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Eu, Leitora: “Meu filho foi passar férias com o pai em outro estado e não voltou para casa”

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:   Eu, Leitora: “Meu filho foi passar férias com o pai em outro estado e não voltou para casa”

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Desde que se separou, em 2013, a jornalista Renata Rodrigues, 42 anos, criadora do bloco de carnaval feminista Mulheres Rodadas, vive uma batalha nos tribunais contra o ex-marido, que vive em outro estado, sobre a guarda dos dois filhos deles, uma garota de 17 anos e um menino de 12. Em 2016, quando saiu uma decisão na justiça, ela acreditou que estivesse protegida pela lei. Porém, quando seu filho foi passar o fim de ano com o pai, não voltou para casa na data combinada. Ligando para escolas da cidade, ela descobriu que o garoto estava matriculado em uma. Agora, luta para que se cumpra a guarda compartilhada

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“Sou a filha mais velha de três irmãos numa família de classe média. A família do meu pai é de origem portuguesa, sempre foram muito católicos. Minha infância foi marcada por uma criação dentro de um ambiente conservador. Lembro de, na adolescência, me sentir um peixe fora d’água na estrutura daquela família. Tenho uma história marcada por deslocamento e despertencimento.

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Quando eu era adolescente e comecei a mostrar um desejo de rompimento com aquilo, de querer sair de Teresópolis, de querer estudar, tudo era muito difícil. A carreira que eu escolhi, o jornalismo, já era um pouco desqualificada pela minha família. E eles não achavam que a prioridade da minha vida deveria ser estudar. Tinham muito receio de eu vir morar no Rio sozinha. E, nesse contexto, de um certo desamparo, conheci o meu ex-marido, em Teresópolis, com quem comecei a namorar. Eu tinha 15 anos. Era uma criança ainda, hoje consigo ver. Ele era um ano e meio mais velho.

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Tínhamos histórias parecidas: os dois estudantes de classe média, queríamos vir para o Rio para estudar, conseguimos passar numa universidade pública. Ele foi fazer medicina, uma carreira mais tradicional, e eu, jornalismo. Fui morar em um pensionato de freiras, porque meus pais achavam que ali a minha ‘pureza’ estaria conservada. Ele sempre teve uma família muito mais presente e disponível para apoiá-lo do que eu. Isso fazia tanta diferença para mim que eu acho que explica um pouco por que me uni a esse homem de uma maneira tão forte, e por que isso criou uma relação, desde muito cedo, de uma dependência afetiva enorme.

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Em 1997, fui para o Rio. Namoramos e ficamos juntos durante toda a faculdade. Aos 23, engravidei. Ainda não estava casada. Ele quis se separar. Ficamos seis meses afastados durante a gestação. Dei a notícia sozinha para a minha família. Todo mundo me acolheu. Os meus pais e a minha avó, que ainda era viva na época, ficaram meio bravos, porque ele tinha me deixado sozinha. Mas havia uma falta de informação e também o fato de eu ser meio nova: eu achava que tinha que pegar as minhas malas e voltar para Teresópolis. Todas as pessoas, inclusive ele e a família dele, acreditavam que a solução deveria ser essa: ‘Bem, agora a sua vida mudou, a sua vida acabou, você vai assumir uma filha e ele vai continuar estudando’.

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No fim das contas, a gente resolveu voltar. E eu fiz um esforço de passar por cima de todas essas coisas, porque eu estava escolhendo estar casada com aquele cara. No fim da gravidez, então, fui morar com ele. Minha filha nasceu em 2001. Mas sempre foi uma relação tumultuada. Várias vezes, durante o período em que estávamos casados, ele quis se separar.

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Fiquei um ano e meio fora da faculdade. Hoje parece muito bizarro falar isso. Mas na época eu achava muito natural parar a faculdade. Pensava: ‘Eu que vou amamentar, eu que tive um bebê’. A gente foi morar num apartamento que era na rua da faculdade onde ele estudava, enquanto, na verdade, quem precisaria estar perto da universidade para se locomover com um bebê era eu. Mas eu também não questionava isso. E isso também era uma coisa complicada, porque a estrutura econômica que estava por trás daquela situação era muito mais da família dele. Então eu também não tinha muita margem de exigir coisas.

