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Simone Veil, ícone pró-aborto na França, entra para o Panteão de Paris

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A França presta uma grande homenagem à Simone Veil neste domingo (1°), grande figura política do século XX, sobrevivente do Holocausto, responsável pela lei que …

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“Uma decisão de todos os franceses”: assim classificou o presidente Emmanuel Macron, durante seu discurso, neste domingo, em uma grande cerimônia de homenagem à Simone Veil.

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Ícone feminista, seus restos mortais e de seu marido, Antoine Veil, passam a integrar o templo que abriga as maiores personalidades da França, como Voltaire, Victor Hugo, Émile Zola, Alexandre Dumas, Pierre e Marie Curie.

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A cerimônia foi transmitida em cadeia nacional neste domingo e acompanhada por milhares de pessoas que lotaram as ruas do 5° distrito de Paris. Cobertos com a bandeira francesa, os caixões carregando os restos mortais de Simone e Antoine Veil entraram no monumental Panteão na presença de grandes representantes políticos, dos filhos e netos do casal.

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Eles repousarão em uma cripta ao lado de Jean Moulin, André Malraux, René Cassin e Jean Monnet “quatro grandes personagens de nossa história”, classificou Macron, “que foram, como ela, mestres da esperança”.

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Nos últimos dois dias, os caixões de Simone e Antoine Veil puderam ser visitados na cripta do Memorial da Shoah em Paris, do qual a própria ex-ministra foi fundadora e presidente, de 2001 à 2007.

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Desde sua morte, em 30 de junho de 2017, as autoridades francesas se mobilizaram para prestar homenagem desta que é um símbolo incontestável para os franceses. Ruas, praças e uma estação da linha 3 do metrô de Paris, passaram a levar seu nome.

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De imortal à eterna

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Eleita para a Academia Francesa em 2010, Simone Veil já era, desde então, uma “imortal”. Mas com a transferência de seus restos mortais ao Panteão, ela se torna uma “eterna”, como são chamadas as personalidades que repousam no local.

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De todos os pontos de vista, Simone Veil traçou um caminho fora do comum e exemplar para uma mulher de sua época.

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Sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, para onde foi deportada com toda a sua família aos 16 anos, e onde morreram os pais e o irmão, a francesa nascida em Nice, no sul do país, lutou a vida inteira contra as injustiças e pela igualdade de direitos.

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Essa batalha levou do Holocausto para dentro de sua própria família. Na época Simone Jacob, a jovem conheceu o marido, Antoine Veil, na prestigiosa Science Po de Paris, em fevereiro de 1946; ela com 18 anos, ele com 19. Apaixonados, eles se casaram oito meses depois, tiveram três filhos e passaram 67 anos juntos, até a morte de Antoine, em 2013.

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A vida conjugal, no entanto, começou a se construir em torno da carreira diplomática de Antoine Veil, nomeado para trabalhar na Alemanha, onde Simone Veil o acompanhou. Pouco favorável que a mulher trabalhasse, Antoine não aprovou que a esposa se tornasse advogada.

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Mas a jovem perseguiu seus ideais com determinação, levando na memória a própria do oposição de seu pai que sua mãe pudesse ter uma carreira profissional.

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Na Chancelaria de Paris, sua capacidade de trabalho não passou despercebida e Simone Veil se tornou, em 1970, a primeira mulher designada à secretária-geral do Conselho Superior da Magistratura. Foi onde o então primeiro-ministro Jacques Chirac a conheceu e a nomeou ao Ministério da Saúde da França.

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Da primeira mulher a ocupar a pasta da Saúde, Simone Veil se torna, em 1979, a primeira presidente do Parlamento Europeu, de 1979 à 182. Em 1993, torna-se a primeira francesa a ocupar o ministério do Estado. Em 2010, no final de sua vida, passa a ser a sexta mulher a ser eleita para a Academia Francesa.

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Legalização do aborto, a “Lei Veil”

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Apesar da grande lista de conquistas, a maior delas foi a legalização da interrupção voluntária da gravidez na França. A lei entrou em vigor oficialmente em 19 de janeiro de 1975, durante o mandato do presidente Valéry Giscard d’Estaing, após meses de virulentos debates.

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A aprovação do texto foi o resultado de um esforço conjunto de vários setores da sociedade, que enfrentaram o conservadorismo, uma grande ofensiva da igreja e uma forte oposição por parte até mesmo dos integrantes do governo Giscard d’Estaing.

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O combate, no entanto, foi liderado por Simone Veil. Não por acaso, a lei é conhecida até hoje como “Lei Veil”. A árdua batalha foi detalhada em seu livro de memórias, “Une Vie” (Uma Vida), publicado em 2007.

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No texto, a ex-ministra conta que, na época do debate da lei, seu prédio foi pichado com a cruz suástica, além de ter sido frequentemente insultada nas ruas e seus filhos terem sido alvo de violências.

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As agressões antissemitas não vieram apenas por parte de opositores do aborto nas ruas. No Parlamento francês, formado na época por 481 homens e nove mulheres, após um debate de 25 horas, no qual foi sofreu uma torrente de acusações, ouviu alguns legisladores compararem a interrupção voluntária da gravidez ao Holocausto.

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Outros episódios marcaram o debate, como do então deputado de direita René Feït, médico ginecologista, que veiculou para toda a Assembleia sons de batimentos cardíacos de um bebê na barriga da mãe.

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Ele foi o mesmo a defender que, se o projeto fosse aprovado, faria, a cada ano, “duas vezes mais vítimas que a bomba de Hiroshima. Um outro parlamentar chegou a defender sua posição contra a legalização do aborto exibindo um feto morto dentro de um vidro cheio de formol.

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“Nunca imaginei o ódio que eu iria desencadear”, disse a ex-ministra da Saúde depois da aprovação da lei. Anos depois, Simone Veil entraria para a lista das personalidades mais admiradas pelos franceses, ocupando por anos consecutivos os dez primeiros lugares e, em 2016, a segunda colocação.

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Ao ser questionada pouco antes de sua morte se os ataques que sofreu a desmotivaram, respondeu: “Não, nunca perdi minha confiança e desisti. Tudo aquilo me incentivava, me dava forças para vencer. E acho que, definitivamente, esses excessos me ajudaram”, reconheceu.

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No entanto, nunca deixou de dividir sua grande conquista – que a tornou um ícone feminista – com um homem. “Me dizem frequentemente que eu encarno a causa das mulheres. Elas têm consciência do que eu fiz por elas, batalhando pela lei que autorizou a interrupção voluntária da gravidez.

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Mas essa lei também devemos a um homem, Valéry Giscard d’Estaing”, defendeu, em uma entrevista. Na época, o presidente da República foi a pessoa que mais apoiou Simone Veil em seu combate.

 

 

 

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