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Mães no home office: perrengues nas reuniões virtuais têm drama e comédia.

Saiu no site Universa

Veja publicação original: Mães no home office: perrengues nas reuniões virtuais têm drama e comédia.

Se tem uma situação que muitas mães sequer imaginavam quase cinco meses atrás era encarar reuniões virtuais sem saber quão arriscadas seriam. Por trás desse “risco” estão os filhos buscando atenção, desacostumados com a presença materna em tempo integral na casa, mas dedicando-se a funções diferentes. Isso, é claro, tem rendido alguns episódios engraçados, entre outros meio tensos.

Antes de mais nada, é preciso deixar claro que essa “confusão” entre os espaços familiares e profissionais não estava nos planos de ninguém e, justamente por isso, ninguém estava pronto para isso. É preciso adaptação constante e também compreensão de todos, já que sim, nesse contexto que estamos vivendo – crianças sem ir a escola e pais trabalhando em casa – interrupções vão acontecer e devem ser aceitas, sem culpar a mãe profissional por isso.

Rafinha, 1 ano e 9 meses, filha de Irina Catta Preta, diretora de RH de uma multinacional, já é conhecida nas inúmeras reuniões que a mãe participa, várias vezes ao dia. Irina já tem uma boa lista de episódios cômicos e nos mais variados ambientes. “Certa vez ela começou a chorar e a coloquei no meu colo. Estava com a câmera ligada e comecei a sentir a perna suja. Pensei: ‘meu Deus, está vazando algo. Fui levantar para para limpar e pisei no vômito de uma das três cachorras. Foi uma coisa desastrosa!”, relata.

Em outra ocasião virtual, com umas 30 pessoas conectadas, bastou Irina abrir o microfone para falar para Rafaela pegar uma flauta e começar a tocar. “Quando ela me vê falando no computador, também quer falar ou começa a gritar pedindo atenção. Já virou quase normal. Agora está com a mania de querer empurrar e fechar o computador para que eu fale com ela. Está sendo uma verdadeira aventura”, diz ela que, em quase 5 meses de home office, não teve ajuda nenhuma por 2 meses.

Como também responde à equipe da Holanda, com fuso horário diferente, já precisou fazer reunião às 6 da manhã, no maior silêncio possível para a filha não acordar. “Participar de reunião fazendo ou dando comida para ela também já virou normal, com a câmera do lado”, conta.

Pela idade da filha, não adianta Irina criar regras. O que faz, então, é tentar adaptar seu ritmo para não deixar a garotinha estressada. Durante a manhã, por exemplo, costuma fazer um intervalo para andarem um pouco pelo condomínio, o que se repete no fim do dia. “Mas já fiz várias reuniões caminhando com ela pelo condomínio, conectada no celular”, admite.

Depois de um pico de estresse, sobrecarregada, Irina viu que precisava de ajuda. Por ser separada do pai da filha, recorreu à mãe. Também optou por pagar transporte particular para que a ajudante da casa pudesse retornar ao trabalho. “Estavam caindo todos os pratos, não dava mais”, reconhece.

Como diretora de RH, ela sabe que não vive um problema isolado. A empresa, aliás, tem realizado trabalhos voltados para a saúde mental das mães, incluindo um evento com especialista, que conversou com as mulheres sobre como entreter os filhos e não se sentir culpada, além de oferecer acompanhamento psicológico.

Do cômico

ao susto A jornalista Daniella Marcos, mãe do Giovanni, 9 anos, e Mateus, 4, é outra que coleciona imprevistos e perrengues na quarentena. O menor já protagonizou algumas cenas memoráveis durante as reuniões virtuais dela. Bastava vê-la sentada e “conversando com o computador”, na sua visão infantil, para começar as estripulias.

“Já fez teatro de fantoches durante um call, passou atrás de mim com todos os bichos de pelúcia enquanto eu falava com a cliente. Teve girafa, cachorro e um Nemo gigante. Também foi ao banheiro, que é bem perto ao quarto em que eu estava, e gritou umas três vezes seguidas, quase sem respirar, o clássico: ‘Mãe, vem me limpar. Terminei o cocô'”, conta ela, que trabalha no home office há cerca de 5 anos. Mas durante os dias de pandemia tem sido mais complicado já que os filhos estão o tempo todo em casa e o marido, Marcelo, não consegue trabalhar de casa e ainda precisa sair todos os dias.

Daniella também já precisou desligar às pressas a câmera e o microfone e sair correndo para impedir que o filho se machucasse, ao vê-lo colocando o patinete sobre um skate, no lado de fora da casa. Por essas e outras, precisou conversar com os filhos e estipular regrinhas.

“Antes de iniciar alguma reunião, pergunto se precisam de algo. Deixo água e fruta fáceis, caso sintam um pouco de fome e sede. Além disso, temos combinado: quando me chamam, estou de fone e levanto a mão, não posso parar de falar. Agora, só quando é muito, muito necessário, eles podem interromper”, comenta.

