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Filmes brasileiros dirigidos por mulheres se destacam no início da temporada de festivais

Saiu no O GLOBO

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Foi a diretora Anita Rocha da Silveira quem primeiro deu o toque na produtora mineira Vânia Catani. Anos atrás, as duas trabalhavam juntas no thriller “Mate-me, por favor” (2015), estreia da jovem realizadora carioca no longa-metragem, quando a primeira chamou a atenção sobre a predominância de obras de diretores homens na filmografia da segunda, um nome por trás de títulos premiados, como “A festa da menina morta” (2008, de Matheus Nachtergaele), e “O palhaço” (2011, de Selton Mello).

— Anita dizia que eu deveria produzir mais projetos de mulheres. Alertava sobre essa disparidade entre homens e mulheres cineastas a partir de experiências próprias: quando seus curtas eram convidados para festivais, por exemplo, ela não dividia quarto com ninguém porque, geralmente, era a única mulher da seleção — lembra Vânia, criadora da Bananeira Filmes. — A partir de então, comecei a buscar mais projetos para minimizar esse desequilíbrio no meu currículo. Bem antes dos movimentos por equidade de gênero na indústria do cinema.

Corta para os dias de hoje: a produtora de “Zama” (2017, de Lucrécia Martel) está à frente de cinco projetos simultâneos, em diferentes fases de realização — quatro assinados por mulheres. Dois desses últimos, “Fogaréu”, de Flávia Neves, e “Réquiem para Clara”, de Mônica Demes, participaram da 12ª edição do Ventana Sur, em dezembro passado. Devido à pandemia, o maior evento do mercado audiovisual da América Latina, realizado em parceria com o mercado do Festival de Cannes, aconteceu em versão on-line, mas revelou-se como um cenário encorajador na luta das realizadoras brasileiras por espaço na área:

— Aproximadamente 70% das cerca de 160 obras inscritas no Ventana Sur de 2020 eram produções ou coproduções com o Brasil; e a grande maioria dirigida por mulheres — diz Maria Nunez, uma das curadoras das seções Primeiro Corte (filmes em pós-produção que buscam possibilidades de finalização) e Cópia Final (projetos que buscam distribuição ou agente comercial) do Ventana Sur. — Em um ano complicado para todo o mundo, nos chamou mais a atenção a participação brasileira, com destaque especial para o nível dos longas-metragens de mulheres, particularmente as jovens, estreantes.

Repercussão

O fenômeno foi captado pela “Variety”, a bíblia do mercado audiovisual americano, que o descreveu como uma espécie de “nova onda feminina brasileira”, com destaque para o apocalíptico “A nuvem rosa”, de Iuli Gerbase; o drama maternal “A felicidade das coisas”, de Thais Fujinaga; e o drama rural “Fogaréu”, de Flávia Neves — estes dois últimos premiados na seção Primeiro Corte. “Os três títulos carregam, implicitamente, uma agenda feminista. Frequentemente abraçam o cinema de gênero e podem ser estilisticamente ambiciosos”, descreveu John Hopewell, correspondente da “Variety” para a América Latina, concluindo que “todos são boas apostas para os maiores festivais de cinema de 2021”.

Ainda em dezembro, as projeções de Hopewell começaram a se confirmar: “A nuvem rosa” foi escolhido para competir na mostra World Cinema do Sundance (28 de janeiro a 3 de fevereiro). O filme de Iuli, sobre um casal obrigado a conviver confinado dentro de um apartamento por causa do surgimento repentino de uma nuvem rosa e mortal que ameaça a humanidade, é o único longa-metragem brasileiro selecionado pelo festival criado por Robert Redford, referência do cinema independente. Assim com o pai, o veterano Carlos Gerbase, a cineasta de 31 anos iniciou a carreira no curta-metragem, espelhada na experiência de outras criadoras.

— Venho acompanhando o trabalho de diretoras ótimas e jovens, como Juliana Rojas (“As boas maneiras”), Anita Rocha da Silveira e da atriz Fernanda Chicolet. É muito importante termos mulheres escrevendo roteiros e dirigindo, gerando uma variedade de pontos de vista — entende Iuli. — Anos atrás, uma amiga ouviu de um jurado que um protagonista masculino deixaria a trama de seu projeto mais universal. Felizmente, cada vez mais esse mito se desconstrói, com mais e mais autoras mostrando histórias emocionantes. Ainda não estamos lá, pois a maioria dos diretores ainda é masculina. Mas estamos melhorando muito.

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O último relatório da Ancine (Agência Nacional do Cinema) sobre a participação feminina na produção audiovisual brasileira, publicado em 2018, indicava que o percentual de mulheres na direção subiu de 18% em 2017, para 20% no ano seguinte. Os números consideravam apenas os lançamentos de obras de ficção. Na falta de números oficiais mais recentes da agência, métodos alternativos de leitura permitem avaliar a situação atual das mulheres no mercado. A 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes (22 a 30 de janeiro), por exemplo, recebeu 111 inscrições de longas-metragens, dos quais 44 dirigidos por mulheres cisgênero, duas não binárias e uma transgênero. Deste total, 27 filmes foram selecionados para as diferentes seções do festival, dos quais 11 são dirigidos por mulheres cis, e uma mulher trans.

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