” para lá. Dou limite.

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Mas as duas entram em consenso logo em seguida ao reconhecer que os netos dividem espaço entre os muitos prazeres e afazeres da vida para a geração de avós de 50, 60 anos.
– Tenho a minha vida com o marido que, inclusive, não é o avô da minha neta de fato. Ela entra no combo – diz Sandra.

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Às vésperas do Dia dos Avós, celebrado em 26 de julho, reunimos para um bate-papo cinco mulheres que têm em comum a faixa etária, o fato de ter netos e, principalmente, de reinventar essa relação e o jeito de viver a maturidade. Além da produtora Cida e da funcionária pública aposentada Sandra, a autônoma Eugênia Ramos, 54 anos, a advogada Edna Kleinert, 57, e a professora universitária Maíra Baumgarten, 64, passaram uma tarde na Casa de Cultura Mario Quintana, trocando ideias para traçar o perfil da avó contemporânea.

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Essas mulheres independentes entendem seu papel de referência na família, mas não vestem a camiseta de “babá de neto”. Estão mergulhadas em uma série de compromissos que passam por trabalho, viagens, academia, balada e barzinho.

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Mesmo com estilos de vida distintos – Eugênia, por exemplo, adora surfar e fazer slackline, enquanto Edna curte mesmo ir aos jogos do Grêmio –, o quinteto não se reconhece naquela velha imagem da avó que fica em casa fazendo bolo, vendo novela e brincando com os netos. Edna acredita que essa personagem vai ficar para mais tarde ou, talvez, nunca apareça:

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– Minha experiência é bem diferente do que a sociedade julga ser avó. Cozinhar é um hobby, é para divertir. Não tenho dia para cuidar dos netos, não estou sempre à disposição. Claro que é muito gratificante estar com a família, temos momentos maravilhosos. Só que, diferente do tempo da minha avó, hoje a gente com 57 anos está começando a viver.

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Mas a liberdade de ser uma avó fora dos antigos padrões pode incomodar. Cida costuma enfrentar olhares tortos em razão de suas tatuagens. Já Eugênia conta que aprendeu a lidar com comentários maldosos sobre seus gostos esportivos:

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– As pessoas ficam dizendo “O quê? Aquela velha quer surfar?”. Tem preconceito, olhares de fora e de dentro da família. As pessoas dizem que não me ponho no lugar. Precisamos ser bem-resolvidas, é a minha vida, não devo nada para ninguém. Sou só uma avó que ama seus netos e sua família.

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A certa altura da conversa, Eugênia – que já tinha surpreendido as outras quatro entrevistadas com sua disposição para o surfe – concentra as atenções após revelar que vai todos os dias à academia. Faz pilates, dança, bicicleta, ginástica localizada e alongamento.

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– Tenho a impressão de que era alma e o corpo que envelheciam na época da minha avó. Hoje, talvez só o corpo envelheça um pouco (risos). A alma continua jovem, dinâmica – conta ela, levantando da cadeira para exibir as pernas a pedido das outras mulheres. – E eu uso minissaia. Meu marido me incentiva, e eu gosto.

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Amante de chapéus e echarpes, Maíra não nota alterações em seu look após os 50 anos:
– Acho que ninguém pensa mais: “Virei avó, vou me vestir assim”. Continuamos usando as mesmas roupas, jeans, ou sei lá.

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Edna concorda e, em seguida, confessa:

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– Nunca imaginei uma avó vestida com jeans rasgado, aparecendo o joelho. Mas tenho um no meu armário. Adoro sobreposição também. E sobre beleza, tenho apenas uma coisa a dizer: “Viva o botox!”. Faço de vez em quando porque tenho uma linha de expressão no rosto bem marcada.

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O assunto sobre moda anima Cida, que anuncia seu hobby: colecionar óculos. Ela indica uma ótica com preços em conta quando é interrompida por Eugênia mostrando a foto de seu neto no celular. Todas se animam e começam procurar os retratos dos seus, enquanto a repórter tenta encaminhar o bate-papo para o fim.

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– Mas não vamos falar sobre sexo? – questiona uma delas, que ficou com vergonha de ser identificada na reportagem.

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– Avó também transa! – diz Cida, provocando gargalhadas.

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– Olha, com 30 anos de casados, haja criatividade – diz Eugênia.

