Saiu no site G1
Veja a publicação original:Decisão de juiz sobre caso de estupro leva chilenas de volta às ruas em protesto
Antonia Barra não chegou a conhecer o coletivo feminista chileno Las Tesis, que ganhou fama mundial no fim do ano passado com a performance ‘Um Estuprador no Seu Caminho’. Na quarta-feira (22), no entanto, as vozes femininas do grupo se uniram em homenagem a ela.
Nem a pandemia, nem o distanciamento social impediram que milhares de mulheres saíssem às ruas de várias cidades do Chile para cantar o hino feminista “O estuprador é você”, bater panelas e bloquear avenidas com um único pedido: justiça para Antonia.
O caso de Antonia é assunto na imprensa chilena há meses. Mas, nesta quarta-feira, a indignação chegou a um outro patamar depois que um juiz determinou a detenção domiciliar do acusado, Martín Pradenas, e não sua prisão preventiva. Ele nega ter estuprado a jovem.
Durante a audiência, o canal digital do Poder Judiciário chileno atingiu um número recorde: um milhão de conexões.
A jovem de 21 anos contou que foi estuprada em meados de setembro passado. Quase um mês depois, cometeu suicídio.
Foram dois os principais argumentos para a rejeição da prisão preventiva de Pradenas, de 28 anos: o “bom comportamento do acusado”, que é investigado por cinco casos de abuso sexual e estupro de outras jovens mulheres, e a “falta evidências suficientes” para comprovar o crime.
“Esta é uma instância de um processo judicial, não sua sentença final. O argumento do juiz é escandaloso e não leva em conta a seriedade do caso”, diz a jornalista Paula Molina à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, em Santiago do Chile.
Além desta decisão, o juiz responsável pelo caso, Federico Gutiérrez, definiu que duas das cinco acusações – ocorridas entre 2010 (contra uma jovem de 16 anos) e 2014 (uma mulher de 19 anos) – estão prescritas.
No Chile, esse tipo de crime prescreve após cinco anos.
“Isso é algo chocante, porque sabemos que as vítimas demoram muitos anos para denunciar. A prescrição torna todo o processo inútil. Fica difícil entender porque parece haver um padrão de crimes semelhantes, como mostram as denúncias neste caso “, explica Molina.
‘Não quis preocupar os pais’
Durante a audiência, transmitida ao vivo, foi exibido um vídeo de Antonia e Martín, publicado posteriormente na televisão nacional, no qual ele a empurra diversas vezes enquanto caminham.
“Ao ver o vídeo em que o acusado aparece ao lado da vítima, que mais tarde será estuprada e que tirará a própria vida, o juiz diz: ‘Só vejo um casal andando’. É um sinal muito forte de como a justiça chilena não vê ou escolhe não ver o que acontece nesses crimes “, afirma Molina.