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Para a minha geração, ser mãe aos 23 anos é muito solitário. Hoje eu tenho milhares de amigas que têm filhos, que enfrentam os dilemas da maternidade. Quando tive a minha filha, não tinha amigas que tinham bebês. A minha mãe estava morando em Teresópolis, a minha ex-sogra também. Eu estava muito angustiada, há um tempo em casa, me sentindo sozinha, isolada, como de fato eu estava. As pessoas até faziam o que podiam — eu tinha algum apoio da minha mãe e da minha ex-sogra —, mas isso não era o suficiente para retomar a minha vida da forma que era necessário. Um dia, minha então sogra me disse: ‘Você não precisa se preocupar com nada, seu marido tem um futuro brilhante pela frente’. E eu me perguntei: ‘Mas e eu? E o meu futuro?’.

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Demorei, mas em 2003 consegui me formar. Embora a vida fosse difícil, logo consegui um emprego maneiro. Trabalhava para caramba, ele também. Nessa época, existia uma divisão mais igual entre a gente: os dois assumiam as coisas da escola, a M. era pequena, ficava o dia inteiro no colégio. Durante seis anos nós moramos aqui no Rio. Até que ele terminou a residência em psiquiatria e apareceu uma oportunidade em Chapecó, em Santa Catarina.

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Cidades pequenas têm dificuldade em atrair médicos especialistas. Então eles colocam o salário muito alto, para atrair alguém. A gente achou que era uma boa encarar essa. Foi um processo conturbado, porque eu trabalhava num lugar onde ganhava bem, embora não estivesse tão feliz. Fiquei alguns meses sozinha aqui no Rio. Nesse período, uma vez em que ele veio para cá, engravidei do J.. E decidi passar minha gravidez toda aqui: só fui para Chapecó depois que meu filho nasceu, em 2007. Ele tinha 15 dias.

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Imagina uma mulher urbana ir morar numa cidade pequena com um bebê? Novamente, eu estava longe de qualquer rede. Quase pirei quando cheguei lá. O comércio fechava sábado à tarde e, se você quisesse se matar deitando na avenida principal, talvez tivesse dificuldade. Era inverno, fazia frio para caramba, a cidade ficava vazia. Para mim, viver lá era como se eu tivesse feito uma viagem no espaço-tempo. É outra mentalidade, outra cultura. Coisas que são questões para mim as pessoas de lá muitas vezes nem entendiam. E eu estava num estado de ansiedade muito grande de não ter trabalho.

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Fomos para lá com a ideia de que fosse um projeto temporário: a gente ia juntar uma grana, talvez comprar um apartamento no Rio, ir para fora, estudar. Esses eram os planos quando nós fomos. Eu quis tanto que as coisas dessem certo que até criei um blog de moda lá. Vesti a camisa da mulher do médico. Virei uma dondoca que ia nas lojinhas, no salão de beleza. Mas, a despeito dessa aura toda de classe média feliz, um dia eu estava dentro do apartamento, na cozinha, com uma moça humilde lá da região que trabalhava lá em casa. Ela me ouviu cantando e falou: ‘Nossa, como a senhora tem andado triste!’. Aquilo foi como uma estocada no meu peito. Era uma mistura de vazio existencial e o fato de que, se por um lado eu fui talhada para casar e ter filhos, para satisfazer um certo padrão de classe média, por outro não, porque eu já tinha passado dez anos no Rio, tinha ido à universidade, tinha trabalhado cinco anos numa empresa grande. Por mais força que eu fizesse, aquilo não bastava para mim.

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Renata (Foto: Acervo pessoal)

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Um dia, numa discussão, ele virou para mim e disse que a diferença entre nós dois era que ele trabalhava e ganhava o próprio dinheiro. Todo aquele discurso de ‘vamos fazer uma mudança, vamos para o interior, vamos cuidar da família, eu vou trabalhar, você vai ter uma vida confortável, vai poder estudar, vai poder fazer o que você quiser’ no fim virou ‘quem manda nisso aqui sou eu porque quem trabalha sou eu e quem bota o dinheiro aqui sou eu’. O que é um clássico. Meu casamento era para ter acabado esse dia. E na verdade ele acabou: foi acabando em vários momentos, como é com as relações amorosas longas.

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Era para eu ter ido embora. Mas eu tinha muito medo. Porque, de fato, estava há seis anos sem trabalhar, não sabia se ia conseguir retomar a minha carreira como jornalista, como ia fazer com dois filhos pequenos. Você chega num ponto de vulnerabilidade tão grande que não acredita mais na sua capacidade. Já ouviu tanto isso, passou por tantas situações ruins, escutou que o outro merecia ter um futuro brilhante e você só precisava se preocupar com isso, que passou acreditar nisso, que você não vai conseguir, não vai ser capaz.

