HOME

Home

Executiva e mãe

Saiu no site STJ

 

Veja publicação original:  Executiva e mãe

.

Por Rejane Martins Pires

.

Nos eventos do Sicredi em Cascavel, Debora Cristina de Moura Amboni, 36 anos, se destaca em meio aos outros gerentes. Ela é a única mulher a ocupar um cargo de gerência na cidade. Atualmente está no comando da agência São Cristóvão, com 5 mil associados. Casada há 15 anos com o engenheiro agrônomo Fernando, é mãe da pequena Fernanda. Conciliar maternidade e carreira, para ela, é uma questão de foco, escolha e planejamento. Da mesma forma que sempre quis ser mãe e ter uma família, também almejava uma profissão. Inicialmente, o sonho era ser professora. Aos 14 anos, a tripla jornada já fazia parte de sua vida. De manhã cursava ensino médio, à tarde era bibliotecária e à noite cursava magistério.

.

Aos 19 anos, após o fechamento da empresa do pai, a família deixou São Miguel do Iguaçu e mudou-se para São José dos Pinhais. Lá, Debora fez o curso de Secretariado na UFPR e emendou faculdade de Administração de Empresas. Sem vagas em escolas para dar aulas, migrou para a área administrativa. Seu primeiro emprego com carteira assinada foi como responsável pelo financeiro de uma distribuidora de ervas medicinais em São José dos Pinhais, onde ficou por cinco anos. Depois, trabalhou mais cinco anos como numa transportadora de cargas, onde começou como auxiliar administrativo, mas logo foi promovida a supervisora financeira.

.

Veio aí a decisão mais difícil de sua vida. Pediu o desligamento da transportadora e voltou para São Miguel do Iguaçu, mais próxima da família. Abriu mão da carreira profissional e combinou com o marido de ficar em casa. Adivinha quanto tempo aguentou? Dois meses. “Voltei a trabalhar como responsável financeira de uma escola particular e à noite ministrava aula em uma escola indígena e para adultos”, conta. De repente, outra guinada. De olho em novas perspectivas, o casal veio para Cascavel.

.

Começa aqui a carreira de Debora no Sicredi e uma jornada de estudos que nunca parou. Com dois MBA, em Gestão Empresarial e Gestão Estratégica de Pessoas e, atualmente, cursando Gestão Comercial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), cresceu rápido dentro da cooperativa. Basta dizer que começou como auxiliar administrativa. Em dois anos já havia conquistado função de gerente administrativa financeira e com cinco anos de casa foi para a gerência. Tudo isso preservando o amor e a harmonia em casa, na família, seu bem maior. Nem precisa dizer quem foi seu grande espelho: sua mãe Neli, uma pessoa, segundo ela, batalhadora, gentil e humilde.

.

.

De que forma você traçou sua caminhada para não repetir a trajetória de muitas mulheres que renunciam à carreira profissional?  Sempre tive o sonho de casar, fazia até enxoval desde os meus 13 anos de idade. Porém, tinha pavor quando ouvia minhas amigas de escola dizer que gostariam de “casar bem” e não trabalhar. Comecei a namorar cedo, consequentemente casei cedo, aos 20 anos de idade. Mas tinha um combinado com meu coração e um propósito que não seria uma dona do lar, que eu tinha que conseguir ser tudo na vida: uma ótima profissional, uma boa mãe, esposa e amiga. Por isso, nunca deixei de estudar, realizei vários cursos, treinamentos e especializações. Ingressei no curso técnico em Secretariado pela UFPR, depois conquistei bolsa de estudos pelo programa Prouni e cursei Administração, sempre conciliando o trabalho de dia e estudos à noite, com apoio da minha família. Estou cursando meu terceiro MBA. Nunca vou querer parar de estudar.

.

.

