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ESTILO DE VIDA “O príncipe encantado se transformava e queria me matar”

Saiu no site NOVA COSMOPOLITAN: 

 

Veja publicação original:    ESTILO DE VIDA “O príncipe encantado se transformava e queria me matar”

 

Solange sofreu agressão física e psicológica por 17 anos
Por Manuela Aquino

 

Solange Pires Revorêdo, 47 anos, sofreu agressão física e psicológica durante 17 anos. Quando conseguiu se libertar, montou uma página no Facebook para alertar outras mulheres e acabou criando uma rede de ajuda para vítimas como ela

 

“Um dia meu então marido chegou do trabalho e ficou irritado com o patinete dos meus filhos que estava fora do lugar. Começou a gritar, a dizer que eu era relaxada. Veio na minha direção, me empurrou e eu disse: ‘Larga de ser covarde, não faz isso, não vai começar’. Na hora que eu falei, ele já estava em cima de mim, eu encostada na pia da cozinha e sem ter como andar para trás. Ele me deu uma testada na cara. Quebrou o osso do meu nariz; começou a esguichar sangue como em um filme de terror. Meu filho mais novo, de 4 anos, viu tudo. Fiquei sem ar, desmaiei. Quando acordei, estava na sala já com roupa trocada e banho tomado. Nesse meio-tempo, em vez de me levar para o hospital, ele lavou a cozinha.

 

 

Conheci o Paulo* dentro de um ônibus quando tinha 23 anos. Eu ia todo dia da Baixada Fluminense para a zona sul do Rio de Janeiro trabalhar em uma loja. Fiquei desconfiada de um cara que estava perto de mim, achando que era assalto, só esperando que ele botasse a mão no meu braço e levasse meu relógio. Comecei a rir de nervoso e o cara de afastou. Paulo, que era policial, viu tudo e ficou observando de longe. No fim do trajeto, veio me dizer que iria reagir se o cara fizesse algo e me deu um cartão. Liguei para agradecer e combinamos de nos encontrar no Leblon, onde eu trabalhava. Saímos algumas vezes e logo começamos a namorar. Fomos morar juntos três meses depois. Ele tinha a casa montada, enxoval e tudo, pois sua noiva havia morrido. Para mim, foi paixão. Da parte dele, não tenho certeza. Acho que sentia falta da noiva e precisava de alguém — ele ainda chorava por ela.

 

 

Após seis meses juntos, Paulo me bateu pela primeira vez. Fomos a uma festa na casa da mãe dele. Em determinado momento, ele sumiu e fui encontrá-lo dançando com a empregada em um quartinho. Vi aquela cena e pensei: ‘Poxa, não preciso passar por isso. Não tenho que me sujeitar. Já estou vivendo com um homem que não gosta de mim’. Desci, peguei minhas coisas e fui embora. Ele foi ao ponto do ônibus atrás de mim e falou: ‘Volta agora’. Falei: ‘Não, não vou voltar’. Aí, o Paulo me pegou pelo braço e me levou para a casa da minha sogra, me enfiou no quarto dela e me bateu lá mesmo. Naquele dia, foi muito soco, muito tapa, golpes na cabeça, chutes. A família inteira ouviu e ninguém fez nada. Eu não sabia, mas a minha sogra apanhava do meu sogro. E me disse: ‘Você sabe como ele é. Por que foi provocar?’ No dia seguinte, estava tudo aparentemente normal, ele fingiu que nada tinha acontecido, me tratou com o maior carinho. Ali já percebi que não seria fácil sair daquele relacionamento.

 

 

Depois de um ano e pouco, ele me persuadiu a não trabalhar dizendo que eu gastava quase tudo com passagem, que não valia a pena. Ele tinha um salário bem maior, era dez anos mais velho e acabou me convencendo. Também não gostava que eu visse minha família nem que eu tivesse amizades. Eu cuidava da casa e ele tinha mania de organização, tudo tinha que estar muito limpo. Se um prato estivesse fora do lugar, ele ficava irritado e brigava. Continuou a me bater, mas não me lembro quando foi a segunda vez. Apaguei a sequência de brigas… Afinal, foram 17 anos nesse relacionamento. Anos depois, quando fui fazer terapia, eu e a psicóloga descobrimos, através de um gráfico da violência sofrida, que o Paulo me batia, em média, a cada três meses, e sempre era quase como se fosse me matar. Depois vinha a lua de mel e todo aquele ciclo pelo qual as vítimas de violência passam. Achava que tinha condições de mudar a situação. Pra mim, casamento era para sempre.

 

 

 

 

 

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