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#NegrasEmpreendedoras – Thayná Trindade: Designer do subúrbio carioca busca inspiração nas joias de crioula

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE: 

 

Veja publicação original: #NegrasEmpreendedoras – Thayná Trindade: Designer do subúrbio carioca busca inspiração nas joias de crioula

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Stephanie Ribeiro entrevista artista negra que investe sua criatividade em acessórios de moda impactantes

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Escolhi destacar que Thayná Trindade é do subúrbio, pois Thayná é isso, mas também é designer, historiadora, mãe, estudante, empresária… Uma mulher negra múltipla, como muitas de nós somos na nossa subjetividade, mas com lados apagados por uma visão estereotipada. Thayná se opõe a esse reducionismo não só enquanto indivíduo, mas na sua própria criação: a Uzuri, uma marca de design de joias que ela criou inspirada nas mulheres do seu entorno, em especial suas avós.

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Thayná vem criando uma série de peças que remetem às chamadas joias de crioula, usadas por mulheres negras libertas como forma de ter seu status e identidade num contexto colonial. Ela foge de um design mais comum, sem perder a estética inspirada em mulheres negras e a reafirmação disso. Thayná é a nossa terceira entrevistada. Com seu trabalho, vem refletindo a pluralidade do que são as #negrasempreendedoras.

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Coleção Odara: búzios decoram as peças (Foto: Washington Santana)
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Você estuda história da arte, certo? Como se tornou designer de joias na Uzuri?
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Sim, mas eu parti do processo inverso: já trabalhava com produção de acessórios da minha marca. Porém, senti a necessidade de uma busca mais aprofundada sobre a questão da joalheria, principalmente a de origem afro-brasileira – em especial a joalheria de crioula, que hoje é a base da minha pesquisa acadêmica em História da Arte.

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Me fala mais sobre a sua inspiração na joalheria de crioula? Não é todo mundo que conhece esse marco no design afro-brasileiro ligado aos negros ainda no período em que a escravidão era uma realidade.

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A joalheria de crioula foi a primeira produção de joias feitas em território nacional produzidas e utilizadas por mulheres africanas e afro-brasileiras carregadas de simbologias, opulências e ancestralidade – além do design único. Esses adornos basicamente produzidos em ouro, prataria e pedras preciosas afirmam de forma direta a identidade, a status, a condição e a insígnia de prestígio social e de poder.

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Trabalhar com as mãos pode ser muito terapêutico. Você acredita que o trabalho artístico te alivia de alguma forma, sendo uma mulher negra numa sociedade tão violenta?

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Eu estava em tratamento de uma depressão profunda e precisava fazer uma atividade terapêutica para diminuir o uso de remédios controlados. A Uzuri nasceu a partir dessa demanda e eu nunca mais parei de criar. Virou uma vocação, uma empresa e ponto de reinício para uma vida social, financeira e acadêmica.

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Vejo muitos empreendedores criando roupas e tendo os acessórios como segundo plano. No seu caso, as joias são o primeiro e único plano – e ganharam um design totalmente diferente desse mais corriqueiro para empreendedores negras. O que te motivou a criar essa estética para Uzuri? E o que te inspira?

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Justamente para sair da mesmice da produção de acessórios, resolvi trazer um design mais agressivo ao uso de metais, sempre com um equilíbrio entre o exagero o glamour, entre o antigo e o contemporâneo. A principal fonte de inspiração são as mulheres negras, nossas histórias de luta, nossas ancestralidades e tudo que reverbera ao nosso redor em várias vertentes.

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Muitos negros começam negócios que acabam falindo por falta além de dinheiro para investir e noção de planejamento para empreender. Como você lida com esses obstáculos?

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Procurando cursos na área de empreendedorismo, além de conhecimento sobre gestão de negócios e, principalmente, com um planejamento a médio e longo prazo para solidificação da marca dentro e fora do nicho do “afro-empreendedorismo”.  Fiz cursos na Universidade da Correria, Social Starters e Iniciativa Shell

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Você quer estar fora do que é entendido como “afro-empreendedorismo”?

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Este é nicho limitador e extremamente estereotipado, nos coloca num patamar de exclusão e inferioridade no que tange a questão empresarial. Somos a maioria da população e a maioria no empreendedorismo, mas ainda estamos enquadrados apenas no empreendedorismo de sobrevivência. Hoje, os empreendedores negros, por toda a exclusão histórica, tem menos acesso à educação de qualidade, a cultura empreendedora e gestão dos próprios negócios, além de uma limitação de crescimento, planejamento e aceleração dos seus empreendimentos.

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Você acredita que exista um ativismo por trás da Uzuri?

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Mais do que uma marca de acessórios, a Uzuri é um coletivo que busca empoderar e dar visibilidade e belezas que não são vistas como socialmente aceitas. Valorizar a auto estima de pretas e pretos é ponto inicial para um reconhecimento da sua história, da sua estética e reafirmação de suas raízes.

 

 

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