Qual foi o peso desta escolha? Não foi fácil. Tripla jornada. Críticas por ter casado cedo. Apoiei meu marido para realizar seu sonho de cursar Agronomia em período integral. Trabalhava de dia e estudava à noite. Ganhava força a cada dia que alguém me dizia: “como que você dá conta de tudo isso menina?” Em vez de desistir, ir para o lado mais fácil, abaixar a cabeça, eu me fortalecia respondendo que sabia que iria colher bons frutos pelas minhas escolhas, que preferiria se arrepender do que fiz, do que não fiz. Amadureci rápido. Sorri e chorei bastante. Desde de nova quis demostrar para todos que eu era capaz, responsável e que no final iria dar tudo certo.

.

.

Ao longo de sua trajetória profissional teve sua capacidade questionada por ser mulher? Infelizmente isso acontece, mas sempre tive a maturidade de nunca me abalar por isso. Quando foi necessário mantive firmeza e fui ouvida. Recentemente, em sala de aula, falando sobre ética, conversamos sobre esta questão e pude refletir que talvez eu não tenha este sentimento tão forte dentro de mim, mas realmente existe muita desigualdade entre homens e mulheres. Até fui ler e pesquisar mais sobre o assunto.

.

.

Qual é o maior desafio de ser gerente de uma cooperativa de crédito? Os desafios são diários, ter amplo conhecimento dos produtos e serviços, fazer gestão de equipe de 31 colaboradores, atender com excelência uma carteira de mais de 5.000 associados, participar da comunidade, mas acima de tudo, expandir o propósito da nossa cooperativa que é compartilhar conquistas e resultados com bom atendimento.

.

.

Alcançar o topo não é fácil, certo? Além de disciplina, convicção e perseverança, o que mais é preciso? Com certeza não é fácil. Alguns sacrifícios, muita dedicação e sabedoria. Uma palavra que amo muito e que sei que sendo assim me ajudou muito a chegar onde cheguei é a “empatia”, ter “empatia”. Sempre busco me colocar no lugar do outro, gosto muito de PNL e coaching, entender o perfil e o comportamento das pessoas, que tudo tem um “porquê” nesta vida e que com muita comunicação todos conseguem se respeitar, se entender e solucionar o que for preciso. Eu acredito que o sucesso profissional e pessoal é fruto do aprimoramento de autocontrole, autoconhecimento e automotivação. Sinto que ter desenvolvido a inteligência emocional e espiritual me ajudou a chegar onde cheguei e vai continuar me ajudando a sempre seguir em frente. Conciliar a vida do trabalho com a vida pessoal, com nossa família não é fácil, mas como bastante planejamento, apoio e amor, tudo dá certo.

.

.

O mundo das finanças é rígido, competitivo, focado em resultados, e, muitas vezes, até brutal. Isso é uma realidade dentro do cooperativismo de crédito também? Não. Brutal é uma palavra forte e não está no nosso dia a dia. O cooperativismo é diferente, não somos banco, prezamos pelo relacionamento, em atender com excelência, esse é o nosso modelo de negócio. Conseguimos transmitir para nossos associados e colaboradores no dia a dia que precisamos de excelentes resultados para distribuir entre eles e que tudo aqui é saudável e participativo, quanto mais negócios o associado faz com a cooperativa, maior será o resultado e a participação a receber. Que juntos temos força e ajudamos nossa comunidade.

.

.

Qual a maior lição que você aprendeu dentro do Sicredi? Como colaboradora e associada, o valor e o diferencial de fazer parte de uma instituição financeira cooperativa. Aprendi que realmente somos uma família.

.

.

Como o Sicredi trabalha a questão da participação feminina? Na Sicredi Vanguarda, a maioria do quadro de colaboradores das agências é feminino, de aproximadamente 1.007 colaboradores, 639 são mulheres, ou seja, 63%. Do quadro de associados da Sicredi Vanguarda, de aproximadamente 121 mil associados, pouco mais de 37 mil são mulheres, ou seja, 31%. Neste contexto, a cooperativa criou um programa de formação entre as associadas que se chama “Comitê Mulher”.

.

.