“Mãe, por que você não responde?”

Home office também não é novidade para Flávia Ferrari, home expert e youtuber do A Dica do Dia, que trabalha a partir de casa há cerca de dez anos. Mas agora, com a companhia constante dos filhos Beatriz, 14 anos, e Fernando, 12, viu sua rotina reajustada com a presença deles em tempo integral.

“O que eu fazia foi impactado pela situação. Tinha meu escritório tranquilo e agora divido com meu filho, para ficar de olho nas aulas dele. Isso acontece quase todos os dias, às vezes de manhã e à tarde”, relata. Os perrengues acontecem, principalmente, durante as reuniões e lives diárias que a youtuber costuma fazer. “Ele fica gritando atrás, eu gesticulo para parar, mas ele quer conversar com as pessoas, aparecer. E também fica cobrando meus horários. Ele se mete de verdade no meu trabalho “, explica.

Quando a companhia não é presencial, as mensagens dos filhos no WhatsApp aumentam – e disparam se Flávia não as responde rapidamente. Afinal, a mãe está em casa, não é? “Precisei reforçar regras antigas: quando estou trabalhando, não dá para falar. E se eu não respondo na hora é porque estou ocupada e não adianta enviar 50 mensagens em cima”, cita.

Porta fechada significa reunião.

Fora um ou outro entrar correndo no local em que está trabalhando, a empresária Andrea Jacoto, mãe de 4 – Larissa, 8; e os trigêmeos Anna, Alexandre e Filipe, de 6 anos – não enfrentou nenhum grande constrangimento durante reunião virtual. Mas já teve de garantir para as pessoas no outro lado da tela que não precisava parar a reunião para acudir os filhos, pois estava tudo bem na casa. “As situações mais comuns são de gritaria, pois onde há crianças, há brigas e discussões por nada”, pontua.

“Home office é novidade total para mim. Ia para o escritório e eram raros os momentos em que trabalhava por aqui. Não foi difícil me adaptar, mas para eles, sim, pois me veem em casa sem ‘estar’ com eles. Isso foi e continua sendo complicado”, admite. Para que conseguisse dar conta das tarefas profissionais, Andrea adotou algumas regrinhas. A principal é: se a porta do quarto está fechada é porque a mãe está em reunião e eles não podem entrar.

A pandemia também trouxe concessões. Antes restrito a 2 horas, só nos finais de semana, o celular acabou liberado por algumas horas diariamente. Só assim os pais conseguem trabalhar ao mesmo tempo, com menos interrupção.

Tudo novo na pandemia

Quem nunca havia trabalhado no esquema de home office, obviamente, tem penado muito mais. É o que acontece com Mayara Barbosa, professora da rede pública municipal. Mãe de Pedro, um bebê de 8 meses, ela iria retornar da licença-maternidade em maio. Retornou já no trabalho remoto, por causa da pandemia.

“Nas duas primeiras reuniões, fiquei com a câmera ligada. Não conheço a equipe, achei que seria de bom tom, mas o bebê ficou a milhão nas duas vezes: pedia colo, gritava, arrancava meus cabelos, mexia no teclado – mas foi ótimo porque descontraiu um pouco as reuniões”, ri.

Do terceiro encontro virtual em diante, Mayara seguiu os outros professores e manteve a câmera fechada. “Há oito anos, trabalho, para mim, significa muito movimento, barulho das crianças, parquinho, sol, risadas. Home office está sendo uma experiência muito diferente”, reconhece ela, que está praticamente há 9 meses sem sair de casa, já que a licença de 6 meses também foi um período de reclusão.

Adaptação obrigatória

Conciliar casa, família e trabalho remoto é tarefa hercúlea para qualquer mãe. Não bastasse a necessidade de equilibrar pratos, fazendo tudo-ao-mesmo-tempo-agora, adaptar a rotina profissional ao ambiente pessoal é um exercício constante, já que o dia a dia precisa ser conduzido com qualidade similar ao que acontecia antes da pandemia. Jocely Burda, coordenadora do curso de psicologia da Estácio Curitiba, assume que é difícil eleger uma prioridade entre tudo o que acumula no colo das mães, já que tudo tem um peso grande. No quesito carreira, ela sugere algumas práticas para que o rendimento seja atingido:

– Definir um local e horário fixo para o trabalho. – Programar pequenos intervalos ao longo do dia para acompanhar o que as crianças e adolescentes estão fazendo. – Estabelecer algumas regras para os pequenos, como, por exemplo, quando e como podem interromper durante o home office. – Sempre que possível, envolver os filhos na atividade profissional. – Dividir a responsabilidade dos cuidados com o pai ou outros integrantes da família, o que faz diferença na entrega dos resultados do trabalho e, principalmente, durante as reuniões virtuais..

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