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Todas as mulheres são essenciais

Saiu na MARIE CLAIRE

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O mês de maio apresenta-se com datas importantes. Dia 1º é o Dia do Trabalhador e o segundo domingo do mês, o Dia das Mães. A intersecção de simbologias nos confronta com mais de um ano da pandemia de covid-19 e temos a oportunidade de refletir. Por que as mulheres foram/são sobrecarregadas com jornadas duplas e triplas e com tarefas de cuidado remuneradas ou não?

A pandemia trouxe muita notícia ruim, trouxe alertas, trouxe esperança de aprendizagens: muitos diziam que sairíamos desta mais fortes, modificadas e modificados. Esperávamos um “novo normal” o menos normal possível: iríamos aprender a evitar tragédias ambientais, pandemias e injustiças, a solidariedade entraria definitivamente para nossa etiqueta cotidiana. Desde o isolamento social, romperíamos barreiras para fazer o mundo melhor de que tanto precisamos. Será? Não foi o que se viu e o que se vê no dia a dia de milhares de mulheres brasileiras, elas sim em várias linhas de frente. Somos maioria na saúde, ao menos na medicina e na enfermagem; somos maioria no trabalho informal desprotegido – quantas vidas de mulheres negras a pandemia interrompeu? –, somos a maioria no trabalho doméstico. Muitas de nós são mães que, com pouco ou nenhum apoio (leia-se políticas públicas), só contam umas com as outras neste momento.

Fomos expostas ao vírus da indiferença e do desprezo pela vida, como Mirtes, mãe do menino Miguel, do Recife, tratada como trabalhadora essencial na pandemia e que, em 2 de junho próximo, lembrará que a dor de perder seu filho completará um ano. No Rio de Janeiro, a primeira pessoa a morrer de covid-19 foi uma trabalhadora doméstica. Nas manhãs das regiões metropolitanas deste país, submetidas a chefes de governos negacionistas, negligentes ou incompetentes, cenas de aglomeração nos transportes se repetem. São milhões de trabalhadoras (domésticas, manicures, cuidadoras, enfermeiras e tantas outras) que se aglomeram, protegidas por máscaras artesanais gastas, arriscando a vida pelo trabalho sem contrapartida justa. As que são mães arriscam tudo para tentar reduzir o risco para seus filhos – estes, sem escola, sem comida, sem condições mínimas de proteção e isolamento.

O Brasil que em maio “celebra” as mães e trabalhadoras é o país da contradição. Nós, mulheres, não somos tratadas com igualdade e equidade. Muitas patroas dessas milhares de mulheres (negras a maioria) que se deslocam pelas cidades não encontram outra solução para responder às pressões do mercado de trabalho – elas também desvalorizadas e pressionadas – e à ausência de políticas públicas para o cuidado das crianças, dos doentes, dos idosos, por exemplo. E, em vez de uma ação coletiva de transformação, individualizam respostas explorando e vulnerabilizando outras. É preciso que todas nós viremos a chave, para cobrar das autoridades políticas públicas que nos assegurem direitos, para cobrar, nas urnas também, Parlamentos mais representativos e compromissados com nossos direitos. Quando uma sociedade garante direitos plenos para as mulheres, a qualidade de vida da nação melhora. Para isso e por isso lutamos.

Toni Morrison, a escritora genial que recebeu dois dos principais prêmios de literatura (Pulitzer e Nobel), escreveu em 1992: “A ordem do dia era o silêncio, emanando e rodean­do o assunto. Alguns dos silêncios foram rompidos, outros mantidos por autores que viveram e conviveram com as estratégias civilizatórias. A mim, o que interessa são as estratégias para romper com isso”. A mim o que interessa são as estratégias para romper com isso, repito. Buscar estabelecer um pacto entre nós, mulheres, todas, para outra “normalidade” necessária. Onde essenciais seremos todas, sem exceção.

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