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Itali Pedroni: A economista que enaltece a diversidade no mundo corporativo

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Veja publicação original: Itali Pedroni: A economista que enaltece a diversidade no mundo corporativo

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Empreendedora social busca expor a situação de minorias no mercado de trabalho: “Só vamos conseguir mudar pilares com muito embasamento porque não dá para construir pontes se não tiver dados.”

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Foram seis anos para concluir o curso na faculdade. Ela conhece bem os corredores e os pátios de lá. Aponta onde é mais tranquilo, onde costuma estar mais cheio. Sabe que sua história tem tudo a ver com aquele lugar, embora tenha achado por muito tempo que não pertencia ao ambiente acadêmico. Seus pais, sem curso superior, não tinham nem dimensão do que era a USP (Universidade de São Paulo) – e das dificuldades em entrar e se formar ali. Ela conta que só após cinco anos de curso seu pai entendeu. “Me ligou e falou: nossa, Itali. Parece que essa USP é boa mesmo”. Estava impressionado com os médicos que atenderam um familiar, todos com diplomas pendurados na parede que indicavam a formação na USP. “Sim, pai. Estou aqui há cinco anos já”, ela respondeu. Itali Pedroni, de 28 anos, é economista formada pela FEA (Faculdade de Economia e Administração). Mas o caminho para conseguir esse título foi difícil e ela precisou enfrentar e quebrar diversos paradigmas – dos outros e dela mesma.

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Nascida no interior de São Paulo e acostumada a circular em ambientes dominados por homens – fez colegial técnico de eletroeletrônica onde havia 4 meninas e 36 meninos na sala – sempre teve curiosidade em entender o funcionamento da bolsa de valores. “Achei que parecia muito legal e eu queria saber o que era esse monte de número e como isso influenciava a vida das pessoas. Achei que economia ia me levar a isso”. Entrou na faculdade e logo foi atrás de um estágio na área que tanto queria conhecer e atuar. De cara aconteceu algo que ela já previa, mas ainda não tinha vivido.

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Perguntaram o que eu acharia de trabalhar em um lugar onde as pessoas podem me mandar ‘tomar no cu’ a qualquer momento. No final o cara falou ‘até que você foi bem para um mulher’.

CAROLINE LIMA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
“Não importa o quanto você tente, vão te lembrar que você é mulher.”

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“Aqui em São Paulo, principalmente no meio financeiro, é muito mais explícito essa diferenciação [de gênero]. Quando fui fazer uma entrevista para trabalhar em mesa de operações, perguntaram o que eu acharia de trabalhar em um lugar onde as pessoas podem me mandar ‘tomar no cu’ a qualquer momento. E eu respondi que se eu pudesse mandar também seria ok… e aí fizeram outras perguntas sobre questões econômicas, fui bem e o cara no final falou ‘até que você foi bem para um mulher’. Isso foi uma coisa que me marcou”. Ainda não sabia o que estava nascendo ali.

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Foi aprovada para o trabalho e logo no primeiro mês se deparou com mais um clichê, produto do machismo. “Tive que fazer uma grande operação e o cara virou para o gestor e falou que eu tinha conseguido, mas o que eu tinha feito com o corretor para conseguir ninguém sabia. Aquilo pegou fundo no meu ser. Foi um divisor… não importa o quanto você tente, vão te lembrar que você é mulher e não necessariamente de uma maneira positiva.”

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Não importa o quanto você tente, vão te lembrar que você é mulher e não necessariamente de uma maneira positiva.

CAROLINE LIMA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Itali entrou na faculdade e logo foi atrás de um estágio na área que tanto queria conhecer e atuar.

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Desde então, passou a adotar uma postura combativa e não deixava barato quando ouvia comentários preconceituosos – e não foram poucos. Depois de cerca de um ano, Itali passou por mais um episódio emblemático. Após ser elogiada pelo trabalho que fez nas férias do chefe, ela disse que poderia então ter mais mulheres na mesa. A resposta: “Para com isso, você é uma exceção”. “Eu levava para o coletivo porque pensava que se eu posso, qualquer mulher que quiser pode. Achei que estava construindo um caminho para mostrar que as mulheres conseguem e depois daquilo vi que não tinha conseguido provar isso e me desmotivei.”

