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Denunciar fundador das Casas Bahia prova que precisamos quebrar silêncio

Saiu na FOLHA

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Na última semana, a Agência Pública, em brilhante investigação jornalística, apontou uma rede de exploração sexual infantil e de aliciamento de mulheres que teria sido comandada pelo fundador das Casas Bahia, gigante do varejo, Samuel Klein.

Baseada em fartos depoimentos, vídeos e documentos em inquéritos que nunca prosperaram na Justiça patriarcal brasileira, a reportagem da equipe de jornalismo trouxe uma história de arrepiar.

Segundo a apuração, durante décadas os abusos ocorriam em casas no litoral paulista e fluminense, bem como na sede da empresa, em um quarto acostado no gabinete do empresário que, morto em 2014, era até então de reputação gloriosa, com direito a homenagens de pessoas de diferentes polos políticos, empresários, banqueiros e jornalistas. Bustos foram feitos, seu nome batizou rua, edifícios e instituto de trabalho social junto a crianças, uma triste ironia.

Samuel teria se aproveitado de seu poder econômico frente à vulnerabilidade financeira de seus alvos. Muitas ouvidas eram à época meras crianças e jovens com desejos de ter aquilo que não podem acessar por falta de condições materiais.

A rede de Samuel Klein teria sido construída no âmago do império envolvendo incontáveis meninas e mulheres como seus alvos, mas também incontáveis homens, como frequentadores das festas, seguranças, pilotos de helicóptero, participantes das festas, assessores, como Luciana Temer apontou nesta Folha.

Vale dizer que, para cúmplices, os crimes apontados ainda não prescreveram. A rede incluiria também mulheres, como serviçais aliciadoras. E, finalmente, também incluiria seu filho, Saul Klein.

Dezenas de mulheres apontaram que o comportamento do filho era semelhante ao do pai. Diversas foram as narrativas de exploração e violência misógina. Para elaborar este texto, conversei com a promotora de Justiça Gabriela Manssur, responsável pela Ouvidoria das Mulheres no Ministério Público de São Paulo e especialista em violência contra a mulher.

Manssur é uma das idealizadoras do projeto Justiceiras, que articula uma rede de acolhimento online multidisciplinar, criada durante a pandemia e que hoje se expandiu para todo Brasil.

“Nós somos 6.800 voluntárias das mais diversas áreas: psicologia, assistência social, jurídica, até a dona de casa que sofreu violência e quer ajudar outra mulher. São mulheres muitas vezes com mais de 65 anos que querem, com sua experiência de vida, apoiar e acolher uma mulher em situação de violência. E também da área médica, quando necessário. Já atendemos 4.800 vítimas dos mais variados crimes bárbaros contra a mulher”, conta.

Manssur recebeu as denúncias contra Saul Klein tanto no projeto quanto como promotora da Ouvidoria das Mulheres. À coluna ela falou sobre o caso: “Essas vítimas foram ouvidas por mim por videoconferência. Foram praticamente quatro meses ouvindo essas vítimas das mais diversas situações de violência contra a mulher”.

Contudo, apesar dos fartos depoimentos que delimitam a gravidade concreta do caso, foram revogadas as medidas cautelares que impediam a aproximação de Saul das denunciantes, fato que tem trazido imensa preocupação.

Para Gabriela, que teve contato íntimo com o caso, não há dúvidas da gravidade das acusações: “O fato de você consentir com a disponibilidade de seu corpo em troca de dinheiro não dá o direito para que se faça qualquer coisa com seu corpo sem o seu consentimento”.

“O fato de você ter como profissão ser garota de programa ou ser profissional do sexo não dá o direito à pessoa que está pagando por esse serviço de dispor de forma incondicional, indistinta do corpo de uma mulher. Isso é estupro no meu entendimento. A exploração sexual de meninas também deve ser levada em consideração.”

Confira ilustrações da Luiza Pannunzio sobre exploração sexual infantil
Confira ilustrações da Luiza Pannunzio sobre exploração sexual infantilConfira ilustrações da Luiza Pannunzio sobre exploração sexual infantil

“O rufianismo, o tráfico de pessoas levaram ao impedimento dessas meninas e mulheres de se desenvolverem como titulares de direitos à saúde, principalmente porque muitas delas acabaram sendo acometidas por doenças sexualmente transmissíveis e também depressão, síndrome do pânico e outras

doenças, culminando com o suicídio de uma delas, no período em que eu fazia suas oitivas.”

Na imprensa hegemônica, o tratamento ao caso é questionável. Saul foi alvo de extensas reportagens, mas quanto a Samuel não houve repercussão digna do tamanho do caso. Da mesma forma, pessoas públicas, algumas delas que reservaram palavras gloriosas quando da morte do patriarca, também ficaram devendo um pronunciamento a respeito.

Sabemos o quanto pode ser difícil, sobretudo num país colonial, repercutir denúncia contra interesses de poderosos, mas o silêncio beneficia só a perpetração do abuso infantil e de violência e exploração de mulheres, prática infelizmente com raízes profundas no Brasil.

Veja a Matéria Completa Aqui!

 

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