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No fim das contas, quem tomou a decisão de se separar foi ele. Eu disse a ele que, então, se a gente ia se separar, que eu não tinha como sobreviver, estando em Chapecó eu dependia do dinheiro dele, portanto eu optava por permanecer na casa dos meus pais e ficar com as crianças aqui no estado do Rio. Ele não aceitava isso de forma alguma, e a gente ficou nessa discussão, esse ‘vai,‘não vai’, até que eu bati o pé e falei que realmente eu não iria voltar para a cidade.

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Num sábado à tarde, em janeiro, ele veio a Teresópolis sem me avisar. Apareceu de repente, o que eu já achei muito estranho. E me pediu para ver as crianças. Falei: ‘Vamos lá na casa da minha mãe, então’. E ele: ‘quero ver meus filhos, vocês está me impedindo…’. E eu: ‘Não, mas a gente está numa situação em que não está concordando muito sobre as coisas’. Então ele me pegou, me sacudiu e falou que queria ver as crianças. Nós estávamos numa praça, no centro da cidade. Eu disse a ele: ‘Se você veio aqui para me agredir, vou chamar a polícia’. Acho que ali ele viu que, se partisse para a violência, não iria conseguir o que queria. Então começou a se fazer de coitadinho: ‘Por que você está fazendo isso comigo? Eu preciso ver meus filhos’.

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Eles estavam na casa da minha mãe. Liguei para lá, ela arrumou as crianças e nós entramos no carro, com o irmão dele sentado na frente, a mulher sentada no carona e ele comigo atrás. Nós pegamos os meninos e fomos para o shopping, para fazer um lanche na minha presença. Em um momento, sentamos numa mesa e ele falou para o irmão: ‘Vai lá em cima com as crianças e vê se tem algum filme em cartaz, porque eu vou ficar conversando com ela e é melhor vocês não estarem aqui’. O irmão dele, com a mulher, subiu a escada rolante com os meninos. Ele começou a falar qualquer coisa comigo e levantou de repente, dizendo que ia ao balcão pagar a conta.

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Vi que a comanda estava na mesa. No segundo em que notei aquilo, entendi o que estava acontecendo. Virei de costas, na direção onde ele tinha ido e já não havia mais ninguém lá. Fui correndo até a rua e nada. Não tenho nem como descrever como me senti quando cheguei e o carro não estava mais estacionado onde era para estar. Eu berrava. Acho que nunca senti tanto desespero na minha vida. Não desejo isso para mãe nenhuma. Não morri nesse dia não sei dizer como.

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Comecei a ligar para ele, desesperada, e nada. Liguei para os meus pais e fomos até a delegacia, onde fui informada pelo delegado que, porque ele era pai e nós ainda sequer estávamos oficialmente separados, ele não podia fazer nada. Porém, como aquilo provavelmente iria resultar numa ação de guarda (como de fato resultou), ele acabou fazendo um registro de ocorrência. E eu tive como usar depois para demonstrar que ele tinha agido de má-fé, tinha me enganado. De lá mesmo, liguei para o pai dele, e implorei, pedi pelo amor de Deus para ele me dizer o que estava o acontecendo. Ele disse que não podia me dizer nada, que não iria se envolver naquilo.

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Durante todo esse tempo, mais ou menos um dia, eu não consegui ter notícia dos meus filhos. Não sabia o que estava acontecendo, onde eles estavam, o que ele pretendia. E eu nunca vou me esquecer de duas coisas: esses momentos que eu vivi dentro dessa delegacia e depois um dia inteiro sem ter notícia dos meus filhos. Foram os piores segundos, minutos e horas da minha vida, que duraram anos. A M. tinha 12 anos e o J. só cinco. Minha sensação era de que eu não ia aguentar. Eu me agarrava na minha mãe e repetia: ‘Preciso saber onde os meus filhos estão!’. Era tanta angústia, tanto desespero!

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Ele só atendeu o telefone quando já estava em Chapecó, que era o território seguro dele, com as crianças. Mas na minha cabeça passou tudo o que você puder imaginar. Sabe lá o que ele pretendia, o que ia fazer? Eu achava improvável haver um sumiço completo, porque ele era um médico estabelecido, não era alguém sem trabalho, sem vínculo nenhum. Mas tinha medo dele se acidentar, fazer alguma bobagem, demorar para aparecer de volta e eu ficar muito tempo sem ter notícia dos meus filhos — e isso ele até poderia fazer.