E qual é o objetivo deste comitê? A capacitação por meio de formação e educação, oportunizando o desenvolvimento pessoal e profissional, assim como o crescimento e fortalecimento das mulheres associadas dentro da cooperativa e fora dela, busca a formação de novas lideranças femininas para a Sicredi Vanguarda. Hoje, do Conselho, dos 18 membros apenas três são mulheres. Gerentes de agência, de 57 na função apenas 10 são mulheres, ou seja, 18%. Já gerentes administrativo financeiro, de 55 na função, 42 são mulheres, ou seja, 76%. Entendo que cooperativa já despertou alçar novas expectativas de crescimento da participação feminina em cargos de alta liderança.

.

.

Como concilia os papéis de executiva e mãe? Com total apoio da minha família, principalmente do meu marido Fernando. Dividimos a responsabilidade de ser pais da Fernanda, hoje com 4 anos. Sempre fui muito independente, saí de casa cedo para casar e moro há muitos anos longe dos meus pais e sogros. Demorei para ser mãe. Quando conseguimos foi uma das maiores alegrias da minha vida. Confesso que sofro um pouco, pois falo de coração que muitas vezes coloco meu trabalho à frente de tudo e bate aquela dor na consciência, mas que logo passa (risos).

.

.

O apoio familiar é fundamental? Com certeza. Só posso ser assim porque tenho uma família maravilhosa, com alicerces, e que confio muito. Eles me conhecem e me admiram pela profissional que me tornei e, dividindo as responsabilidades, todos ganham: papai interage mais com a filha, ajuda levar na escola, no balé, na natação, no inglês; avós adoram ficar com a neta enquanto mamãe tem que viajar a trabalho; dindos ajudam levar no médico; vovó vem passar férias pra cuidar com alegria da neta que não tem aula, etc. Assim, a nossa pequena se torna cada dia mais sociável, sabe negociar, pedir o que precisa pra todos, não estranha casa das pessoas, ama ir no sítio dos avós, sabe o que é saudade, é carinhosa.

.

.

Algo dói mais? Doeu ter que levar minha filha aos quatro meses e meio para a escolinha para que eu pudesse voltar a trabalhar após licença maternidade, mas desde pequena ela escuta da mamãe que eu trabalho no Sicredi porque eu amo o que faço, que não é só pra ganhar dinheiro e sim ser feliz, que a mamãe ajuda as pessoas. Ela sabe que à noite o tempo será só nosso e que o final de semana é da família, que passeamos e curtimos bastante. Toda vez que preciso me ausentar para uma reunião, um treinamento, uma viagem, um evento, minha filha saberá o motivo. Ela mesmo fala: “a mamãe gosta do Sicredi e ela sempre volta”. Eu creio que falando a verdade, ela sempre entenderá. Nunca saí de casa sem me despedir dela e dizer onde estou indo e quando volto.

.

.

Você se considera uma boa mãe? Sim. Mas eu não sou perfeita, tem dias que estou tão cansada que dormimos abraçadas no sofá sem escovar os dentes, então isso será prioridade no dia seguinte. O dia que não consigo fazer comida, no outro com certeza vou preparar um jantar com carinho. Já perdi as contas de quantas vezes esqueci de enviar a fruta na escola ou a roupa de balé nas aulas de quarta, mas tem momentos que não abro mão e concilio com minha agenda do trabalho, como primeiro dia de aula, as reuniões na escola, apresentação dia das mães.

.

.

E o tempo como administra? O tempo na nossa casa não é medido por quantidade e sim por qualidade. Para tanto, me dou ao luxo de fazer uma escolha: sempre tenho uma “tata” pra me ajudar nas tarefas de casa para que eu possa dedicar meu tempo fora do horário de trabalho inteiramente pra minha família. Já ouvi de conhecidos que esta despesa mensal daria para comprar um carro parcelado, mas não tenho nenhum receio por isso. Assumo esta parcela mensal com gosto e gratidão que posso fazer desta forma, é uma escolha que me faz bem. Para dar conta de tudo, tenho planejamento de tudo.

.

.

