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Dia da Visibilidade Trans: 4 mulheres falam sobre as dificuldades que enfrentaram

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:   Dia da Visibilidade Trans: 4 mulheres falam sobre as dificuldades que enfrentaram

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Na escola, no trabalho ou na família os obstáculos para mulheres transexuais são inúmeros. Aqui, alguns relatos de como elas superaram muitos deles

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Por Thiago Baltazar

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Há 14 anos um grupo de travestis e transexuais entrava no Congresso Nacional para lançar a campanha “Travesti e Respeito”. O movimento fazia parte de uma iniciativa do Ministério da Saúde pela inclusão social deste segmento da população, que ainda hoje é vulnerável ao preconceito e violência. A data de 29 de janeiro, desde então, ficou conhecida como o Dia da Visibilidade Trans.

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Marie Claire traz a seguir relatos de três mulheres que superam a cada dia a transfobia na família, escola e trabalho, enquanto lutam para serem reconhecidas na sociedade.

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Gabriela Ona Silva (Foto: Reprodução/Instagram)

Gabriela Ona Silva (Foto: Reprodução/Instagram)

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GABRIELA ONA SILVA, 21, ATRIZ

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Tive a necessidade de assumir minha transexualidade aos 18 anos. No início, como todas as outras pessoas trans, foi bem intenso porque, enquanto passava pelo processo hormonal, fui rejeitada pela minha família no interior do Mato Grosso do Sul. Perdi o apoio emocional e financeiro, mas ainda assim, segui firme naquilo que acreditava. Recomecei do zero trabalhando como empregada doméstica depois de abandonar o curso de educação física na universidade. Lutei muito para me tornar uma atriz durante este período até conseguir o papel principal da série “Natasha”, do diretor Thiago Rotta. Ele me incentivou a mudar para o Rio, onde também comecei a trabalhar como modelo (muitas vezes não remunerada). Houve momentos em que minha única escolha era dormir na rua por não ter um teto. Foi quando encontrei a Casa Nem, que serve de abrigo para pessoas trans no bairro da Lapa.  Vivi lá até Daniel Wierman, produtor da TV Globo, me descobrir e me convidar para um cadastro na emissora. Desde então, minha vida mudou. Ainda sigo com meu sonho de ser uma artista reconhecida internacionalmente para dar visibilidade e empoderamento a pessoas trans! Mas posso dizer que me orgulho muito do que já me tornei!

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Joane Bastos (Foto: Arquivo pessoal)

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JOANE BASTOS, 26, ESTUDANTE
Eu notava que era diferente das outras crianças desde a infância. Na escola, me sentia solitária e incompreendida porque não conseguia fazer muitas amizades, principalmente com os meninos, que reproduziam comportamentos machistas. Quando você é uma diferente do padrão cis-branco-hetero-normativo, eles são os primeiros a mostrar isso de maneira agressiva. No ensino médio, eles se reuniam para bater, cuspir, fazer piada e ameaças contra mim. Cheguei a ser reprovada na escola por não conseguir por não conseguir estudar direito. O processo na escola é excludente e adoecedor para nós. É um ambiente hostil e de total despreparo, poucos professores tomam partido, a maioria vê o problema e não sabe como lidar. Fiquei quatro anos com medo de encarar uma sala de aula, porque adquiri fobia social, ansiedade e tremor essencial, uma doença psicossomática. Mas voltei a estudar. Em 2016, prestei o Enem e fui aprovada curso de pedagogia pela UEMG. Hoje faço parte do movimento estudantil da minha unidade acadêmica, onde fundei o Coletivo Mulheres Negras Carangola.  Hoje, participo de mesas, colóquios, congressos e conferências como uma afrotransfeminista.

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Larissa Olinda (Foto: Arquivo pessoal)

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LARISSA OLINDA, 21, ESTUDANTE
Ser uma mulher trans enfrentando o mundo para conseguir um espaço não é nada fácil. Durante toda a minha vida tive que me esforçar pelo menos o dobro da maioria das pessoas para ser vista em pé de igualdade, não somente na escola e no trabalho, mas numa simples atividade como caminhar na rua. Em Fortaleza é muito comum ouvir xingamentos e ameaças dos homens, por isso nunca me arrisco a sair sozinha, principalmente à noite. Quando vou ao supermercado ou ao banco, por exemplo, as pessoas também se recusam a usar o pronome feminino, insistindo em me chamar de rapaz. Mas isso tudo me fez uma mulher extremamente forte e capaz.  Hoje sou estudante de Engenharia na principal universidade do meu estado (UFC) e me formei num curso técnico por outra instituição federal do Ceará (IFCE). As universidades, historicamente, não eram ocupadas por nossa comunidade, pois, infelizmente, a sociedade nos dizia desde cedo que lá não era nosso lugar. Acredito, porém, que vamos conquistar cada vez mais espaço e mostrar que somos tão capazes como qualquer outra pessoa. Meu sonho hoje é montar o meu próprio negócio dando oportunidade para pessoas que não conseguem emprego por serem quem são.

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Ana Lígia (Foto: Arquivo pessoal)

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ANA LÍGIA, 48, PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
Tomei consciência da minha condição de trans tardiamente durante sessões de terapia. Comecei o processo aos 46 anos quando já tinha uma carreira sólida como professora universitária e ocupava uma vaga no conselho superior da instituição. Senti que precisei reconquistar o respeito dos colegas com os quais trabalhava, mas os alunos foram fantásticos comigo. Talvez, o maior desafio tenha sido o de mostrar para a comunidade acadêmica que continuo tão competente quanto antes, com as mesmas habilidades. Meu sonho é que no Brasil as pessoas LGBTI’s não sejam agredidas e mortas.  Acredito que a luta para que transgenêros e travestis sejam respeitados como qualquer cidadão ou cidadã, numa sociedade machista e ainda tão conservadora como a nossa, passa obrigatoriamente por vários fatores. Entre eles: reduzir muito ou eliminar a violência gerada pela transfobia;  desmistificar a idéia de que não somos capazes de ocupar certos cargos ou profissões e reduzir a assustadora exclusão das pessoas transgenêros do sistema escolar por questões de violência e bulying. Essa é uma luta longa e difícil, mas nós devemos comemorar cada pequena vitória.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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