Saiu na UNIVERSA
Veja a Publicação Original
Você sabia que uma das maiores autoras de novelas do Brasil era uma mulher negra? Pois é, Ivani Ribeiro, que criou sucessos como “Mulheres de Areia” e “A Viagem” (nas duas versões) e ajudou a transformar os folhetins em paixão nacional, era uma mulher negra. Constatei o fato ao me deparar com fotos dela no Google, quanto então vi que ela era referenciada, na imprensa da época e até no livro biográfico, como “morena” — termo que foi (e ainda é) muito usado para se referir às mulheres negras de pele clara.
Fiz um post no meu Instagram (@carlinha) sobre isso e a surpresa foi geral. Nem mesmo roteiristas negros sabiam que tinham uma referência de sucesso tão incrível e próxima quanto Ivani.
Parte importante da sua história foi inviabilizada, porque, no Brasil, as suas feições e a cor da sua pele interferem diretamente no tratamento e reconhecimento que você terá na sociedade
E é assim que garotas negras crescem sem referências de sucesso, sem se enxergarem em lugares de destaque e reconhecimento.
A maranhense Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista brasileira, foi a professora que fundou a 1ª escola mista do país. É outro triste exemplo desse embranquecimento. Mandaram fazer um retrato dela para homenageá-la na câmara municipal, só que a mulher retratada é uma mulher branca, uma escritora gaúcha (!). Usaram a imagem de uma outra mulher e o tal retrato ficou lá representando erroneamente Maria Firmina até 2012.
Na luta pelo sufrágio feminino, mais um exemplo. No livro “As Filhas de Eva Querem Votar: uma história da conquista do sufrágio feminino no Brasil”, a escritora Mônica Karawejczyk conta que elas são invisíveis na história não pela ausência de diversidade no movimento, mas porque elas não foram descritas como negras. “O que nos faz conjecturar sobre o racismo da época”, afirma a autora.
A pesquisadora Karla Nunes, que conta que Antonieta de Barros, uma importante sufragista e a primeira mulher a ser eleita deputada estadual em Santa Catarina, afirma que ela não fazia referência a sua etnia, fato que credita ao ideal de branquitude da sociedade brasileira. “Os jornais que circulavam em Florianópolis raramente falavam sobre a cor de Antonieta. Parecia que havia um contrato: desde que ela se sujeitasse às representações designadas às mulheres na sociedade, ‘a cor de sua epiderme’ passaria despercebida”, escreve.
Se no passado as mulheres tinham que esconder a cor da sua pele para conseguir destaque, é importante que a gente, com o conhecimento e consciência adquiridos, faça essa correção histórica e contemos as histórias novamente exaltando suas lutas, seus legados e a sua cor.