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– Posso dizer que não moro junto e isso ajuda na conquista – conta Edna.

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Depois de muita conversa, alguns cafés e boas risadas, Cida encerra o papo resumindo a experiência dessas novas avós:

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– Com o tempo, aprendemos a ser livres. Não tem coisa melhor do que fazer 60 anos. Sabemos de tudo. Hoje, temos liberdade e independência para fazer o que quisermos. É isso.

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O maior desafio

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Desfrutando de mais liberdade do que suas próprias avós, a nova geração de mulheres entre 50 e 60 anos tem a agenda lotada e tenta aproveitar os lazeres da vida. Mas, via de regra, muitas ainda enfrentam o mesmo desafio de séculos passados: a pressão da sociedade para que a avó seja uma personagem do lar que abdica de seus planos.

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– Antes, a vida da mulher era isso: filha, mãe, avó. Era o que a definia e só o que ela poderia ser. Ainda sofremos com esses ecos. A sociedade cobra das mães que elas sejam consagradas ao culto do filho, e se cobra das avós a mesma coisa. Mas as novas avós são novas mulheres, que estão reinventando um projeto de vida – diz a psicanalista Diana Corso, 57 anos.

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As novas avós dão de ombros para o que os outros pensam. Preferem acumular funções para conciliar a vida pessoal com o relacionamento familiar – podendo sobrepor pelo menos oito papéis, como explica Jane Felipe, 57 anos, professora integrante do Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero, da UFRGS:

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– Profissionais, mães, administradoras do lar, esposas ou namoradas, administradoras de nós mesmas em uma sociedade que preza pelo embelezamento feminino, ótimas alunas se ainda querem estudar e cuidadoras dos mais velhos e, ainda, dos netos. E é esse papel de cuidadora que acaba ganhando mais espaço na maioria das famílias brasileiras. Não estar envolvida no cuidado de outros é privilégio.

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Dados divulgados neste ano pelo IBGE comprovam: as mulheres ainda dedicam 73% a mais de tempo ao cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos do que os homens. E os números só crescem conforme a idade da mulher aumenta. O ponto de atenção, alerta Diana, é não perpetuar o ciclo de cobranças sobre as avós:

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– Muitas vezes, praticamos isso umas com as outras. A avó cobra dedicação da nova mãe, assim como a filha também cobra da mãe. São cobranças de uma sociedade machista, mas as mulheres acabam encarnando alguns desses valores.

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Quem são as vovós da reportagem

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Edna Kleinert

Foto: Edna Kleinert/ Arquivo Pessoal

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Depois que se separou, a advogada deixou o Interior para morar na Capital. Aos 57 anos, é avó de Gabriela, cinco, e Pedro Henrique, um, e está à espera da terceira neta, Luiza. Edna tem namorado, mas cada um mora na sua casa. Gosta de viajar e de sair com as amigas.

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Maíra Baumgarten

Foto: Maíra Baumgarten/ Arquivo Pessoal

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Avó de Victor, de dois anos, Maíra, de 64 anos, teve sua filha jovem e se separou após 17 anos de casamento. Depois da segunda separação, resolveu ficar solteira. Professora e pesquisadora universitária, é apaixonada por música: criou o Clube da MPB, projeto de valorização e divulgação da música brasileira.

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Eugênia Ramos

Foto: Eugênia Ramos/ Arquivo Pessoal

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A autônoma, de 54 anos, trabalha com joias, gosta de ir à academia todos os dias e está se acostumando com a vida de avó – seu primeiro neto, Pedro Augusto, tem sete meses. Nas horas vagas, gosta de sair com o marido (o casal está junto há 30 anos), surfar e praticar slackline.

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Sandra Tedesco

Foto: Sandra Tedesco/ Arquivo Pessoal

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Aos 60 anos, Sandra é aposentada e apaixonada por viagens. Junto de seu segundo marido, conhece cinco lugares diferentes por ano. Gosta de cafés, mas não é muito de sair à noite. Tem uma filha e um filho do primeiro casamento e a neta Luiza, de nove anos.

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Cida Pimentel

Foto: Cida Pimentel/ Arquivo Pessoal

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A produtora de 59 anos é diretora do Instituto Estadual de Música. Ama rock, gosta de shows e de sair à noite. Está no terceiro casamento e tem uma filha e dois netos, a Marina, 12 anos, e o Leonardo, 10.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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