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Entre migs: Sobre cozinhar, chorar e amar

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE: 

 

Veja publicação original:     Entre migs: Sobre cozinhar, chorar e amar

 

Em sua nova coluna, Fabiana Gabriel fala sobre as emoções vividas na cozinha

 

Uma amiga que mora distante me escreve um e-mail breve. Só notícias, saudades e um pouco de desabafo de quem está longe. Nele, ela conta, vive uma vida tranquila de casada, ela e o marido cozinham bastante e, com alguma frequência, ela chora. O matrimônio lhe trouxe paz, mas também alguma forma de sensibilidade à flor da pele que se reflete em lágrimas em excesso.

 

 

 

Sou filha de uma mulher pernambucana que sempre cozinhou maravilhosamente bem. Dona de múltiplos talentos, dentro e fora da cozinha, minha mãe até hoje é capaz de fazer banquete para muitos. Quando pequena, eu achava que cozinhar carecia de uma espécie de “brevê” anterior para os fogões. Até entender que foi o amor pelo marido e pelos filhos que a levou, com esforço, para a cozinha.
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Por volta dos 15 anos de idade, minha mãe me incentivou a encarar a primeira receita. Nela, ensaiei um desastroso bolo de chocolate com vida curta, do fogão ao lixo, sem escala. Algumas semanas depois, com muita paciência e didatismo, ela me guiou de volta à batedeira para fazer o mesmo bolo. Queria que eu não ficasse traumatizada na derrota de principiante. Foi ali que descobri que cozinhar é, acima de qualquer coisa , amor a mais de 180 graus Celsius. A partir dessa segunda chance bem sucedida me aventurei em muitos outros doces e tortas. Naquela fase tão conturbada da adolescência, era um alento lidar com tanta doçura.
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Com o passar dos anos, me distanciei da cozinha e mantive um repertório pouco versátil nas panelas. Até que me reconectei com a cozinha no embalo de uma mudança de endereço e mais metragem quadrada. No novo espaço comecei a colocar em prática toda uma sorte de receitas há tempos cobiçadas – sem nenhuma pretensão. Redescobri um amor genuíno pela arte de cozinhar. Dessa vez, pratos salgados, ousados e elaborados. Com isso também entendi de vez o prazer em compartilhar sabores com amigos e familiares à minha volta.
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Pouco tempo atrás, no auge do meu encantamento por receitas novas, o amor chegou para mim vestido de doma. Desavisadamente, meu chef me faz chorar além das cebolas… Me traz poesia e afeto diariamente e, vez ou outra, tempera minha vida com ingredientes que só compreendi através dele. Muitas vezes eu também o surpreendo com misturas exóticas ou gostos particulares que o fazem rever seus conceitos. E choramos. Pela cebola cortada, pelo novo tempero usado ou apenas por estarmos juntos, descobrindo na cozinha e na vida a química que nos torna mais interessantes..

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Dizem que qualquer pessoa é capaz de cozinhar, basta apenas se empenhar um pouco e não ter medo de errar. Eu acho o mesmo sobre o amor e a capacidade de nos emocionarmos com as pequenas conquistas do dia a dia. Às vezes precisamos apenas de um guia afetuoso, alguma poesia e um bom passo a passo para seguir em frente…

 

 

 

 

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