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Tarsilinha do Amaral: ‘Minha tia sempre quis ser a pintora do Brasil. E conseguiu’

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Veja publicação original:  Tarsilinha do Amaral: ‘Minha tia sempre quis ser a pintora do Brasil. E conseguiu’

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Sobrinha-neta da pintora modernista fala sobre os bastidores da concepção da mostra ‘Tarsila Popular’, no Masp.

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Por Amauri Terto

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Tarsilinha do Amaral foi nome imprescindível para a realização de Tarsila Popular, mostra com 92 obras da artista fundamental do modernismo brasileiro, que foi inaugurada no Masp no último dia 5.

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A advogada de 54 anos é sobrinha-neta da pintora paulista e a administradora do espólio da artista. “Eu converso com Adriano Pedrosa [diretor do Masp e um dos curadores] sobre essa exposição há quase cinco anos”, revela, em entrevista ao HuffPost Brasil.

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Na mostra estão desenhos e telas: de retratos de viagens, manifestações religiosas e festas populares, e paisagens rurais e urbanas, que revelam uma visão positiva da artista sobre o País e sobre o povo brasileiro. “Ela sempre teve orgulho do Brasil e agora se torna, ela mesma, um orgulho nacional”, comemora.

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Tarsilinha conta também que emprestou uma obra para compor a exposição: Paisagem Antropofágica 9, um nanquim. Além disso, atuou em outras frentes, da negociação de outros trabalhos à interlocução com colecionadores. “O que eu sempre faço com muito prazer.”

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Na entrevista, a advogada relembrou momentos que passou ao lado da tia-avó, refletiu sobre a atual ascensão da artista brasileira no mercado das artes e comemorou a atualização das análises em torno da obra de Tarsila.

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Historiadores e pensadores contemporâneos foram convocados pelos curadores, Adriano Pedrosa e Fernando Oliva, para analisar as pinturas em exposição. O resultado dessa empreitada é uma coleção de 40 textos que integram o catálogo e aparecem nas paredes da exposição. Em movimento inédito, 85% desse material é assinado por mulheres.

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“Esses novos olhares revigoram a obra de Tarsila”, afirma Tarsilinha.

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HuffPost Brasil – Qual o principal legado deixado por Tarsila do Amaral?

Tarsilinha do Amaral – O principal legado é a brasilidade. Tarsila queria ser a pintora do Brasil, nunca teve vergonha de afirmar isso lá fora – e estamos falando dos anos 20. Ela sempre teve orgulho do Brasil e agora se torna, ela mesma, um orgulho nacional.

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Quando Tarsila morreu, a senhora tinha 8 anos de idade. Qual memória mais marcante que tem dela?

Minhas memórias mais marcantes são as visitas à casa dela. Eu amava. Ficava andando pela casa toda, olhando os quadros, fascinada. A maioria das obras que estão na exposição eu lembro ainda nas paredes da casa de Tarsila. Ela sempre foi muito gentil com todo mundo, mas acho que tinha uma afeição especial por mim por termos o mesmo nome. Ela era muito carinhosa. Essas lembranças são muito fortes.

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Como analisa esse momento em que uma tela de Tarsila é comprada pelo MoMA e a obra dela volta a ganhar destaque em mostras de grande porte em dois importantes museus do mundo?

A exposição do MoMA, em 2018, foi um marco. Levou Tarsila a um novo patamar de reconhecimento internacional. A compra do quadro simboliza outro momento excepcional: agora Tarsila passa a figurar na mesma sala das obras-primas no acervo do museu, ao lado de um Picasso. É um grande momento na trajetória de Tarsila, mas também na história da arte brasileira. Chegou a hora de Tarsila ser conhecida em todo o mundo e por todo mundo.

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Como foi sua participação nos bastidores da exposição Tarsila Popular? E o que achou do recorte dos curadores?

Eu converso com Adriano Pedrosa [diretor do Masp] sobre essa exposição há quase cinco anos. Ele queria fazer no período em que estavam organizadas mostras no Art Institute of Chicago e no MoMA, e sugeri que esperássemos pra fazer a mostra em São Paulo depois delas.

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Eu acabo colaborando em algumas frentes e dando alguns palpites [risos]. Para compor a exposição, emprestei uma obra: Paisagem Antropofágica 9, um nanquim. E colaboramos com a negociação em torno dos outros trabalhos, ajudando a fazer a interlocução com os colecionadores – o que eu sempre faço com muito prazer.

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Sobre o recorte, a exposição Tarsila Popular tem muita relação com o que minha tia sempre quis. Mostrar a paisagem, seja ela rural ou urbana, exaltar o povo brasileiro. Nesse recorte podemos ver de maneira bem clara essa essência, que é o grande legado que ela queria deixar. Também importa dizer que um dos méritos dessa retrospectiva é reunir obras que ainda não são conhecidas do grande público e possibilitar um novo olhar em direção aos temas, personagens e narrativas presentes no trabalho da artista, especialmente em relação a questões políticas, sociais e raciais.

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O catálogo da exposição tem 85% dos textos analíticos sobre a obra de Tarsila escrito por mulheres. Qual a importância desses novos olhares sobre o trabalho dela?

É de uma importância tamanha e ajuda a rever a dimensão dessa mulher no mundo. Esses novos olhares revigoram a obra de Tarsila. A sociedade mudou muito dos anos 20 pra cá, obviamente. E olhar a criação de Tarsila sob uma perspectiva atualizada de comportamento revela de maneira muito clara o seu vanguardismo. Ela representa a mulher que escolhe o lugar que quer ocupar na vida. Recusou o clássico e honrado papel de esposa e mãe. Quis ser a pintora do Brasil – e conseguiu. Por isso e por muitos outros motivos, Tarsila inspira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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