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Depois, o meu pai e a minha irmã tiveram acesso às imagens das câmeras de segurança do shopping, e viram o irmão mais novo dele e a mulher correndo com meus filhos. Correndo de mim, a mãe das crianças. Descobri que, enquanto fui para a delegacia, ele tinha alugado um carro, parou na avenida principal de Teresópolis, dirigiu até São Paulo, para não correr o risco de eu alcançá-lo em algum aeroporto do Rio, pararam quatro e pouco da manhã num hotel, seis e pouco eles entraram num avião e voltaram para Chapecó. Quando eu soube que J. e M. estavam lá, peguei o primeiro voo para lá com a minha mãe. Demorou meses e meses para a justiça dar uma decisão. Tive que ficar esperando durante boa parte desse tempo, debaixo do teto desse mesmo cara. Sim, até sair a guarda provisória e eu poder voltar aqui para o Rio, fiquei morando com ele.

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Desde que me separei, estou respondendo a processos judiciais. Antes de sair de casa já tinha ação sobre a guarda dos meus filhos. Logo depois foi extinta, porque nem cabia ainda discutir isso, porque nós dois estávamos morando sob o mesmo teto. No instante zero em que me separei, subitamente meu ex passou a ‘acreditar’ que sou incapaz de cuidar dos nossos filhos. Justamente no momento em que a justiça o acionou para pagar pensão alimentícia e também quando afetivamente eu declarava o final daquela relação e manifestei abertamente minha vontade de retomar minha vida, minha carreira, longe dele e de qualquer dependência.

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Em 2015, criei o primeiro bloco de carnaval feminista do Rio, o Mulheres Rodadas. Foi o jeito que eu encontrei de não enlouquecer. É como se eu tivesse virado, nesses últimos anos, a antítese daquela mulher que estava lá em Chapecó. Antes eu estava cantando na cozinha e uma mulher que me enxergou. Eu decidi pegar isso e levar para o meio da rua, e hoje existem 200 mulheres à minha volta. Hoje eu tenho uma rede enorme de mulheres, e recomendo fortemente que todas tenham a sua.

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Em agosto de 2016, depois de várias idas e vindas, foi homologado o acordo em que se decidiu que a guarda seria compartilhada e as crianças morariam no Rio. E aquilo tudo tinha sido tão desgastante, tão dolorido, que acreditei: agora tenho um acordo, estou protegida, vou levar minha vida e cuidar das coisas. O que já é bastante, porque trabalhar e cuidar de dois filhos sozinha. Educar um filho já é muito difícil. Fazer isso numa situação de conflito declarada é cinco vezes pior. Porém, outro dia eu ouvi uma coisa de um juiz que achei muito sábia: o litígio não cessa porque a justiça deu uma sentença.

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A guarda era compartilhada e eles iam para lá com frequência, sempre viram o pai com regularidade. Nunca desrespeitei esse acordo, pelo contrário: meu ex sempre teve mais tempo com os filhos do que estava no papel. Se ele não participou mais da vida deles, foi porque ele decidiu ficar morando lá.

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Estive em Chapecó em novembro do ano passado para a gente discutir a situação do meu filho. Porque em momento nenhum me coloquei nessa história como uma mãe que não está disposta a avaliar a situação ou que não está disposta a avaliar se o filho quiser ir morar longe. Só que, quando eu cheguei lá, ele já queria que eu assinasse um acordo extrajudicial. Eu falei: ‘Calma, que eu preciso de mais tempo para pensar sobre isso aqui’. Só que ele muito provavelmente já tinha toda uma situação armada. E, uma vez que eu não assinei o papel, fez o que alguns homens infelizmente fazem: eles se aproveitam essas brechas que existem na lei. Eles sabem que estão, sim, violando direitos das mães; estão, sim, cometendo violência psicológica; estão, sim, de uma certa perspectiva, cometendo violência de gênero, só que eles sabem que legalmente aquilo não vai ter impacto, ou que ele vai ser baixo.

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Dia 20 de dezembro do ano passado, meu filho foi para Chapecó passar o fim de ano com o pai. Ele tinha uma autorização da justiça para viajar sozinho, e muitas vezes fez isso, em aniversários e feriados. A irmã foi depois. No dia em que eu estava lá esperando meu filho voltar para casa e ele não apareceu. Em 30 de janeiro deste ano, me ligaram da escola onde ele estuda aqui no Rio e me disseram que ele tinha pedido a emissão de um histórico escolar. Fiquei desconfiada de que o pai tinha matriculado ele num colégio em Chapecó, comecei a ligar para vários e, no terceiro, descobri que ele estava matriculado lá.

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Fiquei muito abalada. Foi a confirmação de que meu filho não voltaria. Tentei conversar com o meu filho, perguntar por que ele tinha feito isso, dizer que a vaga dele na escola, tudo estava aqui. Só que já estava feito. E, quanto mais eu questionava o meu filho, mas ele me rechaçava.

