Saiu no site FOLHA DE S.PAULO
Veja publicação original: Cresce número de mulheres que superam homens em competições de resistência
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Cientistas especulam que instintos de preservação e organização dão vantagem às mulheres
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Por Simon Usborne
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Londres Quando Jasmin Paris chegou ao checkpoint 4, ainda tinha companhia masculina. Nos 312 quilômetros anteriores, ela correra ao lado do atleta de endurance espanhol Eugeni Roselló Solé.
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Ele e Paris lideravam a corrida Montane Spine, um percurso de inverno de 430 quilômetros na trilha Pennine, na Inglaterra.
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Mais longa que dez maratonas, e envolvendo uma subida total equivalente a um monte Everest e meio, a Montane Spine é uma das corridas mais difíceis do mundo.
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Na penúltima parada, os competidores podiam comer e dormir o quanto quisessem. Paris, que ainda está amamentando sua filha Rowan, precisava extrair leite materno.
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“Eugeni tinha que colocar curativos em algumas bolhas, ia receber uma massagem e depois dormir”, diz Paris. Ela viu uma oportunidade.
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“Eu não falei com ele. Simplesmente fui embora.”
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Paris atravessou a linha de chegada no dia 16, com 83 horas de prova —quebrando o recorde anterior com uma diferença de mais de 12 horas.
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Depois de sua soneca, Solé, vencedor da corrida em 2013, partiu em uma tentativa desesperada de alcançá-la. Mas precisou ser socorrido a 6,5 quilômetros do fim, sofrendo de frio e exaustão. O atleta seguinte (um homem) terminou a prova 15 horas depois dela.
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Ao derrotar 126 pessoas —em sua maioria homens— por uma margem tão expressiva, Paris alimentou uma discussão mais ampla. Nos limites extremos das provas de endurance, as mulheres seriam não apenas mais velozes, mas também mais resistentes?
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Paris não é a única. Nicky Spinks, Pam Reed e Lizzy Hawker são todas atletas que já derrotaram competidores homens. Na natação, as quatro distâncias mais longas percorridas em água aberta, sem a ajuda de correntes, foram atingidas por mulheres.
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Mas quando é que as exceções indicam algo de mais significativo?
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Na busca por respostas, os cientistas toparam com um obstáculo: amostras extremamente reduzidas. A prova Montane Spine teve apenas 11 mulheres, por exemplo.
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Há poucos estudos científicos sobre gênero e resistência. Nos Estados Unidos, as mulheres foram quase excluídas da ciência do exercício até que uma lei de 1993 impôs a igualdade de gênero nas pesquisas pagas por verbas federais.
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Em média, os homens sempre terão coração maior e capacidade maior de oxigenar seus músculos. Essas vantagens não desaparecem nas distâncias mais longas, mas acabam sendo relativizadas por muitos outros fatores.
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As mulheres talvez sejam levemente favorecidas por sua armazenagem mais eficiente de glicogênio, um combustível crucial. Seu centro de gravidade mais baixo pode ajudá-las a cobrir terrenos acidentados.
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Guillaume Millet, ex-corredor de endurance e atual professor da universidade Jean Monnet, na França, estudou corredores homens e mulheres antes e depois da Ultra-Trilha do Mont-Blanc, uma importante ultramaratona nos Alpes.
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Descobriu que as coxas e panturrilhas dos homens sofrem mais fadiga que as das mulheres. “Isso sugere que as mulheres sejam mais resistentes à fadiga”, diz Millet.
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“Mas outra explicação possível é que as mulheres têm uma base mais protetora: elas decidem não se lesionar tanto.”
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É quando entra em jogo a psicologia, que leva em conta a atitude, o ego e a personalidade e talvez conte tanto quanto ou até mais que pernas e pulmões em provas extremas.
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Alguns cientistas especulam que um instinto de preservação e organização pode dar a vantagem às mulheres.
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“É saber quando vestir um casaco antes de suas mãos esfriarem tanto que você não conseguirá mais fechar o zíper”, diz a corredora Claire Maxted, fundadora da revista Trail Running.
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Além de uma mochila de corrida bem organizada, o ego também pode influenciar o ritmo de uma prova.
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Spinks é conhecida por começar devagar e depois ultrapassar colegas homens às dezenas.
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Paris passou as dez primeiras horas da prova Spine atrás de Solé.
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Um estudo americano com 92 mil corredores de 14 maratonas mostrou que homens e mulheres reduzem o passo na segunda metade da prova, mas que os homens desaceleram mais; eles se arriscaram mais no início.
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Jasmin Paris só decidiu participar da Montane Spine, uma prova que tinha jurado nunca disputar, para tentar curar de forma radical a perda de motivação para correr que sentia desde o nascimento da filha.
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Ela espera que a vitória inspire outras mulheres a competir. “É extremamente empolgante tentar romper barreiras”, diz Paris.
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