Saiu no MEON
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As geladeiras estão vazias, há roupas jogadas para todos os lados, os banheiros estão nojentos, poeira está impregnada em todos os lugares, bebês com fomes chorando desesperados, idosos deixados à deriva, sem perspectiva. Saindo para a rua nos deparamos com as escolas praticamente vazias, as crianças andando pelas ruas sozinhas brincando desgovernadas, será que foram para a aula?
No entanto, mesmo com alguns setores estagnados, as empresas seguem funcionando, o banco, o governo, as máquinas, e ainda assim a sensação é de que a vida simplesmente parou. O que é isso? Você deve estar se perguntando, The Walking Dead ao vivo se apoderando de nossos olhos?
Não, te asseguro que isso está bem longe de um apocalipse zumbi, mas esse cenário catastrófico poderia acontecer se um dia as mulheres acordassem e espontaneamente resolvessem desistir de fazer o que fazem todos os dias: Cuidar.
Com o passar dos anos, as máquinas foram substituindo pouco a pouco a força produtiva de trabalho. No entanto, há algo em nossa vida que é insubstituível, inigualável e mesmo com toda tecnologia do mundo, um algoritmo nunca conseguirá exercer, que é a função de zelar e de se preocupar com o próximo. Afinal, o cuidado traz para o ser humano a essência do que ele é e isso a máquina não pode roubar.
Por isso, que a pauta de hoje é verdadeiramente a revolução das máquinas, é o momento em que as mulheres questionarão e entenderão que aquilo que elas fazem não é automático, não é natural e sim, parte da maior economia do mundo, a que vamos falar nessa matéria: A Economia do Cuidado.
Antes de tudo, é muito importante destrincharmos os termos para que dessa forma, possamos compreender a essência dessa economia. Assim, dos quatro tópicos que iremos abordar, vamos começar com o cuidado.
Estão preparados? Vamos lá!
1. O que é Cuidar?
Cuidar é uma palavra derivada do latim cogitare “pensar, cogitar”. Que significa proteger, defender e trazer o cuidado em forma de ação.
Na atualidade, esse verbo se tornou notável por todos em nossa sociedade, pois em decorrência da pandemia, pessoas e serviços que se dedicam em cuidar. Ou seja, zelar pela saúde própria e da pessoa amada se fez essencial para a preservação de várias vidas.
Para algumas pessoas, esse período de reclusão trouxe a experiência de lidar com cuidado de crianças e idosos, além da cautela na compra de alimentos, dedicação em prevenir doenças com uma alimentação saudável, prestar conta da educação dos filhos, atividades domésticas intensas, dentre outros afazeres, sete dias por semana sem pausa. Algo que geralmente já é praticado majoritariamente por mulheres e que muitas vezes denominamos: mães.
Historicamente, as mulheres sempre desempenharam as funções de cuidado na família. A mais de um século elas adentraram no mercado de trabalho e seguiram reproduzindo o papel de zelo que elas executam dentro de casa. Dessa forma, elas desenvolveram profissões que são predominantemente femininas como enfermeiras, professoras, babás, cuidadoras de idosos, assistentes sociais e outras.
De acordo com Sant’Anna, (2021) as mulheres estão ligadas cada vez mais ao setor terciário da economia – comércio e serviço – que tradicionalmente tem um valor menor de remuneração e por conta do números de horas dedicadas em casa, em regra cuidando das pessoas da família, forma-se um ciclo vicioso que inicia e termina no mesmo lugar, que é na função de cuidado da mulher.
Para Federici (2019), a partir do momento que o “feminino’’ se tornou sinônimo de “dona de casa’’, as mulheres carregam a identidade da “dona de casa’’ e as “habilidades domésticas’’. Assim, esse fenômeno impacta diretamente no mercado de trabalho, onde as funções predominadas por mulheres são uma extensão do trabalho doméstico.
Em decorrência desse excesso de carga laboral desempenhadas por elas, principalmente durante a pandemia, traz instantaneamente a terminologia pouco conhecida e extremamente relevante que tem sido pauta das organizações e lideranças femininas de todo o mundo que é a Economia do Cuidado.
Dessa forma, já que agora já sabemos sobre o verbo cuidar, vamos para o segundo termo que é a economia.
2. O que é Economia?
No primeiro momento, é muito importante entender o conceito de economia, afinal, nos dias atuais, temos acesso a diversos conceitos vinculados a esse termo como a economia tradicional, criativa, colaborativa, sustentável dentre muitas outras que existem pelo mundo.