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NADA VAI MUDAR SE NÃO LUTARMOS E DENUNCIARMOS

Saiu no site CAPAZES:

 

Veja publicação original:   NADA VAI MUDAR SE NÃO LUTARMOS E DENUNCIARMOS

 

Por SARA NEVES

 

Era domingo e regressava a Lisboa, por volta das 19h. Na paragem de autocarro estava um número considerável de pessoas.

 

 

Sentou-se ao meu lado um homem e perguntou-me se iria passar algum autocarro, respondi-lhe curtamente que sim. Momento de silêncio. Perguntou que autocarro é que eu iria apanhar, fingi não ter ouvido para tentar que a conversa ficasse por ali. Voltou a dirigir-se a mim e perguntou que idade tinha. Ignorei. Perguntou para onde ia. Cansada, respondi-lhe com mais educação do que a situação exigia que não queria conversar. Levantei-me e entrei na estação para mudar de paragem, sem que ele se apercebesse.

 

 

Liguei aos meus pais e expliquei o que tinha acontecido, pedi para não desligarem a chamada até eu entrar em casa. Passados uns 5 minutos, já na paragem do novo autocarro, o tipo aparece ao meu lado e pergunta “Estás a fugir de mim?”, enquanto se ri. Respondi que chamava a polícia se não parasse de me seguir. Alto e em bom som. Toda a gente ouviu, ninguém disse uma palavra ou agiu em minha defesa.

 

 

Saí dali e apanhei um táxi para casa. No caminho, contei ao taxista, que se mostrou bastante compreensivo e irritado com a situação e disse que várias clientes mulheres lhe tinham contado situações semelhantes e que era necessário fazer algo contra isto. De uma vez por todas. Ninguém quer que esta mulher seja a sua companheira ou filha.

 

 

Não foi um episódio isolado. Quase diariamente sou vítima de assédio sexual verbal na rua. Não sou a única, as minhas amigas relatam exactamente o mesmo. Desde pequena que sinto uma frustração imensa perante estas situações. Sentia até uma culpa estúpida, apesar de ter 100% de noção que não tinha culpa absolutamente nenhuma.

 

 

Decidi que a minha atitude tinha de mudar. Não podia continuar a ignorar, como muitos me diziam para fazer. Tinha de falar, tinha de agir.

 

 

Perante os meus valores e conduta, não é normal um cidadão abordar outro na rua para o humilhar ou perturbar, invadir o seu espaço privado. Em termos legais, a importunação sexual é crime. Os crimes não podem ser atenuados ou ignorados por serem comuns na sociedade – e, se alguém o faz, não está certamente no seu perfeito juízo.

 

 

Não quero viver num mundo em que os meus filhos, raparigas ou rapazes, saiam à rua com medo de serem assediados por alguém cujo desrespeito pela integridade moral e física do próximo ultrapasse os limites cívicos. E, como nada muda sozinho, irei lutar, denunciar e falar abertamente sobre esta questão até que ela se torne apenas uma memória de uma época sombria perdida num livro de História.

 

 

 

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