Que legado quer deixar para sua filha? Que nunca se deixe vitimizar por ser mulher, pelo contrário, que deve subir no salto alto e conquistar tudo que queira na vida. Que valorize a família e tenha um propósito, um sonho, que este será o norte para todas as suas escolhas no decorrer da vida. Que espalhe o bem e nunca se acomode. O segredo da vida é sempre estar em busca da felicidade. Que sempre tenha Deus no coração, que acredite no ser humano, que a fé cura e nunca perca a humildade que no final tudo dará certo.

.

.

É consenso entre as executivas de que é preciso alçar mais mulheres aos cargos de comando. Como analisa isso?  Com certeza. Esses dias li que a fatia de mulheres em cargos de liderança nas 150 melhores empresas para se trabalhar no Brasil, cresceu de 11% para 42% entre 1997 e 2018. Ou seja, as mulheres no poder ganham força a cada dia e demonstram que as empresas podem alçar voos mais altos com a diversidade e a presença feminina. Mulheres tem espírito empreendedor e inovador. Sabemos que a igualdade e equilíbrio entre homens e mulheres caminham a passos lentos, mas já está claro que a presença de mulheres nos cargos de liderança não apenas melhora o clima na organização, como eleva a rentabilidade, como isso acontece? Te indico a ter experiência de trabalhar com uma mulher no comando e você saberá (risos), somos multitarefas e isso reflete totalmente na nossa vida profissional.

.

.

De que forma podemos ampliar a participação feminina? Creio que tem bastante coisa pra fazer nas organizações, como adotar medidas assertivas para igualdade desde a atração, recrutamento, promoção das mulheres bem como equiparação salarial. Por exemplo, numa entrevista de emprego, dar a mesma importância para o assunto “filhos” tanto para o candidato homem como para a mulher, pois nos dias de hoje a responsabilidade é dos dois. Promover a decisão de inclusão de mulheres no cenário corporativo, por exemplo, quebrar este paradigma que como os altos cargos das empresas são ocupados por homens, eles tendem a buscar perfis de liderança parecidos com o seu e que muitas vezes não são o perfil de liderança feminino. Apostar na ascensão feminina dentro das organizações, demonstrar para sociedade que não podemos mais associar só aos homens características de comando, controle e assertividade, e às mulheres apenas traços como sensibilidade, atenção e empatia, que o verdadeiro líder precisa de todas estas características, ou seja, oportunidades iguais para homens e mulheres.

.

.

Mais alguma consideração…

.

Ainda sobre a participação feminina, é necessário defender a implementação de números de vagas ocupadas por mulheres em cargos de liderança das organizações, pois a diversidade faz bem para os negócios. Que as empresas invistam na capacitação e estímulo a liderança feminina, empoderamento das mulheres, por exemplo, criação de programas para incentivo das mulheres se colocarem a disposição de altos cargos. Promover equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho das mulheres e homens, igualdade, como por exemplo jornadas flexíveis. Conquistar ainda mais a ampliação da licença paternidade. Não julgar, não ver a maternidade como um problema, dissolver que na verdade não é uma questão só das mulheres e, sim, de toda a sociedade.

.

LEGENDA

Debora e a filha Fernanda: “Nunca se deixe vitimizar por ser mulher, pelo contrário, conquiste tudo que queira na vida”

.

.

FRASES

“Não podemos mais associar só aos homens características de comando, controle e assertividade, e às mulheres apenas traços como sensibilidade”
“Conciliar a vida do trabalho com a vida pessoal, com nossa família não é fácil, mas como bastante planejamento, apoio e amor, tudo dá certo”
“É necessário defender a implementação de números de vagas ocupadas por mulheres em cargos de liderança das organizações”

.

.

Quem é ela? 

Debora Cristina de Moura Amboni, 36 anos, é gerente da agência Sicredi/São Cristóvão, em Cascavel. Nascida em Medianeira, é casada com o engenheiro agrônomo Fernando e mãe de Fernanda, de quatro anos.

.

.

Número de mulheres na Sicredi Vanguarda

Total de colaboradores 1052
Total de mulheres 682

• Destas, 09 gerentes de agência, 43 gerentes administrativo-financeiro de agência, 12 assessoras, 02 gerentes de área e 03 conselheiras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no linkedin
LinkedIn

HOME