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Mês das mães: mulheres ainda são penalizadas, sejam elas casadas ou não

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:  Mês das mães: mulheres ainda são penalizadas, sejam elas casadas ou não

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Uma leitura rápida de dados divulgados em pesquisas números deixa claro: não é possível afirmar que homens e mulheres são iguais em direito e obrigações quando se trata de filhos

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Por Isis Vergílio

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Maio, mês das mães. Embora muitas mulheres guardem este segredo “a sete chaves”, todas temos algum tipo de dificuldade com essa função: a de ser mãe. Mas só as que passaram por processos de separação e por disputas judiciais sabem o quanto a desigualdade entre homens e mulheres pesa também nessas questões.

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Vivemos em uma sociedade estruturada pelo racismo, machismo, misoginia, lgbtfobia. A ideia de que homens e mulheres são iguais em direito e obrigações, embora esteja na lei, é algo a ser conquistado e que está bem distante da realidade.

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Mais de 80% das crianças brasileiras são criadas por mulheres como primeiro responsável, e 5,5 milhões não têm o nome do pai em seu registro de nascimento. Entre 2005 e 2015, o número de famílias formadas por mães solo subiu de 10,5 milhões para 11,6 milhões. Os dados são de pesquisas publicadas nos últimos dois anos pelo IBGE, e revelam a prevalência e importância da presença feminina e o peso da ausência paterna na educação dos filhos.

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Segundo a pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgada em 2017 com base nos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o número de lares brasileiros comandados por mulheres passou de 23% para 40% entre os anos de 1995 e 2015.

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As mulheres que trabalham fora passam 18,1 horas semanais fazendo tarefas domésticas e cuidando de filhos e de parentes idosos (segundo a Pnad). Já os homens desempregados, dedicam 12 horas semanais a atividades dessa natureza. Para os homens empregados, essas simplesmente não são atividades prioritárias, e não pesam sobre eles as mesmas cobranças feitas às mulheres.

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Em 2015, de 10,3 milhões de crianças brasileiras com menos de 4 anos, 83,6% (8,6 milhões) estavam sob os cuidados de uma mulher, o que inclui mãe biológica, de criação (as avós muitas vezes assumem esse papel) ou madrasta.

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Além de assumirem mais responsabilidades, as mulheres ainda sofrem as consequências do cansaço da dupla ou tripla jornada e a injustiça de receberem salários menores do que os dos homens. A taxa de pobreza por família é maior entre as compostas por mulheres com filhos, mas que não contam com a ajuda de cônjuges ou companheiros.

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Mesmo uma leitura rápida desses números deixa claro: não é possível afirmar que homens e mulheres são iguais em direito e obrigações.

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Todas as mulheres têm direito a uma divisão justa de tarefas e encargos financeiros com os pais de seus filhos. Esse direito, porém, em grande medida não funciona na prática. As mulheres casadas ainda arcam com a maior parcela da responsabilidade pelos filhos, como se tivessem uma obrigação maior, naturalizada. Já as que se separaram, ou que jamais contaram com a presença paterna, muitas vezes têm de buscar em desgastantes processos na Justiça suas reivindicações.

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Não raro, as que tomam essa difícil decisão de seguir pela via judicial são pintadas como loucas, raivosas, injustas, aproveitadoras ou preguiçosas. A todo momento, sua índole e intenções são contestadas. Nos processos, muitas vezes ficam esquecidos os anos anteriores de dedicação ao casamento, as reais necessidades econômicas e o fato de que filhos, mesmo os não planejados, não se fazem sozinhos.

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Acima de tudo, o sistema social e o Judiciário demonstram pouco ou nenhum apreço pela saúde mental dessas mulheres, expostas a tantas demandas, a tantos julgamentos descabidos e violentos, atravessadas pelo machismo e muitas vezes tratadas como números sem sentimentos. Temos de ser completamente solidárias às mulheres que conseguem, com muita dificuldade, levar um processo adiante.

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Entre as mulheres negras, com o acréscimo pesadíssimo do racismo e suas consequências, ter uma rede de amigas feministas é ainda mais importante. Afetos, amor, close e drinques, seja como for, fazer valer a frase “ninguém solta a mão de ninguém”. A comunidade de apoio é o que leva uma mulher a não desistir.

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Termino essa coluna com um trecho que abre o livro O que É Empoderamento?, escrito pela querida amiga Joice Berth para a coleção Feminismos Plurais. “A revolução começa comigo, no interior. É melhor reservarmos tempo para tornar nossos interiores revolucionários, nossas vidas revolucionárias, nossos relacionamentos revolucionários. A boca não vende a guerra.” A frase é de Toni Cadê e está em Bambara – Seeds Of Revolution: A Collection of Axioma, Passages and Proverb.

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Dedicada a todas as mães e a Estela, minha filha amada e aquariana favorita.

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Onde buscar ajuda:
Rede Feminista de Juristas
https://www.facebook.com/deFEMde/

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Para pessoas que procuram auxílio jurídico
Instituto AMMA Psique e negritude
http://www.ammapsique.org.br/
Instituto que desde 1995 desenvolve um trabalho fantástico para pessoas, sobretudo para mulheres negras, que precisam de auxílio psicológico

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Isis Vergilio e sua filha, Estela (Foto: arquivo pessoal)
Isis Vergilio e sua filha, Estela (Foto: arquivo pessoal)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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