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Depois disso, fiquei quase um mês sem conseguir falar com ele. Eu ligava para a casa, ninguém atendia o telefone. Ligava para o celular dele, ele não atendia. Mandava mensagem de WhatsApp e ele também não respondia. Depois de três semanas, uma amiga me deu a ideia de ligar para a escola. Fiz isso duas semanas seguidas. Porque, mesmo depois de falar com ele numa semana, demorei outra para conseguir de novo. Aí ele começou a me responder.

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Estou conseguindo falar com ele por telefone, WhatsApp. Só que ele está reativo comigo, ele está num grau de agressividade… Todo mundo que conheceu meu filho via uma criança doce, afetuosa, educava, inteligente, perspicaz. Agora, eu estou na seguinte situação. Meu ex fala: ‘Você pode ver o seu filho, fala com ele.’ Aí meu filho diz: ‘Eu não quero ver você, não’.

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Há algumas semanas, a justiça me concedeu uma liminar de busca e apreensão. Fui até Chapecó tentar cumprir. Tinha uma comitiva me esperando, pessoas que não são nem parte nessa história. Encontrei um circo onde o papel que cabia a mim era um pouco de louca, perigosa, como se eu fosse o algoz dessa situação. Pessoas levaram celular para gravar a mim e ao meu filho, dentro do Fórum de Chapecó, com um oficial de justiça presente. Eu não sei que milagre essas pessoas acham que aconteceu. Meu filho tem 12 anos e é um garoto bem cuidado. Isso dá muito trabalho. E fui eu que fiz, mais do que qualquer pessoa. E isso mostra como esse trabalho pode ser desvalorizado, desprezado, descartado. Como é fácil, socialmente falando. E ver seus filhos aprenderem isso é uma dor diferente de todo o resto.

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Tem três meses que eu não vejo meu filho. Estive em Chapecó e só consegui ir dar um abraço nele na porta da casa do pai, na calçada, sendo vigiada pelo pai e pela madrasta. O menino está superagressivo. Pelo fato de eu discordar da maneira como as coisas estão sendo feitas, ele hoje acredita que eu sou inimiga dele.

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A justiça tem que analisar o que aconteceu. Desde que me separei, escutei que eu não era capaz de ser mãe dessas crianças. Estou o tempo todo tendo que me defender disso. Acho que essa atmosfera, muito provavelmente, circundou meus filhos. E eu observei que várias vezes eles iam passar férias e pegavam o telefone para dizer que não iam voltar para casa, de ele voltar agressivo, arredio, resistente. Ele é um menino, pode ter, sim, uma necessidade real de estar perto do pai. Mas a maneira como tudo foi conduzido foi uma escolha do pai dele. Não dele. Ele é uma criança, só tem 12 anos de idade. Não tem meios ainda para perpretar violência contra ninguém. Ele é um garoto que tem uma vontade, ponto. E isso tem que ser levado em consideração. Agora, todo o resto não é de responsabilidade dele.

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Já ouvi que eu deveria desistir. Mas não sei o que é isso: como se desiste de brigar para estar perto de um filho? Eu não sei como se faz. Tanto não sei que estou há seis anos nisso (emociona-se). Se fosse simples assim, uma questão de ‘deixa para lá’, eu já tinha deixado. Dia 20 de março completaram-se três meses que meu filho está longe de casa, longe de mim. Espero que a justiça viabilize minha reaproximação do meu filho o quanto antes. Se existe alienação parental, que isso seja reconhecido. Espero que as pessoas reflitam e vejam que a maternidade está atravessada por muitas violências. Espero reencontrar meu filho, no sentido mais amplo que isso possa ter. Espero, um dia, quem sabe, me recuperar disso tudo. Mas não sei se vou conseguir.”

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O outro lado
Marie Claire ouviu o ex-marido de Renata e pai do menino, que não quis se identificar. Ele afirma, entre outras coisas, que ela se mudou filhos na calada da noite em 2013 sem avisar para onde tinham ido. Também diz que já vinham conversando há um tempo sobre a mudança do filho para Chapecó e que ela sabia que ele iria morar com o pai. Que, quando foi passar o fim de ano de 2018 na casa do pai, o garoto chegou a ficar alguns dias na casa da avó materna, em Teresópolis, antes de retornar para Chapecó. E que a mãe tinha sido informada em que escola ele tinha sido matriculado na cidade. Ele afirma ainda que o menino de 12 anos precisa ser ouvido.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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