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Ela deixou o mercado financeiro e começou a dar novo significado a tantos episódios duros como esse. Foi estudar teoria de gênero. Encontrou uma professora de contabilidade que estudava a presença das mulheres na academia e virou estagiária de pesquisa e foi convidada para fazer duas matérias na pós-graduação. Viu que podia se encaixar ali naquele ambiente e co-fundou o Genera (Grupo de Estudos de Gênero e Raça) da FEA. “Eu tinha baixa estima acadêmica, sentia que esse ambiente não me pertencia, parecia que eu era burra, porque a docência também é um espaço muito arrogante. Fazer essas matérias na pós e tirar boas notas em algo que eu estava interessada mudou muito o jeito como eu via a academia, vi um espaço, comecei a pesquisar as mulheres no mercado financeiro.”

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Eu tinha baixa estima acadêmica, sentia que esse ambiente não me pertencia, parecia que eu era burra, porque a docência também é um espaço muito arrogante.

CAROLINE LIMA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Ela deixou o mercado financeiro e começou a dar novo significado a tantos episódios duros como os que viveu.

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A pesquisa virou artigo e foi aceito em três congressos internacionais. “Esse processo de criação do Genera me renovou como pessoa e me deu propósito para continuar.” Atualmente o grupo de estudos tem 29 integrantes e realiza simpósios abertos para debater questões como mulheres e carreiranegros e negras no mercado de trabalho e LGBTs no mercado e na academia.

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Depois dessa experiência toda, atuar no mercado financeiro parecia pouco para ela. “Comecei a ver como poderia usar minha vivência de finanças para trabalhar com algo de propósito social. Aí descobri as finanças sociais e o investimento de impacto”. Focou nisso e trabalhou com empresas que nascem com o objetivo transformar a sociedade. Hoje, além de continuar no Genera está investindo em seu novo projeto, a Incluser.

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Ela e mais três amigos se juntaram com o objetivo de criar uma plataforma para que as pessoas avaliem as empresas em que trabalham a partir de marcadores sociais. “A ideia é conseguir montar uma base de avaliações e acompanhar as notas para saber se grupos minorizados, que nem sempre são minorias, enfrentam barreiras diferentes dos outros grupos dentro das empresas.” Com isso, será possível ter em forma de dados, por exemplo, as dificuldades que mulheres, negros, e LGBTs enfrentam no mundo corporativo.

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Comecei a ver como poderia usar minha vivência de finanças para trabalhar com algo de propósito social. Aí descobri as finanças sociais e o investimento de impacto.

CAROLINE LIMA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Itali e mais três amigos se juntaram para criar uma plataforma para que as pessoas avaliem as empresas em que trabalham.

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Ela espera que com essa plataforma seja possível dar voz a todas as pessoas no mercado de trabalho. Ela sabe, por experiência própria, que ser ouvido não é sempre fácil. E ser combativo não é sempre possível. “Nem sempre tem espaço para ser combativo, temos que pagar boletos. Então em qual espaço as pessoas vão ter voz? Queremos que seja na Incluser, de forma anônima e séria. Queremos gerar relatórios e conhecimento muito embasados. Não quero só olhar uma propagando com diversidade, só mudar a comunicação. E as pessoas que trabalham e produzem esses produtos? Como estão [representadas e tratadas nas empresas]? Só vamos conseguir mudar esses pilares com muito embasamento porque não dá para construir pontes se não tiver dados. Estamos trazendo mais uma variável [para a briga por igualdade].”

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Uma briga que ela comprou faz tempo. Com palavras – e também com dados. Porque ela nasceu com essa vontade de fazer um monte de números influenciarem a vida real das pessoas.

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É esse o cálculo que ela faz.

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Ficha Técnica #TodoDiaDelas

Texto: Ana Ignacio

Imagem: Caroline Lima

Edição: Andréa Martinelli

Figurino: C&A

Realização: RYOT Studio Brasil e CUBOCC

 

 

 

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