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Mulher rompe ciclo da violência após viver as três fases de agressão

Saiu no site MÍDIA NEWS

 

Veja publicação original:  Mulher rompe ciclo da violência após viver as três fases de agressão

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Judiciário alerta para a identificação das fases do ciclo da violência

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Me sinto humilhada? Sinto minha liberdade tolhida? Sinto estar presa no casamento/namoro? Se a resposta for sim, para qualquer uma dessas perguntas, com certeza você está vivendo um relacionamento abusivo. E como qualquer tipo de relação como essa há o ciclo da violência doméstica, que se caracteriza pela continuidade e repetição ao longo do tempo de relacionamento. O ciclo possui três fases e o padrão de interação, geralmente, termina onde havia começado. E é justamente em situação de limite que pode ocorrer o feminicídio.

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A fase 1 é o momento de estranhamento, de tensão, onde qualquer coisa que a mulher faça, por menor que seja, é motivo de discussão, o homem fica bravo e começam os xingamentos. A fase 2 é a agressão propriamente dita, onde a vítima é espancada, diminuída, acontecem maus-tratos e tende a crescer na frequência e intensidade. A fase 3 é a lua de mel, em que o agressor pede perdão, se diz arrependido e garante que isso nunca mais vai acontecer. A explicação é da juíza da 1ª Vara de Violência Doméstica de Cuiabá, Ana Graziela Vaz de Campos.

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“E a mulher quer manter o relacionamento, acredita que isso nunca mais vai acontecer, voltando para a fase 1, passando pela fase 2 e novamente pela terceira fase. Ela é agredida novamente e, com o passar do tempo, as fases do ciclo da violência vão ficando cada vez mais curtas, sendo vítima constante de violência doméstica”, reitera a magistrada.

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Quem viveu essas três fases, em dois relacionamentos distintos, foi Solange*, que desde o início do mês está acolhida na Casa de Amparo da Capital. Após apanhar do marido com quem se relacionou por cinco anos, ficou com o rosto totalmente deformado por conta dos socos que levou. Teve dentes quebrados e o corpo queimado por cigarro, ficando mais de uma semana internada em um hospital público de Cuiabá. O companheiro é usuário de drogas e consome constantemente bebida alcóolica. Foram anos de ameaças, xingamentos, agressões físicas, sexual e psicológica.

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Essa foi a segunda vez que ele a agrediu, física e sexualmente, rasgando toda a roupa dela. Mesmo com o rosto deformado, mantida em cárcere privado e sem nenhum documento (que ele havia escondido), conseguiu pegar ônibus e pedir ajuda na rua para uma mulher desconhecida que a levou até a Delegacia da Mulher, já que não conseguia enxergar devido os olhos estarem tão inchados que ficaram quase que totalmente fechados.

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“Me bateu só duas vezes. Quando o conheci não sabia que era assim, mas logo no começo já bebia, usava droga e me xingava. Foi me bater depois de um ano que a gente estava junto, falou que ia parar, mas de uns tempos para cá começou a dizer que estava traindo ele. Então, me afastei e foi quando disse que ia me separar. Um dia ficou me esperando na porta da igreja, usando droga. E foi essa a segunda vez que me bateu. Foi das 23h às 5h da manhã me agredindo. A gente não espera isso de alguém que a gente vai morar junto”, relata.

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A tristeza no olhar de Solange mostra a decepção, justamente porque o atual companheiro sabia que já havia sido violentada de várias formas no primeiro relacionamento, pelo pai dos três filhos. “Nunca imaginei que fosse fazer a mesma coisa que o meu primeiro marido. Mas, me xingava de vagabunda de animal, igual ao outro”, conta.

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O responsável pelos hematomas recentes no corpo e pelas feridas que carrega na alma está preso desde que foi à Delegacia da Mulher fazer a denúncia. Agora, espera o dia da audiência, já designada para o fim deste mês. “Só quero tomar um rumo e viver outra vida”, diz em voz baixa.

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De acordo com a juíza Ana Graziela, é preciso ter coragem de denunciar o agressor para romper o ciclo de violência e, assim, evitar um possível feminicídio.

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“É preciso se empoderar, ter como se sustentar, ter pessoas para quem falar, já que o agressor quer afastar dos familiares, dos amigos e às vezes até do serviço, proibindo a vítima de trabalhar, porque é mais fácil dele controlar. É interessante que tenha como se manter e manter os filhos para poder ter coragem de denunciar e sair do ciclo da violência”, acrescenta Ana Graziela.

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A magistrada ressalta que é importante que a mulher perceba que está sendo vítima de violência doméstica. Muitas vezes, o homem é educado, um príncipe, mas não deixa visitar a casa de familiares sozinha, proíbe de praticar esportes e outras atividades para não ter contato com pessoas. Assim, é mais fácil dele controlá-la e não ter como pedir socorro.

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Todo relacionamento abusivo começa com pequenas humilhações, com ameaças, até chegar em um empurrão, numa quebra de braço, numa fratura e depois feminicídio.

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“A violência doméstica, se não for cortada no início, caso contrário, a mulher que está passando por essa situação, pode ser, provavelmente, uma vítima de feminicídio”, alerta a juíza.

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Serviço 

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O Tribunal de Justiça possui diversos projetos que auxiliam mulheres vítimas de agressão, como os Círculos de Construção de Paz, Oficina de Pais e Filhos, além de parceiros. Um deles é o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) que, por meio de cota para vítima de violência doméstica, recebe mulheres para cursos técnicos, pós-graduação e até mestrado, sem nenhum custo. Há também parceria com Prefeitura de Cuiabá, onde as mulheres são encaminhadas para cursos de capacitação.

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Medidas protetivas 

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Conforme a magistrada, nas situações onde as medidas protetivas são utilizadas, geralmente, não ocorre um fato mais grave.

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“Dos últimos feminicídios que aconteceram, nenhum tinha medida protetiva. Em  2017, uma mulher que foi vítima de feminicídio desistiu da medida protetiva, pois achava que o agressor não oferecia mais perigo e, com isso, foi assassinada. Em Mato Grosso, raríssimas exceções são aquelas vítimas que tinham medidas protetivas e foram assassinadas. Por isso, é importante procurar ajuda, procurar a polícia, Ministério Público, o Judiciário, para cortar a violência no início”, reitera.

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*Nome fictício para preservar identidade da vítima.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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