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COLUNA | NA POSSE, ARGENTINA ASSUME COMPROMISSO COM A VANGUARDA DO FEMINISMO

Saiu no site ÉPOCA

 

Veja publicação no site original: COLUNA | NA POSSE, ARGENTINA ASSUME COMPROMISSO COM A VANGUARDA DO FEMINISMO

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A qualquer brasileiro atento ou participante do debate sobre direitos das mulheres e equidade de gênero restou olhar para a Argentina, nesta semana de posse presidencial e ministerial no país, e enxergar a grama mais verde do vizinho

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Por Giulliana Biancomi

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Tire qualquer romantismo ou torcida de cena. E ainda assim, restam cenas que nunca foram vistas por aqui. A começar pelo discurso de posse, onde o presidente Alberto Fernández assumiu um compromisso com o feminismo:

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“Não quero concluir [o discurso] sem mencionar enfaticamente que nos próximos quatro anos empenharei todos os esforços necessários para que os direitos das mulheres estejam na vanguarda. Procuraremos reduzir, através de vários instrumentos, as desigualdades de gênero, econômicas, políticas e culturais. Vamos dar ênfase especial a todas as questões relacionadas aos cuidados, uma fonte de muitas desigualdades, uma vez que a maior parte do trabalho doméstico recai sobre as mulheres na Argentina e em outros países.”

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O trabalho doméstico. O cuidar. Esse grande divisor de vidas e definidor de trajetórias diferentes para homens e mulheres. Fernández foi ao ponto.

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Em novembro, aqui no Brasil, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou a “Síntese de Indicadores Sociais – uma análise das condições de vida da população brasileira”, que se baseia em dados compilados de 2012 a 2018 com cobertura nacional do território brasileiro.

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No capítulo que trata sobre a estrutura produtiva do Brasil, estão os dados do abismo: a maior disparidade em relação à distribuição de homens e mulheres em atividades produtivas está no trabalho doméstico. Do total de 6,2 milhões de pessoas nesse tipo de atividade no país, 5,8 milhões são mulheres.

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A esta altura da evolução da espécie, já é sabido que tal desigualdade, percebida a olho nu em núcleos familiares e dimensionada no país pelos dados do IBGE, não está relacionada a qualquer aspecto biológico.

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Nas igrejas, entretanto, há o discurso da mulher como a designada a cuidar do lar e da família. Discurso que seguirá ecoando, não resta dúvida, num país onde 87% se declaram cristãos – sendo desses pelo menos 22% evangélicos e 64% católicos.

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Existem mulheres que escolhem ficar em casa, sim. Mas esses dados da diferença entre homens e mulheres que desempenham atividades domésticas não falam sobre escolhas, mas sobre a falta delas. O trabalho doméstico nada tem de divino, muito menos pode ser louvado quando tantas mulheres o fazem na precariedade, sem garantias de direitos e numa compulsória divisão social do trabalho.

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Cristina Kirchner, durante cerimônia de posse como vice-presidente da Argentina Foto: NurPhoto / NurPhoto via Getty Images

Cristina Kirchner, durante cerimônia de posse como vice-presidente da Argentina Foto: NurPhoto / NurPhoto via Getty Images

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Para que Alberto Fernández falasse nesta semana sobre vanguarda dos direitos das mulheres e abordasse o trabalho doméstico na sua posse, as mulheres argentinas precisaram, desde décadas atrás, assumir uma vanguarda na forma de fazer política e na forma de reivindicar seus direitos. Há dias, portanto, em que tudo o que resta a fazer é reconhecer a atuação pioneira delas na América do Sul.

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A Argentina é um país ainda longe da equidade de gênero. A violência contra as mulheres por lá tem índices altos, assim como na maior parte dos países latino-americanos. A Argentina também penaliza mais as mulheres na crise econômica pela qual passa do que os homens – como acontece sempre em países em desenvolvimento.

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Mas o que há de diferente lá é o discurso de mudança que contempla gênero, agora no centro do poder. O discurso da justiça social, que contempla fortemente o movimento das mulheres e vai bem além dele, está no dia 01 do novo governo.

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Como isso aconteceu? Não, Alberto Fernández não é um feminista. Ele vocaliza, na presidência, os compromissos assumidos pelos grupos políticos progressistas que pavimentaram a vitória da sua chapa, incluindo ai as mulheres feministas. É sobre ampliar a democracia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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